gratidao

Neste livro eu tão somente

Vou tratar de agradecer

Primeiramente ao meu Deus

Por ter deixado eu nascer

E aos meus dois genitores

Pois com sofrimentos e dores

Fizeram assim eu crescer.

digo pra pai e pra mãe

Que sou muito agradecido

Por eles ter me gerado

E por eles ter me tido

Se não fosse sua dor

E dos dois aquele amor

Eu não teria nascido

A seu Vitor homem guerreiro

Vou descrever-lo em cordel

Derrubou mata a machado

Bebeu água no chapéu

Mas nunca foi difamado

Eu sei que Deus tem guardado

O seu cantinho no céu

Pai saia de manha

Com uma foice e um facão

Uma bota sete léguas

Um litro d’água na mão

A espingarda no ombro

Um remedado de pombo

Presa no seu curião.

E na capanga de couro

Ia toda munição

Chumbo pólvora e espoleta

Fumo de rolo dos bão

E bucha bem desfiada

Pra carregar a espingarda

Na hora da precisão

Porem antes da saída

Ele ia ao fogão

Soprava o fogo com a boca

Pra cozinhar o feijão

Dizia hoje vai Dito

E Elza fica mais Pito

Gorino fica mais Jão

Dito meu irmão mais velho

Trabalhador por demais

Respeitava minha mãe

E mais ainda meu pai

Sempre foi um sofredor

Porem muito lutador

Foi feito em minas gerais

Deixo meu pai por aqui

E falo doutra pessoa

É a minha genitora

Minha mae santa varoa

Pra não ver nós passar fome

E pra honrar o seu nome

Sempre pensou coisa boa

Mãe gerou quatorze filhos

Mas cinco, Deus recolheu

Julia Lurdes dito e pito

Nesta seqüência vim eu

Gorino Wilma e Silvano

Pito já ta noutro plano

Vivendo junto com deus

Ela chegava ao estremo

De tudo que imaginar

O dia todo na roça

E de noite ia pescar

Com balaio de cipó

Hoje me lembro da dó

Pra fome nos não passar

Pra não ir pescar sozinha

ia Julia e as amigas

Iam duas três ou quatro

Mesmo estando de barriga

Os homens iam por fora

Com os fachos de amora

Ou então de inhaiaba

Comprava roupa pra nos

Na mão de seu lorentino

A camisa vorto mundo

Que era um pano bem fino

Durava mais de dez anos

Mas quando ia encurtando

Dava pra outro menino

Ela arrancava mandioca

Também torrava farinha

Plantava milho e feijão

Criava porco e galinha

Lavava roupa de dia

Porem quando escurecia

Ela ia pra cozinha

Ela cozinhava peixe

Assava bucho na brasa

Frita piaba sequinha

Numa panela bem rasa

Com jeitinho milagroso

O cheiro era tão gostoso

Que espalhava na casa

E a galinha cozida

Que ninguém fazia igual

Baleia assada na trempe

Só temperada com sal

A farofa de dendê

Eu levava pra comer

Quando eu fazia o Mobral

A comida ela até hoje

Faz com carinho e amor

Pro patrão e pra patroa

Pro mendigo e pro doutor

Ela não faz distinção

Raça crença ou religião

Social sexo nem cor

Eu deixo aqui as comidas

Quero a você relatar

Outro fato corriqueiro

Mais é bem particular

Que comigo acontecia

Eu acho que merecia

Não posso nem reclamar

Pois eu tenho uma doença

Muito comum, acredite

Ela não faz distinção

De favelado a elite

Acho que é no pulmão

Não tem dó nem compaixão

É a maldita bronquite

Minha bronquite atacava

Que eu chiava igual gato

Três quatro dias de cama

Qual mulher depois do parto

Era de noite e de dia

Mas mãe com sabedoria

Corria logo pro mato

Era com sol ou com chuva

Ou relampo perigoso

Ela ia procurar

Um remédio milagroso

Ela rezava. eu garanto

Pra encontrar capim santo

Ou o santo fedegoso

Sob luz de candeeiro

Em um pavio enrolado

Ninguém podia dormir

Por causa do meu chiado

Minha mãe com paciência

Pedindo a deus por clemência

Amanhecia ao meu lado

Mas além desses remédios

Ela tinha devoção

Eu nasci no mês de junho

E também nasci negrão

Ela então idolatrava

E todo dia rezava

Para o santo são João

Três dias de sofrimento

O mais tardar quatro dias

Eu levantava da cama

Cambaleando saía

Mãe de joelho no chão

E com o terço na mão

A Jesus agradecia

Hoje depois dos quarenta

A ela eu tiro o chapéu

Para ela e pro meu pai

Que nunca foi num bordel

E fez seus filhos crescer

Eu sei que quando morrer

Deus vai levar para o céu.

Não posso deixar em branco

Deixo aqui este lembrete

Pois em todo mês de junho

Ela relembra o enfeite

A dona Elza guerreira

Não se esquece da fogueira

E da caixa de foguetes

Mas ainda tem mais coisas

Que não lembro no momento

Mas por Deus eu agradeço

A eles neste momento

Pra mãe eu quero falar

Deus ta olhando de lá

Do céu o sue sofrimento

Eu finalizo esta prece

À Deus pedindo perdão

Pelos erros cometidos

Pelas faltas aqui no chão

Peço a pai que me perdoe

E a mãe que abençoe

Seu filho amado João.

joãocorin
Enviado por joãocorin em 22/09/2011
Reeditado em 28/09/2011
Código do texto: T3234851