DESABAFO PELO QUE É CERTO
Autor: Edson Neto
Vou mostrar nestes meus versos
A dor de sentir o peso
Do que vem acontecendo
Que no fim, me deixou leso
Falarei sem medo algum
De levar surra ou ser preso.
Se surgir algum processo
Vou ver, se dele me safo
Mas não vou deixar passar
De bater com meu sarrafo
Usando somente a boca
Expondo meu desabafo.
Podem me taxar de louco
Mal educado, importuno
Mas quero me revelar
Como sensato tribuno
Para falar a favor
Daquele que seja aluno.
Falam pela educação
Com papo que só enrola
Que por ouvir tanta coisa
Resolvi não dar mais bola
Por ver bastantes alunos
Sofrerem sem ter escola.
Estão nos comes e bebes
Também nos bebes e comes
Com banquetes e fortunas
Os mais afamados nomes
Como o nosso maior chefe
O Cid Ferreira Gomes.
Contrário de quem é pobre
Que nesta vida malogra
O nome que foi citado
Usa do poder e logra
Para Europa viajou
Num jatinho com a sogra.
Reclamo através dos versos
Por não ter alguém que puna
O governador por isto
Então digo na tribuna
Não faça do nosso imposto
Sua riqueza e fortuna.
Pensei do governador
Dele ter algum encosto
Pois teve a cara de pau
Em falar mostrando o rosto
Dizendo: quem quer dar aula
Executa isto por gosto.
Disse que pra ganhar mais
Ser bem assalariado
Todo professor devia
Pedir demissão do Estado
Daí fosse lecionar
Só no colégio privado.
Já não atende tão bem
No Estado de ponta a ponta
Quase toda escola pública
Faz coisa que nos afronta
Funciona sem dar aula
Semelhante um faz de conta.
Do que digo também provo
E sustento a acusação
Pois tenho dois filhos lá
Sofrendo desta questão
Numa dita escola pública
Que fica no Castelão.
Digo o nome dessa escola
Maria Gonçalves é
Tem a direção do Estado
Que parece não dá fé
Do seu mau funcionamento
Com qualidade ralé.
Posso até terminar mal
Por falar de quem tem grana
Com poder de me acusar
De denúncia leviana
Devido minhas palavras
Então me botar em cana.
Não suporto mais em ver
Como este negócio atua
Quando falta um professor
Não tem quem substitua
Fazendo que seus alunos
Fiquem jogados na rua.
Tem tanto noticiário
Que não fala tão exato
Porém quanto ao meu discurso
Não quero ser insensato
Caso alguém me repreenda
Podendo falar, rebato.
A classe dos professores
Que tem homem e mulher
Acharam de fazer greve
Declaro que foi mister
Pois os pais não podem dar
O que todo mestre quer.
Teve gente que falou
Para o conselho ser leve
Mas eu como pai de aluno
Recomendo que se deve
Que toda classe operária
Só vence, fazendo greve.
Partido PSB
Vejo que virou piada
Só tem de bom, o desenho
A sua grande fachada
Porque de socialista
Este daqui não tem nada.
Veja toda corriola
Os nomes apresentados
São bastante conhecidos
Exemplo dos deputados
São tucanos de verdade
Mas agora disfarçados.
No tocante aos professores
Pela greve que tem feito
Estão certos, pois defendem
O que a lei deu por direito
Já que está sendo negado
Não trabalhe deste jeito.
Não vejo como justiça
Partindo de gente culta
Vendo todo este descaso
Contra toda a classe adulta
Dos nossos sofridos mestres
Pela greve, pagar multa.
Contemplo tudo assombrado
Do jeito que a coisa vai
Uns com mais, outros sem nada
Só tendo que dizer Ai
Assim dói cem vezes mais
Quando alguém é mãe e pai.
Dia trinta de setembro
O jornal mostrou horrores
Do que se deu na Assembléia
Com os nossos professores
Mostrando os policiais
Batendo nestes senhores.
Quanta falta de vergonha
Do soldado e do mandante
Dar de pau no professor
Que tinha razão bastante
Para entrar lá na plenária
Ter lá seu representante.
A dita categoria
Também dos policiais
Um dia fizeram greve
Que nunca venha ter mais
Quanto aos professores foram
Bem pior cem vezes mais.
Nenhum mestre foi aceito
Por causa do desaforo
Argumentou o chefão
Defendendo o tal decoro
Sem contemplar essa classe
Ignorando seu choro.
Decoro devia ter
Porém lá só fazem guerra
Em prol do governador
Enquanto o povo se ferra
Votam por coisa do tipo
Daquilo que gato enterra.
Digo que jamais serei
Enganado pelos tais
Fora quatro deputados
No resto não voto mais
Que resulta em trinta e seis
Eleitos estaduais.
Vou ter que deixar meu bairro
Pois ele quer que retire
Tudo que tiver de casa
Nem ligam, caso eu pire
Pois já disseram assim
Amigo, você se vire.
Do que falou a pessoa
Já me fez cair em pranto
Exaltou a copa e disse
Vá procurar outro canto
Com aquilo que for dado
Sem passar mais deste tanto.
Choro por não ter poder
Quem me dera ser juiz
Sou garçom e cordelista
Na vida sou aprendiz
Então como não sou grande
Nisto aqui fui infeliz.
Peço para que se faça
Algo bom pela mundiça
Donde sou e por quem falo
Porém sem encher lingüiça
Faça triunfar a lei
Executando a justiça.
Estou certo e consciente
Que vai surgir desafeto
Venha ter mais inimigo
Porque fui muito direto
Mas agi desta maneira
Por considerar correto.
Desabafo em todo canto
Estando certo, não calo
Apenas vendo a maldade
Sem reclamar sinto entalo
Quem sabe se reclamando
Resolva, por isso falo.
De fato não sou doutor
Porém já sou cem por cento
Um cidadão que não abre
Não temo nenhum momento
Brigo pelo meu direito
Porque eu não sou jumento.
Sempre nós podemos ver
Gente com tanta doidice
Recebendo até prestigio
Pela sua invencionice
Que não tem valor, mas é
Só fruto duma burrice.
Nem sempre o direito vence
Ouça bem a minha rima
Tem quem zombe da justiça
Em ver isto desanima
Desobedece ao juiz
No pobre, passa por cima.
Não fique pensando em coisa
Por eu ter falado assim
Caso tenha exagerado
Nem me chame de ruim
Fiz isto para pedir
Que tenha pena de mim.
Agradeço a quem ouviu
Que leu este cordel brabo
Em manifestar assim
Meu tamanho desabafo
Mostrado desde o começo
Onde neste verso acabo.