José Saldanha Sobrinho, um Cordelista Exemplar
Autor: Marciano Medeiros
O senhor José Saldanha
Foi notável cordelista
No Rio Grande do Norte
Tornou-se bondoso artista
Que sempre será lembrado
Por ter palavra otimista
Nasceu como ruralista
Juntinho do Seridó
A sua grande família
Chorou muito e teve dó
Na despedida do mestre
Chegou gente de Caicó
Seu corpo já virou pó
Destino da humanidade
Mas o espírito sorrindo
Seguiu pra eternidade
Deixando no velho mundo
As sementes da bondade
Já estamos com saudade
Do poeta potiguar
Que produziu seus folhetos
Com frequencia regular
A obra de Zé Saldanha
Jamais irá se apagar
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Seu cordel é invulgar
O povo reconheceu
Os numerosos folhetos
Que Zé Saldanha escreveu
Das suas marcantes rimas
O mundo não esqueceu
Fez um escritório seu
Lá na sua residência
O Recanto do Poeta
Onde com toda prudência
Redigia seus trabalhos
Tendo muita paciência
Viveu sem ter prepotência
Sendo escritor afamado
Seu nome ficou bem vivo
Devendo ser preservado
Foi guardião da cultura
E menestrel inspirado
Fiquei emocionado
Quando vi Margot falando
Sobre a morte de Saldanha
Na televisão mostrando
As imagens do poeta
Noutro dia conversando
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Aquilo foi despertando
Ternura em meu coração
Pois o sorriso do vate
Transmitia inspiração
De quem teve sua vida
Plasmada lá no sertão
Houve festa na amplidão
Do reino celestial
Os anjos da poesia
Num cortejo divinal
Receberam Zé Saldanha
No mundo espiritual
Pois ele foi genial
No cenário nordestino
Lá em Santana do Matos
O valoroso menino
Viu mundo de cangaceiros
Do bravo Antônio Silvino
Fez trajeto peregrino
Como um profeta judeu
Amando sua família
Que o Pai Eterno lhe deu
Foi juntar-se a Jovelina
Coração irmão do seu
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Em dezoito ele nasceu
Na fazenda Piató
Perambulou nas veredas
Do romântico Seridó
Que tem paisagens bonitas
Mesmo longe de Caicó
Sempre falava com dó
Nos mais antigos cardeiros
Nas fogueiras de São João
Na coragem dos vaqueiros
E nas grandes melodias
Cantadas por violeiros
Descrevia bandoleiros
Os cabras de Lampião
Que assombravam muita gente
Nas quebradas do sertão
Lembrava o mugir das vacas
Nas festas de apartação
Mantinha recordação
Daquele mágico destino
Uma cena onde seu pai
Destemido peregrino
Pôde um dia conhecer
O capitão Virgulino
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Zé Saldanha era menino
Ficou impressionado
Quando viu o cangaceiro
Com um bizaco azulado
Jogando muitas moedas
Pra quem estava do lado
Lampião bem-humorado
Divertiu os companheiros
Prosseguiu sua jornada
Nos grandes desfiladeiros
E os garotos pegaram
As moedas nos terreiros
Aqueles lances ligeiros
José Saldanha arquivou
Na filmadora da mente
Este episódio gravou
E no decorrer da vida
Pra seus amigos contou
Muita coisa registrou
De modo descomedido
Guardando na emoção
Um passado colorido
Como se fosse o perfume
De um reinado perdido
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Nunca foi esmorecido
Quebrou pedra de barreira
Também botava roçado
Fez cultura algodoeira
Sempre agradecendo a Deus
Por não usar cartucheira
Fez do cordel a trincheira
No palco da existência
Sendo um repórter matuto
Repleto de competência
Escreveu lindas estrofes
Com lirismo e diligência
Seu verso traz refulgência
Do passado potiguar
José Saldanha Sobrinho
Sempre viveu pra rimar
Metrificando sextilhas
De maneira singular
Teve jornada exemplar
Com seus discretos desejos
Por ser um pai carinhoso
Tratava os filhos com beijos
Expressando no semblante
Luminosos relampejos
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Fez livretos com lampejos
Das auroras boreais
Como se fossem gerados
Noutros planos siderais
Trazendo fraternidade
Pra comover os mortais
O poeta foi sagaz
Trabalhou de sapateiro
Tentou a mineração
Mas mudou seu paradeiro
Na capital natalense
Continuou folheteiro
Nunca perdeu o roteiro
Da cultura nordestina
Recebendo inspiração
Da Providência Divina
Pra criar belas imagens
Com pureza cristalina
Mostrou força peregrina
Na chama da poesia
Tornou o mundo melhor
Trazendo doce alegria
Quem ler um folheto dele
Ficará com nostalgia
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Houve sagrada homilia
Com multidão no velório
Doutor Zé Lucas de Barros
Fez um poema notório
E Amâncio Sobrinho disse
Comovente palavrório
Não teve nada simplório
Bob Motta ali chorou
Em seguida Abaeté
Grande homenagem prestou
E Paulo Varela logo
Para o enterro chegou
Rosa Régis lamentou
De forma resignada
No ano dois mil e onze
Em data não esperada
Despediu-se do poeta
Bastante emocionada
Sua vida está contada
Num folheto popular
Oferto ao povo a lembrança
Deste gênio singular
José Saldanha Sobrinho
Um cordelista exemplar.
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