JORNAL DE ONTEM

Indiferente como a lage fria

A lápide discrimina

E remove a energia

O carro da polícia

Socorre

Injeta medo e euforia

Na outra esquina

a pedra tumular

Vai te submeter, te atropelar

O pó da ira

E da melancolia

Põe um freio em tua fé

E poda a planta do homem

Que sonhaste ser um dia

Do outro lado

Da rua

Vem uma notícia

Embrulhada no jornal

Do dia anterior

Com manchete de tragédia

O sangue vira uma pasta

Se transforma em comédia

e empapa o cobertor

Semeia o frio

No mesmo pano

Que à noite foi em busca de calor

Na mesma marquise

Em que dormia

Em que curava com o pó

A desventura da noite

Que nunca vira dia

Jogado pela sarjeta

Do banco que te assaltou

O homem de gravata

Que chamaste de doutor

Mostra um código penal

Uma sílaba da lei

Cortante como um punhal

Vai, se vira

Foge, preto

Apanha o velho jornal

Agora o último recurso

É preparar teu funeral.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 06/10/2011
Código do texto: T3261842
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