O duelo de dois matutos

Certa vez dois matutos iniciaram uma discursão devido a uma compra de uma cabra. O dono do bode era Naldinho de Otília, poeta da cidade de Monteiro, que levou sua cabra para feira de Zabelê e ofereceu para Tião do leite, que por sua vez era um grande fornecedor de leite de cabra da região.

Ao chegar à feira, então Naldinho começou:

Tenho uma cabra branquinha

dos olhos da cor de mel

seu pelo é bem tratado

mais parece até um véu

ou um pedaço de nuvem

caído do nosso céu.

Já sou apegado a ela

tem valor sentimental

agora vou criar gado

e preciso de capital

estou vendendo a bichinha

apenas por cem real.

Ao ouvir o verso Tião do leite ficou muito interessado na cabra, analisou e fez a seguinte oferta:

Naldinho caro companheiro

gostei muito da danada

mas digo que esse valor

é uma coisa extrapolada

só pago quarenta conto

pra tu não ficar sem nada.

Naldinho então se invocou com a situação e disse:

Tu num tá valendo nada

me dê e se dê respeito

quarenta conto não serve

nem para comer direito

saia de perto de mim

para não levar nos peito.

Tião retrucou:

Daqui já vi um defeito

a bicha tá bem magrinha

seu berro quase nem ouço

e os dentes da bichinha

se ela morder capim

vai ficar é banguelinha.

Naldinho então falou:

Pois se não quiser comprar

vá embora dessa feira

pois não quero nem lhe ouvir

conversando essa besteira

pode acontecer desgraça

nessa bela sexta-feira.

Tião disse:

Então façamos o seguinte

vamos ali ao meio da praça

quero duelar contigo

só pra ver tua desgraça

e se eu perder, eu pago

se ganhar, levo de graça.

Naldinho então aceitou o desafio e os dois foram ao centro da praça para iniciar o duelo que ficaria marcado na história de Zabelê.

Naldinho iniciou:

Essa cabra é querida

estou vendendo pois preciso

sua raça é de primeira

que já tem até a ISO

e para vender de graça

vou ficar no prejuízo.

Tião disse:

Não me importa essa ISO

pois se ela for leiteira

e render um bom trocado

pra eu poder fazer a feira

eu fico com a danada

se não eu passo a peixeira.

Ao dizer isso, a cabra amarrada deu um puxão na corda que torou até o pé de agaroba que ela tava amarrada virou-se e para surpresa de todos disse:

Vou embora dessa vida

cansei dessa humilhação

o povo pega nos meus peitos

sem nem autorização

cortam meu pêlo todinho

ainda durmo no chão.

Sou tratada como pedra

igual a mercadoria

não veem que um animal

também tem sua valia

produz para o próprio homem

que assiste sua sangria.

Todos então, ficaram assombrados com o que acabaram de presenciar e o narrador dessa estória deixa o seguinte verso como reflexão:

Não maltrate os animais

pois eles tem seu valor

alegram muitas famílias

e não pedem nenhum favor

alguns já salvaram vidas

e só querem é amor.

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João Igor
Enviado por João Igor em 16/09/2011
Código do texto: T3223665
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