Ma rapái!... Cê pensa qui vida de pescadô é fáci?... Né não!... Óia, nessa vida da gente acuntece cada coisa, qui o cabra vê acontecê e, mêrmo assin, num aquerdita!
É cuma dizia finado meu pai, saudoso Seu Geraldo Capotêro: Ele falava bem anssin: “Acuntece cada uma, qui inté parece duas!” E é mêrmo!
Purinzêmpo, cê aquerdita qui um pescadô pode passá um ano intirin transformado num pêxe, e morano dento de uma lagoa?...
Querdita não? Pois isso já aconteceu cumigo. Eu nem gosto de contá êsse causo não, purque o povo fala qui é mintira. Mai... se ocê qué iscutá... eu conto.
Mai, inhântes de contá, eu quiria dedicá esse causo pro Meu Cumpade Damião Metamorfose, lá do Rio Grande do Norte! Ele qui, além de pueta e violêro, é pescadô tomém!
Antão, cê se acomoda aí, toma um cafizin, porva um pedacin desse quêjo, qui incontiss, eu vô contá procê...
O Causo do Pescadô Qui Virô Pêxe.
Seu môço, o povo tem
Suas crença e tradição.
Uma bêsta, ôtas séra,
É mió prestá atenção.
E delas, vô distacá:
“Num pode pescá, nem caçá,
Sêxta Fêra da Paxão”.
Já num é segredo não,
O causo de João Jiló.
Qui, nêsse dia caçô
Um preá e dois mocó.
E, pru todos é sabido
Qui o caçadô rifirido
Cabô levano a pió!
Eu era môço e, sem dó,
Pescava era todo dia!
Dia santo, consagrado,
Deferênça num fazia.
A fissura era tanta,
Qui inté Sexta Fêra Santa,
Eu tava na pescaria!
Dos cumpanhêro eu ovia:
Minino, faiz isso não!
Arrespêita Dia Santo,
Guarda fé e devoção!
Mi dizia meus amigo:
Si cuida, qui o castigo
Vem batê na sua mão!
Mai eu num dava atenção,
Qui o orgúio num dexava.
Nos Dia Santo de Guarda,
Era aí qui eu mais pescava!
Até qui um dia, Sêo Môço,
Eu topei foi cum o carôço
Da fruta qui eu mastigava!
Nêsse dia eu istava
Na Lagôa do Capão.
Era Sêxta Fêra Santa,
E o pôvo, nas procissão.
Eu, na bêra da lagôa,
Boa isca, pinga bôa,
Só sonhano cum um pexão!
Mai os pêxe num vinha não,
Tava duro, biliscá!
Eu tomava ôta pinga,
A móde pudê isperá.
Aderrepente, eu falei:
Hoje, aqui, pru quarqué lei,
Um dos grande eu vô pescá!
Num acabêi de falá,
E uma vóiz eu iscuitei:
Uma vóiz mansa e suáve,
Qui eu pôco mi assustei.
A vóiz disse: Oh, Mané,
Cê fala “Se Deus quizé”,
Ô antão, para no mêi!
Eu respondi: - Já parei
Foi de iscuitá bestêra!
Eu levo um pêxe daqui,
Hoje, de corqué manêra!
Vai-te imbora, bruxaria,
Mi dêxa in paiz, mi alivia,
Qui eu num tô pá brincadêra!
A vóiz mi disse: - Oh, lezêra!
Cê tá caçano aranzé?
Dia Santo num se pesca,
Pois consagrado ele é!
Mai, se ocê qué pescá,
Para um pôco, pá pensá,
E diga: Se Deus quizé!
- Num digo, e laiga meu pé,
Sinão, eu pêrco a paciênça!
Cê chega no meu zuvido
Sem cunvite e sem licença!
Num vem pra cá cum bobage,
Qui eu num respeito vizage,
E nem li dêvo obidiênça!
A vóiz disse: - E ocê pensa
Quéssas coisa assim qui é?
Ocê tá muito inganado,
Tá percisano tê fé.
Eu já pidi duas vêiz,
E agora mando, nas trêiz,
Cê fala “Se Deus Quizé”!!!
Rapa fora, Gargamé!
Eu já arrespondi zangano!
Tô pescano sussegado,
E ocê me atazanano?
Num falo é nada de nada,
E ocê, Arma Penada,
Vái logo se arretirano!
E, dispôis, fui compretano:
Ocê se dê o respeito!
Ora, vê si num atrapáia,
Qui o qui tá feito, tá feito!
Deus quereno, eu vô pescá,
Mai se Ele num qué, destá,
Qui eu pesco do mêrmo jeito!
Cumpade, sô bão sujeito,
Num gosto de mintí não.
O qui eu lhe conto é verdade,
Ocê ôiça cum atenção.
A Vóiz mi disse: Tá certo,
Seu "Pescadô Muntho Isperto",
Toma aqui tua lição:
Nessa hora, meu patrão,
Meu côipo si dimudô.
Criei iscama na pele,
E meus dois ói istufô!
Os braço era nadadêra
As perna se foi, intêra,
Num sei qui fim qui levô!
E a Vóiz, antão, falô:
Pra qui o orgúio ti dêxe,
Pra qui tenha inducação,
E a fé ti venha, in fêxe,
Eu istô ti transformano,
Na lagôa, pur um ano,
Ocê vai sê só um pêxe!
E num chore, num se quêxe,
Qui pudia sê pió.
Ocê já sabe o qui Eu fiz
Cum teu irmão, João Jiló.
Cê merece o qui ocê tem,
Eu vorto o ano qui vem,
Se ocê tivé mais mió!
Cumpade, cê veja só,
Eu, num pêxe transformado!
E ainda tava in terra,
Já quaje morreno sufocado.
Saí pulano, pra água,
A móde chorá as mágua,
Do que qui eu tinha aprontado!
Foi um ano cumpricado,
Vivê naquela lagôa.
Era tanto pescadô,
Era tanta isca bôa!
Sem contá os pêxe maió,
Mi prissiguino, sem dó,
Quem nun sabe é qui caçôa!
Iscundido nas tabôa,
Caçano, móde cumê,
Sintino mêdo de tudo,
Viveno nem sei pra quê,
Temeno sempe os pirigo,
Os pescadô, os inimigo,
Veno a hora de morrê!
Cumpade, vô lhe dizê:
A quilo né vida não!
A tár Vóiz num mi atindia,
Nem num mi dava atenção!
Assim vivi dôze mêiz,
Inté chegá, ôtra vêiz,
Sêxta Fêra da Paxão.
Nêsse dia, eu, antão,
Cheguei no mêrmo lugá
E gritei, chamano a Vóiz,
Móde vim mi libertá.
- Mi ajuda, Meu Sinhô,
Quem in Pêxe mi virô,
Pru favô, vem disvirá!
Já cansado de isperá,
De tardinha, Ela chegô.
Disse anssim: Só uma coizinha,
Ocê ainda num falô.
Eu preguntei: Quê qui é?
Cê fala “Se Deus quizé”,
Se seu orgúio acabô!
E Lhe disse: - Meu Sinhô,
Ocê me dá seu perdão!
Cê discurpa meu orgúio,
Minha farta de inducação.
Nunca mais eu bato o pé,
Mi sórta, ‘Se Deus quizé”,
E mi dá sua benção!
Nesse momento, um crarão
Cegô meus ói, e eu caí.
Drumi num sei quantas hora,
E, quano acordei eu vi:
Eu era gente ôtra vêiz
E agora, juro procêis,
Minha lição aprendi.
Nunca mai qui eu quis í
Pescá in dia guardado.
Sêxta Fêra da Paxão?
Vô mais não, qui tá amarrado!
E, pru mais que eu mi apretrêche,
Eu num nasci pra sê pêxe,
Quero não, muitho obrigado!
Agora, eu tou iscolado,
Já aprindi cumé qui é.
Eu já ispromentei castigo,
E num pêrco mais a fé.
In quarqué situação,
Eu me alembro da lição,
E falo: SE DEUS QUIZÉ!!!
Cê viu, Meu Cumpade? E inda tem gente qui diz quié mintira! Prestenção!...
Eu quero mandá aqui um abraço pro meu Cumpade Damião, e pra todos os poetas da Comunidade Metamorfose Cordel e Poesia, uma das mió Comunidade de Cordel do Orkut.
E quero tomém gardicê ocês tudo, qui tem visitado o Compadre Lemos Pontocom.
E óia, amanhã, ocês vorta, viu? Trata de vortá, porque amanhã tem mais!
É cuma dizia finado meu pai, saudoso Seu Geraldo Capotêro: Ele falava bem anssin: “Acuntece cada uma, qui inté parece duas!” E é mêrmo!
Purinzêmpo, cê aquerdita qui um pescadô pode passá um ano intirin transformado num pêxe, e morano dento de uma lagoa?...
Querdita não? Pois isso já aconteceu cumigo. Eu nem gosto de contá êsse causo não, purque o povo fala qui é mintira. Mai... se ocê qué iscutá... eu conto.
Mai, inhântes de contá, eu quiria dedicá esse causo pro Meu Cumpade Damião Metamorfose, lá do Rio Grande do Norte! Ele qui, além de pueta e violêro, é pescadô tomém!
Antão, cê se acomoda aí, toma um cafizin, porva um pedacin desse quêjo, qui incontiss, eu vô contá procê...
O Causo do Pescadô Qui Virô Pêxe.
Seu môço, o povo tem
Suas crença e tradição.
Uma bêsta, ôtas séra,
É mió prestá atenção.
E delas, vô distacá:
“Num pode pescá, nem caçá,
Sêxta Fêra da Paxão”.
Já num é segredo não,
O causo de João Jiló.
Qui, nêsse dia caçô
Um preá e dois mocó.
E, pru todos é sabido
Qui o caçadô rifirido
Cabô levano a pió!
Eu era môço e, sem dó,
Pescava era todo dia!
Dia santo, consagrado,
Deferênça num fazia.
A fissura era tanta,
Qui inté Sexta Fêra Santa,
Eu tava na pescaria!
Dos cumpanhêro eu ovia:
Minino, faiz isso não!
Arrespêita Dia Santo,
Guarda fé e devoção!
Mi dizia meus amigo:
Si cuida, qui o castigo
Vem batê na sua mão!
Mai eu num dava atenção,
Qui o orgúio num dexava.
Nos Dia Santo de Guarda,
Era aí qui eu mais pescava!
Até qui um dia, Sêo Môço,
Eu topei foi cum o carôço
Da fruta qui eu mastigava!
Nêsse dia eu istava
Na Lagôa do Capão.
Era Sêxta Fêra Santa,
E o pôvo, nas procissão.
Eu, na bêra da lagôa,
Boa isca, pinga bôa,
Só sonhano cum um pexão!
Mai os pêxe num vinha não,
Tava duro, biliscá!
Eu tomava ôta pinga,
A móde pudê isperá.
Aderrepente, eu falei:
Hoje, aqui, pru quarqué lei,
Um dos grande eu vô pescá!
Num acabêi de falá,
E uma vóiz eu iscuitei:
Uma vóiz mansa e suáve,
Qui eu pôco mi assustei.
A vóiz disse: Oh, Mané,
Cê fala “Se Deus quizé”,
Ô antão, para no mêi!
Eu respondi: - Já parei
Foi de iscuitá bestêra!
Eu levo um pêxe daqui,
Hoje, de corqué manêra!
Vai-te imbora, bruxaria,
Mi dêxa in paiz, mi alivia,
Qui eu num tô pá brincadêra!
A vóiz mi disse: - Oh, lezêra!
Cê tá caçano aranzé?
Dia Santo num se pesca,
Pois consagrado ele é!
Mai, se ocê qué pescá,
Para um pôco, pá pensá,
E diga: Se Deus quizé!
- Num digo, e laiga meu pé,
Sinão, eu pêrco a paciênça!
Cê chega no meu zuvido
Sem cunvite e sem licença!
Num vem pra cá cum bobage,
Qui eu num respeito vizage,
E nem li dêvo obidiênça!
A vóiz disse: - E ocê pensa
Quéssas coisa assim qui é?
Ocê tá muito inganado,
Tá percisano tê fé.
Eu já pidi duas vêiz,
E agora mando, nas trêiz,
Cê fala “Se Deus Quizé”!!!
Rapa fora, Gargamé!
Eu já arrespondi zangano!
Tô pescano sussegado,
E ocê me atazanano?
Num falo é nada de nada,
E ocê, Arma Penada,
Vái logo se arretirano!
E, dispôis, fui compretano:
Ocê se dê o respeito!
Ora, vê si num atrapáia,
Qui o qui tá feito, tá feito!
Deus quereno, eu vô pescá,
Mai se Ele num qué, destá,
Qui eu pesco do mêrmo jeito!
Cumpade, sô bão sujeito,
Num gosto de mintí não.
O qui eu lhe conto é verdade,
Ocê ôiça cum atenção.
A Vóiz mi disse: Tá certo,
Seu "Pescadô Muntho Isperto",
Toma aqui tua lição:
Nessa hora, meu patrão,
Meu côipo si dimudô.
Criei iscama na pele,
E meus dois ói istufô!
Os braço era nadadêra
As perna se foi, intêra,
Num sei qui fim qui levô!
E a Vóiz, antão, falô:
Pra qui o orgúio ti dêxe,
Pra qui tenha inducação,
E a fé ti venha, in fêxe,
Eu istô ti transformano,
Na lagôa, pur um ano,
Ocê vai sê só um pêxe!
E num chore, num se quêxe,
Qui pudia sê pió.
Ocê já sabe o qui Eu fiz
Cum teu irmão, João Jiló.
Cê merece o qui ocê tem,
Eu vorto o ano qui vem,
Se ocê tivé mais mió!
Cumpade, cê veja só,
Eu, num pêxe transformado!
E ainda tava in terra,
Já quaje morreno sufocado.
Saí pulano, pra água,
A móde chorá as mágua,
Do que qui eu tinha aprontado!
Foi um ano cumpricado,
Vivê naquela lagôa.
Era tanto pescadô,
Era tanta isca bôa!
Sem contá os pêxe maió,
Mi prissiguino, sem dó,
Quem nun sabe é qui caçôa!
Iscundido nas tabôa,
Caçano, móde cumê,
Sintino mêdo de tudo,
Viveno nem sei pra quê,
Temeno sempe os pirigo,
Os pescadô, os inimigo,
Veno a hora de morrê!
Cumpade, vô lhe dizê:
A quilo né vida não!
A tár Vóiz num mi atindia,
Nem num mi dava atenção!
Assim vivi dôze mêiz,
Inté chegá, ôtra vêiz,
Sêxta Fêra da Paxão.
Nêsse dia, eu, antão,
Cheguei no mêrmo lugá
E gritei, chamano a Vóiz,
Móde vim mi libertá.
- Mi ajuda, Meu Sinhô,
Quem in Pêxe mi virô,
Pru favô, vem disvirá!
Já cansado de isperá,
De tardinha, Ela chegô.
Disse anssim: Só uma coizinha,
Ocê ainda num falô.
Eu preguntei: Quê qui é?
Cê fala “Se Deus quizé”,
Se seu orgúio acabô!
E Lhe disse: - Meu Sinhô,
Ocê me dá seu perdão!
Cê discurpa meu orgúio,
Minha farta de inducação.
Nunca mais eu bato o pé,
Mi sórta, ‘Se Deus quizé”,
E mi dá sua benção!
Nesse momento, um crarão
Cegô meus ói, e eu caí.
Drumi num sei quantas hora,
E, quano acordei eu vi:
Eu era gente ôtra vêiz
E agora, juro procêis,
Minha lição aprendi.
Nunca mai qui eu quis í
Pescá in dia guardado.
Sêxta Fêra da Paxão?
Vô mais não, qui tá amarrado!
E, pru mais que eu mi apretrêche,
Eu num nasci pra sê pêxe,
Quero não, muitho obrigado!
Agora, eu tou iscolado,
Já aprindi cumé qui é.
Eu já ispromentei castigo,
E num pêrco mais a fé.
In quarqué situação,
Eu me alembro da lição,
E falo: SE DEUS QUIZÉ!!!
Cê viu, Meu Cumpade? E inda tem gente qui diz quié mintira! Prestenção!...
Eu quero mandá aqui um abraço pro meu Cumpade Damião, e pra todos os poetas da Comunidade Metamorfose Cordel e Poesia, uma das mió Comunidade de Cordel do Orkut.
E quero tomém gardicê ocês tudo, qui tem visitado o Compadre Lemos Pontocom.
E óia, amanhã, ocês vorta, viu? Trata de vortá, porque amanhã tem mais!
Fraterno abraço,
♦ Compadre Lemos.
♦ Compadre Lemos.