O Encontro de Evangelista com o Saci Perere (Baseado em Fatos Reais)
O Encontro de Evangelista com o Saci Pererê
(Baseado em Fatos Reais)
Sempre falam por ai
Que o Saci nunca existiu
Que tudo isso é lenda
Nem um homem ainda viu
Tal negrinho sem a perna
Corredor que não caiu
Eu tinha só quatro anos
Quando tudo ocorreu
Fugi pra não tomar banho
E o Saci me escondeu
Me tornando invisível
Eu juro que aconteceu
Minha irmã Nilza malvada
Usava uma escovinha
Pra tirar toda sujeira
Que as unhas escondia
Era moleque chorando
No banho de todo dia
O Pedro era mais velho
Sempre fomos companhia
Fugia de tomar banho
E aquela escova temia
Neste dia foi primeiro
Demonstrando valentia
Quando o banho começou
Foi grito por todo lado
A escova escorregava
Na sujeira do pelado
O bicho saiu limpinho
Vermelho todo ralado
Eu era meio magrelo
Que o osso já se via
Andando sempre descalços
Que meu pé mais parecia
Um solado de botina
Nem com prego me feria
Quando escutei aquele grito
Minha irmã disse outra vez
Vem que chegou tua hora
Que da escova se desfez
Vou dar um banho mais leve
Pra você ficar freguês
Minha pele estava escura
Com a sujeira grudada
De um dia inteiro de arte
Não pode ser retirada
Com uma buchinha mais leve
Tal promessa é uma furada
Eu sai em disparada
Sem saber o que fazer
Pois já era quase noite
Logo ia escurecer
Com tanto medo da escova
Resolvi me esconder
Eu fui logo me escondendo
Atrás de uma chaminé
Que ficava na calçada
Pro fugão fazia pé
Porém por ali passaram
Mas ninguém se deu por fé
Acho mesmo que o Saci
O seu encanto lançou
Pois eu estava invisível
Que ninguém me enxergou
Passaram bem do meu lado
Por pouco não me pisou
A família procurava
Pai e mãe desentendia
Na certa matou o menino
Desse jeito ela dizia
O Jeep passou por cima
Com esta sua correria
O meu pai já foi negando
Tão dolorosa acusação
Ele estava do meu lado
Não faltei com atenção
Fui dar cana para o gado
Se o pobre foi pisado
A Deus Pai peço perdão
Meu filho é tão amado
Ele vai ser encontrado
Eu falo com devoção
Minha família só chorava
De desespero e agonia
Me procuravam pelo pasto
Da luz de vela valia
Lamparina e lampião
Qualquer coisa que acendia
Eu era muito medroso
Qualquer visão me assustava
Se falasse em assombração
Meu corpo já arrepiava
Portanto naquele dia
Coragem não me faltava
O tempo passou depressa
Meia noite já chegava
Era só galo cantando
Em melodia ensaiada
Eu ali achando graça
De tudo que se passava
Uma multidão de vizinhos
Cansada já se encontrava
Procuravam o meu corpo
No meio da invernada
Pensando que alguma vaca
Nos chifres me carregava
Foi ai que uma prima
Que muito de mim gostava
Viu a porta do banheiro
Que por dentro se trancava
Ali eu eu tremia de frio
Pois pelado ainda estava
Um banho bem no capricho
Eu já havia tomado
Me salvei daquela escova
Que tinha me judiado
Me tornei independente
Para banho emancipado
Meu pai me pegou nos braços
Eu pensei to bem lascado
Temia aquela que de uma surra
Me fizesse condenado
Porém me deu um abraço
Dizendo está perdoado
Eu corri de colo em colo
Chorando de alegria
Pois tinha ido muito longe
É certo que eu nem sabia
Que o que eu fiz foi tão errado
Causando aquela agonia
Quando meu pai perguntou
Por onde eu tinha andado
Eu disse que na chaminé
Tava aqui bem encostado
Não sei como não me viram
O Saci estava ao meu lado
Quando falei no Saci
Deixei o povo assustado
E logo já fui dizendo
Que havia negociado
Uma boiada inteira
Com tal negrinho aleijado
No meio da confusão
Por alguém já foi lembrado
Que Haroldo meu irmão
Com o Saci tinha encontrado
Ficando com tanto medo
Do tal negro ali citado
Com 17 anos de idade
Demonstrou sua valentia
Caminhando em noite clara
Do seu lado logo via
Um negrinho sem a perna
Que seu caminho percorria
Foi logo engolindo a língua
Quase morreu afogado
O medo que foi tão grande
O pobre deixou borrado
Parece que o Saci
Andava pra aquele lado
Hoje chegando aos 40
Aqui preciso contar
Essa história verdadeira
Que ocorreu em Tangará
No estado de Mato Grosso
Mas não posso comprovar
Meu encontro com o Saci
Fica aqui bem registrado
Eu só tinha quatro anos
Mas tal fato está gravado
No fundo da minha mente
Pra nunca ser apagado
Hoje percorro a ciência
E não encontro explicação
Para o fato aqui narrado
Mas prestem bem atenção
Um menino não se esconde
Aos olhos da multidão
O meu irmão está vivo
Com saúde pra contar
Que encontrou mesmo o Saci
E não quer mais encontrar
O tal negrinho mesmo existe
Não faz mal, só quer brincar
Deixo aqui o endereço
Em forma de poesia
Na fazenda Santa Fé
Tal negrinho aparecia
Não causando nenhum mal
Só arte que ele fazia