o menino encapetado
Não pense que é mentira
O que vou dizer aqui
Pois minha religião
Me proibiu de mentir
Sou um poeta amador
Pra fazer versos nasci
Pense em tudo que fala
Não fale tudo que pensa
Não importa a religião
Nem sua fé sua crença
Se falar o que não deve
Tu terás a recompensa
Este aqui é um exemplo
Pra quem conversa de mais
A mulher estando grávida
Perguntaram ao seu papai
Você quer homem ou mulher?
Pode vir o satanás
E se arrependeu da hora
Que falou esta heresia
Pois não sabia o pecado
Que contra a Deus cometia
Desse momento pra cá
Nunca mais teve alegria
Pois a mãe ouvindo aquilo
Ficou em grande pavor
Dentro de sua barriga
O bebe estrebuchou
Duas horas mais ou menos
A dor do parto chegou
Saíram apavorados
Chegaram a um hospital
Nasceu de parto Cesário
Mas tinha algo anormal
Ele já tinha comido
O cordão umbilical
Nasceu bem na madrugada
Pertinho do amanhecer
Era muito diferente
Que só se vendo pra crer
E no dia do seu parto
O bairro todo foi ver
Os dois olhos arregalados
Parecia um caboré
As pernas tortas e finas
Quase no meio do pé
Nas costa um grande serrote
igualzinho um jacaré
O doutor disse pra mãe
Ele é muito diferente
Perguntou ela, E o que é?
Ele meio sorridente
Leve o bichinho pra casa
Se andar em pé é gente
Na casa do dito cujo
O povo fez romaria
Para ver a criatura
Era de noite e de dia
Masquando via a criança
Todo mundo se benzia
Já nasceu com cinco dentes
Também com barba e bigode
A barbicha do moleque
Era igual à de um bode
Alguém disse, ele não mama.
Se eu der o peito ele morde
Cinco dias de nascido
E já queria falar
De cinco em cinco minutos
Tinha que alimentar
Menos de um litro de leite
Nem adiantava dar
Ora a mãe ficava brava
Ora ele achava graça
Ela dava uma chupeta
Mas ele só por pirraça
Rasgava tudo com o dente
E engolia a borracha
O pai comprou duas vacas
Pra sustentar o menino
O leite que as vacas davam
Ele bebia sozinho
Ainda ficava chorando
Querendo mais um pouquinho
Exclama o pai! Deus do céu.
O que é que vou fazer
Vou de matar as vacas
E dar pra ele comer
Pequena esta desse jeito
E quando ele crescer?
Com três meses de nascido
Já corria a casa inteira
Ele subia na cama
Pulava da cabeceira
E pra não cair de noite
Dormia em uma esteira
Com um ano de nascido
Já parecia um rapaz
Espancava seu irmão
Xingava a mãe e o pai
Ia dar muito trabalho
Pois já mostrava os sinais
Com dez anos de idade
Já era todo peludo
Parecia um lobisomem
Tinha o rosto carrancudo
Um dia matou um franguinho
E comeu com pena e tudo
Pergunta o pai ta com fome?
Ta com a barriga pequena
Quando olhou para seus dentes
Estavam cheio de pena
Sem contar que seu irmão
Presenciou toda a cena
Disse o outro assim:
Papai, meu irmão é canibal.
Ele pegou seu irmão
Quase matou com um pau
Depois correu pra cozinha
Comeu um quilo de sal
O pai e a mãe do menino
Estavam em grande pavor
Estava rezando no quarto
Quando o menino chegou
Pegou no braço do pai
Virou pra trás e quebrou
A mãe disse esse menino
Parece estar possuído
Ele foi pra cima dela
Já pronto de braço erguido
Nessa hora seu irmão
Já se encontrava escondido
Seu irmão de tanto medo
Tremia qual vara verde
Ele jogou sua mãe
De cabeça na parede
Mas o sal lhe fez efeito
Bateu lhe uma forte sede
O pai com o braço quebrado
Caído em baixo da cama
A mãe de lado gemendo
Sofreu quase uma semana
Ele bebeu toda agua
Que havia ali na choupana
Mas a agua que havia
Não foi o suficiente
Ele correu para um brejo
Com muita agua corrente
Bebeu dali toda agua
Quase secou a nascente
Desse dia em diante
Não voltou mais para casa
Nas costas dois objetos
Pareciam duas asas
Os olhos dele vermelhos
Bem mais vermelhos que brasa
Embrenhou-se numa mata
Bem densa da região
Vivia ali esse moço
Só fazendo assombração
Se escondia numa gruta
Bem no pé dum boqueirão
Só a noite ele saia
Para procurar comida
E tinha a barriga inchada
Igualzinho uma guariba
Entrou em um galinheiro
Comeu dois galos de briga
E assim continuava
Com sua fome voraz
Findaram-se os bichos do mato
Caça ali não tinha mais
Entrou em um cemitério
Pra comer restos mortais
E ali continuou
Com sua devastação
Comia crânio de gente
Desenterrando do chão
Se visse sangue comi
Até tabua de Caixão
No outro dia o coveiro
Viu aquele reboliço
Contou mais de vinte corpos
Que tomou chá de sumiço
Disse vale-me meu Deus
Ô meu padim padre ciço
Falou meu Deus é mistério
Ou coisa do outro mundo
Ou é castigo de Deu
Ou tentação do imundo
O nome desse coveiro
Era Joaquim corcunda
Disse já faz vinte anos
Que estou nesse cemitério
Nunca tinha visto aqui
Tão assombroso mistério
Estava tremendo de medo
Sentia-se meio aéreo
contnua na segunda parte.