O Filho do Mundo

O FILHO DO MUNDO

Poeta Cordelista Geovany Alves

Eu sou um pobre menino,

Nascido lá no sertão.

Não tenho nenhum amigo,

Não tenho pai nem irmão.

Algum dia tive família,

Porém nunca educação

Minha história é sofrida,

Berabolando pela rua.

Fico perdido na noite,

Sei que a culpa não é sua.

Minha única companhia,

Nesse mundo é a lua.

Pra conseguir o que comer,

Muitas vezes sou humilhado.

Ninguém me dá emprego,

No comércio sou maltratado.

Nas ruas sou perseguido,

E por moleques espancado.

Tudo isso eu esqueço,

Faço-me de inocente.

Quando ganho um pão,

Um sorriso ou um presente.

E se alguém me cumprimenta,

Fico bastante contente.

Isso é muito difícil,

Fácil mesmo é um insulto.

Por não ter com quem falar,

Sou chamado de matuto.

Peço um pedaço de pão,

E recebo um cascudo.

Abandonado pelas ruas,

Sou como um bicho na floresta.

Um animal pequenino,

Que não faz nem sequer resta.

Que gosta de todo mundo,

E o mundo lhe detesta.

Sou um cão debaixo do sol,

Sou um gato no meio da chuva.

Um pássaro com sede,

Uma oncinha sem furna.

Um peixinho fora d´agua,

Sou um lobo que não uiva.

Um ser incompreendido,

Por toda população.

Se me aproximo de alguém,

Dizem: Pega ladrão!

Meus direitos não enxergam.

O que é isso cidadão?

Se falo não ter comida,

Imagine a roupa que visto.

São farrapos que encontro,

Jogados em latas de lixo.

Vivo jogado nas ruas,

Mas pra muitos nem existo.

Essa vida é uma tristeza,

Por que tem que ser assim?

Eu ajudo a tanta gente,

Mas ninguém liga pra mim.

Eu sou tão pequenino,

Porem minha vida está no fim.

Meu Deus que sofrimento,

Gente que povo mau.

Me chamam de delinqüente,

Vagabundo, marginal.

Me julgam um bandido,

Problema policial.

Se chego a um hospital,

Dizendo que estou doente.

Me expulsão a ponta pé,

E me chamam de delinqüente.

É que esse povo tem dinheiro

Mas são tudo inconseqüente.

É grande a injustiça,

É uma injúria esse país.

Vivo pagando nas ruas

Uma conta que eu não fiz,

E assim abandonado,

Nunca mais serei feliz.

Vivendo nesse mundo,

Pareço um passarinho.

Preso em uma gaiola,

Sem poder voltar pro ninho.

Pra que um mundo tão grande,

Quando eu vivo aqui sozinho?

Só falta agora eu me prender,

Me apregar em uma cruz.

Repetir pra humanidade,

O que fizeram com Jesus.

Já que estou tão perto das trevas,

E tão distante da luz.

Morrer de braços abertos,

Sem por a mão no coração.

É melhor que morrer de frio,

De fome e humilhação.

É melhor morrer como Jesus,

Que seguir essa nação.

Tem horas que me revolto,

Com essa vida cruel.

Com gente que tem de tudo,

Até um pedaço do céu.

Enquanto eu não tenho nada,

E vivo jogado ao léu.

Ainda eu vivo aqui,

Jogado em cada esquina.

Deitado em calçadas frias,

Enrolado na cortina.

Por que sofro tanto assim?

Acho que é minha sina.

Viver calado num canto,

Eu ate nem ligo mais.

Vivo a obedecer a vida,

Na ausência dos meus pais.

Sou pequeno como um anjo,

Na vida de um satanás!

Quem foi que me deu essa vida?

Ponho a me perguntar.

Como não acho resposta,

Fico aqui triste a pensar.

E banhado de solidão,

A tristeza me faz chorar.

Minha vida é assim,

Vivendo lá pelo fundo.

Perguntam quem é meu pai.

E se também é vagabundo.

Digo pra eles que não,

E que sou filho do mundo.

De vez enquanto uma pessoa,

Até me dar atenção.

São pessoas também da rua,

Talvez até meu irmão.

Que vendo a dificuldade,

Comigo divide seu pão.

E assim a vida passa,

Ma deixando lá pra trás.

Foram tantas que eu passei,

Que nem me lembro mais.

São tantas maldades, meu Deus,

Com quem não sabe o que faz.

Com quem não tem o que comer,

Com quem não sabe quem é.

Que não conhece irmão,

Que na vida aprendeu ter fé.

Vivendo apartado num canto,

Sem ao menos café.

Aí me disponho a ajudar,

Carregar malas de gente fina.

Mas o preconceito é enorme,

E a vida é quem me ensina.

Vou me afastando do bem,

Procurando outra sina.

Minha cama é um papelão,

Meu travesseiro é um tijolo.

Onde me deito sozinho,

Quando me deparo com o choro.

Pois o pé de uma calçada,

Sempre foi o meu consolo.

Se pro mundo não existo,

E se causo tanto mal.

Vou levando minha vida,

Pra não levar um final.

Pois é duro pra mim viver,

A vida dum animal.

Cansei de tanto esperar,

Com o peito cheio de ânsia.

De encontrar uma família,

Já perdi a esperança.

Só peço que alguém se lembre,

Que eu ainda sou criança.

Quando tem festa na cidade,

É grande a alegria.

Todos ficam ansiosos,

Esperando aquele dia.

Todo mundo espera tudo,

Eu só espero uma família.

São João pra desprezado,

É como salgado sem sal.

É faltar banda de axé,

Em festa de carnaval.

É passar mês de dezembro

Sem comemorar o natal.

Mas eu só peço a você,

Mais um pouco de atenção.

Para com as crianças pobres,

Humildes de coração.

Já que por parte desse mundo,

Eu só tenho decepção.

Se eu sobreviver às ruas,

E um dia conseguir emprego.

Entrar pra sociedade,

E da vida não ter medo.

Eu saberei dar o valor,

E respeitar o povo negro.

AGRADECIMENTOS:

No cariri tem um SESC,

Coisa boa como um céu.

Que apoia o artista,

Em qualquer arte e papel.

Que também me apoiou,

A divulgar esse cordel!

Geovany Alves
Enviado por Geovany Alves em 06/09/2011
Código do texto: T3203878