CORDEL: E QUEM SOU EU AFINAL?
E QUEM SOU EU AFINAL?
Baseado em uma das crônicas de Luiz Fernando Veríssimo.
Nesta altura da MINHA vida
Já não sei mais quem sou eu....
Vejam só esse dilema!!!
Em que o mundo me meteu
Com mais de cinqüenta anos
Minha identidade morreu.
Numa ficha duma loja
Sou chamado de CLIENTE,
No restaurante FREGUÊS,
Nos correios, REMETENTE,
Diante de tantos nomes
Vou ficando impotente.
Quando alugo uma casa
Me chamam de INQUILINO,
Na condução, PASSAGEIRO,
Brincando, sou um MENINO
Com tantos nomes assim
Não sei qual o meu destino.
Se vou ao supermercado,
Me chamam CONSUMIDOR.
Se não pago o imposto
Me chamam SONEGADOR.
Mas em comícios, sou MASSA.
Pra votar, sou ELEITOR.
Se vendo algo importado
Me chamam CONTRABANDISTA.
Na rua, eu sou PEDESTRE,
Em viagens, sou TURISTA,
Mas se deixo de pagar
Me chamam de VIGARISTA.
Porém se o carnê de compras
Tá com o prazo vencido
Sou mais um INADIMPLENTE,
Se não pago sou BANDIDO
Todos esses pseudônimos
Me deixam muito ofendido.
Se sofro um acidente
Ou se sou atropelado
E for para um hospital
Me chamam ACIDENTADO
Pelo o médico ou enfermeira
PACIENTE, sou chamado.
Nos jornais, eu sou a VÍTIMA,
Se compro um livro, LEITOR,
Se ouço rádio, OUVINTE.
Se escrevo, um escritor
Para a televisão
Sou um TELESPECTADOR.
No campo de futebol
Me transformo em TORCEDOR.
Como sou corintiano,
Me chamam de SOFREDOR.
Para o Ibope eu sou
Apenas ESPECTADOR.
Na Receita Federal
Sou mais um CONTRIBUINTE,
Em um debate político
Não passo de um OUVINTE
Mas pra mim, sou cidadão
Respeitado, de requinte.
Quando eu revendo algo,
Me chamam de MUAMBEIRO,
Se eu assisto novelas
Sou chamado NOVELEIRO
Se rezo pra algum santo
Sou tachado de ROMEIRO.
No show, já virei GALERA.
Com meu carro, MOTORISTA
Com a minha bicicleta
Sou chamado de CICLISTA
Na vida, o brasileiro
Tem que ser sempre um artista.
Um dia quando eu morrer
Vão me chamar de DEFUNTO
Uns dirão que sou FINADO,
Pro povão serei PRESUNTO
Pra outros eu fui EXTINTO,
Só assim, eu viro assunto.
Pros espiritualistas
Eu serei... DESENCARNADO,
Evangélicos dirão
Que eu fui... ARREBATADO...
Para mim, que sou católico
Por Jesus, vou ser chamado.
O pior, eu não contei
Por isso ninguém ouviu
Para todo governante
Não passo dum IMBECIL
Por isso, eu sou mais eu
Nesse mundo tão hostil.
C aro leitor, meu amigo
A gora tô contentíssimo
R ecriei um texto de
L UIZ FERNANDO VERÍSSIMO
O brigado, companheiro
S er leitor é espertíssimo.