ESSE CORDEL ARROTADO É PORQUÊ EU COMI LETRA!
De tanto que escrevi
Fui perdendo a inspiração
Chega dá formigação
Na hora que vou dormir
Tentando me redimir
Pego papel amassado
Depois de bem mastigado
Mando tudo à cachuleta
Esse cordel arrotado
É porquê eu comi letra!
Sem medo de empanturrar
Já comi um dicionário
Que eu tinha em meu armário
Que era pra eu estudar
Como fiquei sem rimar
Peguei e fiz bem grelhado
Comi com suco gelado
Pois a coisa ficou preta
Esse cordel arrotado
É porquê eu comi letra!
Atrás da composição
A gente faz de um tudo
Com medo de ficar mudo
O jeito é embromação
Sem ser bom na invenção
Comi livro encadernado
Com histórias de Machado
Que achei na minha gaveta
Esse cordel arrotado
É porquê eu comi letra!
Certo dia no quintal
Veja só que arrumação
Não foi da televisão
Mas eu comi um jornal
De abrangência nacional
Nesse fiquei bem assustado
Comendo os classificados
Do tal Jornal A Gazeta
Esse cordel arrotado
É porquê eu comi letra!
Já comi Veja, a revista
Gibi, do grande Mauricio,
Pois grande é o meu vício
Em querer ser cordelista
Estou fazendo uma lista
Das obras já degustado
Tem até psicografado
Por um médium bem porreta
Esse cordel arrotado
É porquê eu comi letra!
Os cordéis de Zé Limeira
Patativa do Assaré
Acreditem quem quiser
Depois de lido na feira
Mandava pra frigideira
Igual um ovo estalado
Até Folha do Estado
Não sobra nem caderneta
Esse cordel arrotado
É porquê eu comi letra!
Já foi tanto o desespero
Que já comi a Playboy
A garganta até dói
Pelo tão forte tempero
Um dia lá no terreiro
Vi panfletinhos jogado
Comi tudo bem assado
Igualzinho à costeleta
Esse cordel arrotado
É porquê eu comi letra!
Já comi monografia
De tese, dissertação
Trabalho de conlusão
De curso de Biologia
Mapas de Geografia
Bíblia, O Livro Sagrado
Pra ficar bom meu rimado
O melhor desse planeta
Esse cordel arrotado
É porquê eu comi letra!
Comi livro de auto-ajuda
Uns do autor Paulo Coelho
Das barbas sobrou pentelho
Já me banhei com arruda
Para ver se isso muda
Mas se vejo do meu lado
Restos de papel picado
Asso tudo na roleta
Esse cordel arrotado
É porquê eu comi letra!
Já na minha escrivaninha
Eu como os meus rascunhos
Dos textos feitos à punho
Eu fiz sopa de letrinha
Comi ela bem quentinha
E como eu sou guloso
Comia tudo de novo
E se aumentar meu pranto
Tome cuidado, meu povo,
Ou eu como o teu recanto!
Nesse dia do poeta, quero dedicar esse cordel aos grandes poetas e poetisas do recanto, principalmente os grandes cordelistas que aqui conheci e lendo-os estou aprendendo à brincar de fazer cordel, uma das minhas paixões, que vai além da leitura. Meu abraço à todos!
Edilson de Oliveira, 20 de outubro de 2011
Interação do meu amigo Jacó Filho:
Hoje meu tempo é curto,
Os nervos uma espoleta...
Além disso, já caduco,
Não ando mais de lambreta...
Mas sendo homenageado,
A amizade se estreita...
Você um jovem letrado,
E eu um poeta besta...
Esse cordel arrotado
É por que eu comi letra!
Interação do meu amigo JJ Braga Neto:
Parceiro de Mato Grosso
que bela degustação
mais velho quero avisar
cuidado c'o a digestão
tem coisa que se comer
o treim embucha e nao desce
sal de fruta e sonrisal
nao vão socorrer você
é por isso que te digo
jamais coma meu amigo
o ESTATUTO DO PT.
Interação do meu irmão e amigo Edvagner:
Dessa arte, pouco entendo
Mas pra isso degusto uns jornais
Passo a língua num pudendo
Meto o dedo nos anais
Com notas não me identifico
Porém, abre a cachuleta
Me esfrego num artigo científico
Impresso ou a caneta
Esse cordel arrotado
É porque eu comi letra.
Interação do poeta João Félix:
Pra escrever um cordel
Tem que ter inspiração
Uma caneta na mão
Ou um lápis e papel
Depois faça um coquetel
De rimas metrificadas
Coloque umas colheradas
De humor bem caprichado
Neste cordel arrotado
Mi'as letras são mastigadas.