Digitando um cordel...

Quando estou de folga

Gosto de escrever no papel

Isso me empolga

Depois digito em cordel.

Sendo tipógrafo-paginador

Torna-se mais prático digitar

Aqui não uso o componedor

Gutenberg me faz lembrar.

Matrizes tipográficas era meu trabalho

Cursei no SENAI – bairro do Cambuci

A vida não era fácil de tanto malho

Enfim foi assim que aprendi.

Na escola ouvia a professora

Apolonia Carvalho Cruz dizer

Escreva em letra de forma

Fui numa tipografia pra conhecer.

Tipos de todos tamanhos e estilos

Tudo em caixas bem organizada

Cavaletes de madeira sem grilos

E muita matriz encima da bancada.

Especializei-me

Em montar matrizes

Cursei datilografia

Facilitou-me sem deslizes.

Recebia um rascunho de papel

Diziam que era boneco

Fac smile no corandel

Espetei-me a mão com um treco.

Não era treco na verdade

Era uma pinça metálica

Para sacar os caracacteres

Na rama gráfica estática.

Estática porque era

Parafusada na impressora

Todo dia usava uma serra

Cortando linotipo me socorra.

Às vezes á linotipadora

Chumbo derretido espirrava

Queimava a mão que zorra

Página pronta eu amarrava.

Qui scribit, bis legit

Quem escreve, lê duas vezes

No clichê usava rebite

Revista no prelo todos os meses.

As impressoras imprimiam

chupt, lépt, pláf era o som

Pilhas de papéis que sumiam

Mais um livro editado que bom.

O dono chegava fumando um charuto

Era sinal que ele estava contente

Caso contrário estava fulo

Chamava o chefe de incompetente.

Oitenta mil revistas

Estava a venda nas bancas

Clichê na capa as vistas

De ponta cabeça suas antas.

O revisor não percebeu

O clichê impresso invertido

A bronca no chefe ele deu

E assim ele foi advertido.

Revista pronta

Refazer tem jeito não

Saiu errado leva bronca

Enfim cuidado com a próxima edição.

Tangerynus
Enviado por Tangerynus em 21/09/2011
Código do texto: T3232708