AS AVENTURAS DE CHICO O MACAQUINHO FUJÃO
No Parque Treze de maio,
Em grande reunião,
Os animais reclamavam
Pela falta de atenção...
Depois dela concluída,
Resolveram que a saída
Seria a revolução.
Começou com o pavão,
Num discurso taxativo:
- Nós vamos partir pra guerra,
Pois não há paliativo.
- Com comidas estragadas
E jaulas enferrujadas,
Temos mais de um motivo.
- Há um barulho excessivo
Nessa praça em que vivemos,
E se não fizermos nada
Não ligam pro que sofremos.
Em locais inadequados
Nós vivemos maltratados
E somente nós sabemos.
- Por isso o que nós queremos,
Nessa movimentação,
É que partamos unidos!
(Aclamava o gavião),
Porque, além de enjaulados,
Ainda somos tratados
Com pouca alimentação
Chegou a vez do faisão
Que cochichou para a arara:
- Quem toma conta do Parque
Não tem vergonha na cara!
- Para essa coisa mudar,
Vamos nos organizar
E aí tudo se escancara.
- Vou chamar a capivara,
Que é muito desenrolada,
Para reunir os bichos
E partir pra luta armada...
- Depois de armar a revolta,
Toda ave a gente solta
Pra liderar a brigada.
- Essa estratégia é errada!
(As hienas reclamaram)
- As aves daqui não voam
E até já se acostumaram.
Pois além de outras tristezas,
Quando as mesmas foram presas,
As suas asas cortaram.
Os bichos se apavoraram
Quando se lembraram disso,
E a plenária pegou fogo,
Aumentando o rebuliço.
Não pensaram em ninguém,
Mas tinha que ter alguém
Pra fazer esse serviço.
- Ninguém pode ser omisso!
(Ouviu-se o alce falar)
- Temos que escolher um bicho
Para nos representar.
Algum que tenha coragem
Pra fazer essa viagem
E na cidade agitar.
O leão a discursar
Falou: aqui estou perto
Do nosso amigo macaco
Que é o bicho mais certo,
Pois ele, com sua graça,
Vai agitar essa praça
Porque pra isso é esperto.
- Com um macaco liberto
Todo mundo se apavora.
Por isso, compadre Chico,
Por Deus e nossa Senhora,
Com toda a sua esperteza,
Use até da safadeza,
Mas saia daqui agora.
O macaco, nessa hora,
Disse: não sei o que faço,
Mas tenho que achar um jeito
De sair desse embaraço.
Meu tratador é bacana,
Mas quando trouxer banana,
Se ele descuidar eu passo.
Quando se abriu um espaço,
O macaco, muito arteiro,
Passou pela porta aberta
E fugiu do cativeiro.
Para tentar lhe pegar,
Chegou civil, militar,
Veterinário e bombeiro.
O bicho sumiu ligeiro
Num telhado se alojou,
A cidade pegou fogo,
Mas muita gente gostou.
Nisso os animais da praça
Pulavam e achavam graça
E a notícia se espalhou.
Um jornal noticiou
Que aqui o macaco Chico,
Fugindo de sua jaula,
Fez o maior mexerico.
Revoltado co’a prisão,
Tentou uma solução
Dizendo: - aqui eu não fico!
Muita gente pagou mico
Correndo atrás do primata,
Que, há mais de vinte janeiros,
Vem levando vida ingrata.
Pois ele, aqui na cidade,
Perdeu a tranquilidade
E a paz que tinha na mata.
Deixou de ser acrobata,
Sem ter galhos pra subir.
No parque virou palhaço
Pro povo se divertir...
Por anos ele aguentou,
Mas no dia em que cansou
Disse: agora vou fugir.
Sem ter para onde ir,
Abrigou-se num telhado,
Chamando a atenção do povo
Que ali fez aglomerado.
E na Rua do Sossego
Teve quem perdesse emprego,
Só pra ver o resultado.
Foi gente pra toda lado
Olhando a sagacidade
Do macaquinho fujão
Que virou celebridade.
E, na confusão tamanha,
Muitos fizeram campanha
Pela sua liberdade.
A imprensa da cidade
Espalhou pelos jornais
Que, no Recife, um macaco,
Fugindo dos arsenais,
Desafiou tratadores,
Bombeiros e caçadores
Defendendo os animais.
Pelas redes sociais
Chico ganhou elogios,
E até se formou torcida
Por seus astutos desvios.
Não caía nas ciladas
E, escutando as gargalhadas,
Respondia com assobios.
Chico enfrentou desafios
De quem quis capturá-lo,
Não comeu os alimentos
Preparados pra dopá-lo...
Com garra e disposição,
Ainda deu arranhão
Em quem tentou segurá-lo.
Para tentar resgatá-lo,
Foi grande a embromação...
Deram ovo de codorna,
Milho, banana e mamão.
Chico não foi hesitante,
Correu do tranquilizante,
Sem cair na sedação.
Com essa alimentação
Foi tentativa frustrada.
Porque os seus caçadores
Nunca conseguiam nada.
Enquanto a população
Levava na gozação
A frustação da cambada.
Mas Chico foi camarada
Na hora de se entregar,
Pois aceitou alimentos
Que uma mulher veio dar.
Como quem quer e não quer
Ele atendeu à mulher
Sem com ela se agarrar.
Quando viu Chico chegar,
A bicharada gritou,
Papagaio deu um berro,
Gavião se peneirou,
A temida capivara
Agarrou-se com a arara
E a hiena gargalhou.
Com Chico tudo mudou
E ele ganhou uma taça,
Porque, com a sua fuga,
Ninguém mais vai achar graça,
Nem acha que é brincadeira
Quando olhar para a sujeira
Da vida daquela praça. .
Hoje, quem por ali passa,
Com certeza está sabendo
Que Chico estava ciente
Do que ele estava fazendo...
Cumprindo a sua missão,
Ele chamou à atenção
Para o que estão padecendo.
A revolta está valendo
Até para os racionais,
Saindo vitoriosa
E bem melhor que as demais,
Pois, dessa data pra frente,
Já tem um monte de gente
Defendendo os animais.
Já se viu pelos jornais
Que há uma Associação
Que pretende ir pra Justiça
Pra pedir a remoção,
Levando todos por horto,
Antes de ver bicho morto
Naquela esculhambação.
Essa falta de atenção
Dos que estão lá no poder
É a mesma que se tem
Fazendo a gente sofrer.
Só querem a população
Quando é tempo de eleição,
Depois tratam de esquecer.
Chico fez a gente ver
Que haverá de haver renovo.
Que não se pode aceitar
Quem ganha e esquece o povo,
Pois nem mesmo os animais
Que são irracionais
Votarão neles de novo.