A CHEGADA DE ZÉ SALDANHA NO CÉU
A chegada de Zé Saldanha no céu – Por Thomas Saldanha.
I
Depois de mais de um mês
Você esteve internado
Mas ficou bom de uma vez
E por nós foi transportado
Com calma e altivez
Veja quem está ao seu lado.
II
Zé Saldanha foi olhando
E começou a sorrir
Dona Jove lhe abraçando
E ele pôde sentir
Grande paz lhe inundando
E cheiro de rosas fluir.
III
Abraçou sua amada
Que disse mansa: “José!”
Beijou-lhe a face adorada
Com lágrimas de amor e fé
Dona Jove emocionada
Lhe fazia cafuné.
IV
Ele a olhava sereno
Sentindo a brisa macia
Seu espírito estava pleno
De paz, amor, alegria
E observou o terreno
Onde tudo acontecia
V
Via um jardim florido
Com plantas ornamentais
Se sentia renascido
Pelos sentidos vitais
Muito limpo, bem vestido
E surpreso, até demais.
VI
Perguntou á Dona Jove:
“Quem é este portador?”
Ela disse: “Hoje é nove,
De agosto, meu amor.
Respire bem fundo e prove
Este ar renovador”.
VII
Nove do mês de agosto
Dia de sua chegada
E o rapaz que está posto
Aqui na porta de entrada,
Vou lhe confessar com gosto:
É o seu anjo da Guarda!
VIII
Zé Saldanha, meu amigo
Deixe eu me apresentar
Sempre estive contigo
Sem você poder notar
Em todo e qualquer perigo
Eu estava a lhe velar!
IX
Desde que você nasceu
Tive esta satisfação
Tudo que lhe sucedeu
Alegria ou aflição
Quem lhe ajudava era eu
Segurando a sua mão.
X
Agora está terminada
Mas esta missão divina
Sua vida foi transformada
E começa uma nova sina
Estás em nova Morada
Junto á Dona Jovelina.
XI
Zé Saldanha, espantado
Disse: “Então eu viajei
Eu já estava desconfiado
E com fé, me preparei
Meu tempo estava findado
Isso por lá comentei.
XII
Me lembro do hospital
Onde estava internado
Eu respirava tão mal
Via o povo aperreado
Mas quando adormecia
Via Jove do meu lado.
XIII
Vi muita gente sofrendo
Por aquele meu estado
Mas eu já tava sabendo
Que ia ser liberado
Pra fazer minha viagem
Aqui pra o outro lado.
XIV
Jove, e agora nossa raça?
Deve tá toda chorando
E achando uma desgraça
Lá o meu corpo velando
Sem saber o que é que faça
Tá tudo se acabando...
XV
José tenha paciência
Que acabasse de chegar
Nossa raça tem decência
Vai saber se controlar
E Deus tem muita Clemência
Pra eles tudo sustentar!
XVI
Se deite nessa caminha
Que é pra você descansar
Tire uma sonequinha
Que se os anjos deixar
Havendo uma brechinha
Mais tarde nós vamo lá.
XVII
Saldanha adormeceu
E Dona Jove conversou
Com um ancião que apareceu
E ele a escutou
Sorrindo lhe respondeu
“A resposta eu já lhe dou!”.
XVIII
A irmã fique aqui
Juntinho de seu marido
Que eu vou descer ali
Pra ver seu povo querido
E se houver condição
Eu atendo o seu pedido.
IXX
Com umas horas passadas
O ancião retornou
Com palavras delicadas
À Dona Jove explicou:
As licenças foram dadas
Seu povo se acalmou.
XX
Saldanha vai despertar
Com calmaria tenaz
Nós vamos nos preparar
Com oração perspicaz
E vamos nos transportar
Para o “Morada da Paz”.
XXI
O ancião, calmo e santo
Fez todo tipo de menção
E Saldanha, com encanto
Escutou a explicação
Os três entoaram um canto
De prece e preparação.
XXII
Envolvidos numa luz
Ao velório os três chegaram
Com as bênçãos de Jesus
Os presentes não notaram
E o que a emoção produz
Os parentes discursavam.
XXIII
Saldanha emocionado
Com tantas declamações
Sentiu-se homenageado
Pelos versos e orações
Cada discurso falado
Das fibras dos corações.
XXIV
Viu as suas poesias
Espalhadas no salão
Foi grande sua alegria
Por tanta demonstração
Do amor que reunia
Seu povo com emoção.
XXV
Jove eu tô satisfeito
Com o que pude encontrar
Está tudo do meu jeito
Só posso me alegrar
Porque Deus me deu a graça
De viver, vencer, lutar.
XXVI
Saldanha foi se elevando
Quando a Missa terminou
Dona Jove o acompanhando
O ancião os levou
Subiu com eles rezando
E no mesmo canto os deixou.
XXVII
Retornaram calmamente
E houve mais recepção
Vieram muitos parentes
Queridos, do coração
Pra receber o poeta
Divulgador do sertão.
XXVIII
Saldanha reviu seus pais
Foi por eles abraçado
Seu filho, alegre demais
Deu-lhe um cheiro demorado
Sogros, parentes leais
Irmãos, cunhada, cunhado.
IXXX
Amigos, tios queridos
Vieram cumprimentar
Vizinhos e conhecidos
Alguns estavam por lá
Os caminhos preparados
Pra sua vida continuar.
XXX
Da matéria desligado
Ao lado de sua amada
Muito bem orientado
Nova Missão abraçada
Já se encontrava alojado
Em sua nova morada.
XXXI
“E a vida continua!”
Lhe falou uma senhora
Na nova morada sua
Há trabalho a toda hora
Seu cordel se perpetua
Lá na Terra e aqui, agora.
XXXII
Zé Saldanha se espantou
Com esta afirmação
Foi então que perguntou
Com muita admiração:
“Eu aqui ainda vou
Fazer rimas do Sertão?”
XXXIII
A Senhora respondeu
Feliz e bem compassada:
“José, só o que morreu
Foi sua matéria cansada
Você, Espírito, está vivo
E continua a jornada”.
XXXIV
Pode escrever cordel
Poesia, fazer rima
Não lhe faltará papel
Nem local onde imprima
Existe tinta a granel
E o amor de Jovelina.
XXXV
Só não tem monotonia
Pode ficar sossegado
Querendo ouvir cantoria
Suba esta rua do lado
No setor da sinfonia
Há um belo prédio dourado.
XXXVI
Sua entrada é liberada
Pra levar quem lhe convém
Lá tem uma tropa animada
Sabendo que você vem
Rimando agora e sempre
Pelos séculos, amém.
XXXVII
Aqui nunca vai faltar
Nada pra você fazer
Tem bosques pra caminhar
Campos bonitos pra ver
Teatro pra declamar
Roçado e gado a correr.
XXXVIII
Zé Saldanha bem feliz
Dona Jove abraçou
“Foi tudo que eu sempre quis”
Emocionado falou
Se sentiu um aprendiz
Na vida que começou.
XXXIX
Exclamou:” Agora sei
Vou continuar contente
Foi o que eu marquei
Vou rimar danadamente
Digo á raça que deixei
Que os amo eternamente.
XL
A Senhora retirou-se
Jove e José se abraçaram
O local inebriou-se
Por violas que dobraram
Mil violeiros uniram-se
E uma canção entoaram:
XLI
Seja bem vindo poeta
Zé Saldanha, cordelista
Atingiste tua meta
Tua vida foi conquista
Chegaste na hora certa
Estimado repentista.
XLII
Aqui ninguém adoece
Não há dor e nem fraqueza
Por aqui ninguém padece
Falsidade ou mesquinhesa
Aqui ninguém se entristece
Só há paz, amor, beleza.
XLIII
Todo mundo é igual
Ninguém é mais que ninguém
Não há espaço pro mal
Aqui só existe o bem
Todo mundo é jovial
Pra todo o sempre, amém.
XLIV
Zé Saldanha se virou
Pedindo para falar
Pro Planeta Terra olhou
Dizendo: Quero deixar
O que Deus me inspirou
Pra quem quiser escutar.
XLV
Falo para minha raça
E pra toda criatura
Procurem viver na graça
Na paz, no amor, na candura
Bebendo o vinho da taça
Da Sagrada Escritura.
XLVI
União quero pedir
O amor quero exaltar
Se o bem-querer existir
Nada poderá faltar
Quem esse conselho ouvir
Vai minha lembrança honrar!
XLVII
Eu não estou descansando
Também não estou dormindo
Continuo trabalhando
E meus versos produzindo
Esta verdade ensinando
A ninguém vou iludindo!
XLVIII
A Terra misteriosa
Da qual eu tanto falei
É mesmo maravilhosa
Digo agora, porque sei
Mas não é terra ociosa
Trabalho e amor é lei.
XLIX
Sigam lutando daí
Que a luta sempre é pesada
Ninguém pode desistir
Da Missão que lhe foi dada
Eu vou batalhando aqui
Na minha nova morada.
L
Eu que viajei primeiro
A todos vou esperar
Com meu amor verdadeiro
Na hora que Deus mandar
Eu serei como um porteiro
Para quem aqui chegar.
LI
Até logo, certamente
Dou minha bênção, sem fim
Deixo lembrança e saudade
Para quem gostar de mim
Perdão para os que me odeiam
Cristo também fez assim.
LII
Zé Saldanha, este cordel
Lhe faço como homenagem
Pai você está no céu
Tenho certeza e coragem
De afirmar a quem não crer:
“Esta vida é uma passagem!”.
LIII
Minha emoção é tamanha
Só Deus é nossa valia
Fazer versos é façanha
Lhes peço uma cortesia
Perdoem Thomas Saldanha
Noviço da poesia.
Dedico estes versos a todos os filhos e filhas de Zé Saldanha, meu pai-avô, assim como a seus netos, netas, bisnetos, genros, noras, irmãos, sobrinhos e demais familiares e amigos.
Thomas Saldanha
Natal, 17 de agosto de 2011.