O delírio do Caminhante
Caminhante,
Siga firme em teu caminho
Não interrompa seu rompante
Veja o mundo em desalinho
E não sorria neste instante
Lembre que não vives no mundo sozinho
E então ouça com atenção
O brado do homem delirante
Nos campos e nas ruas,
Vês teu povo, de si mesmo retirante
A pedir e a implorar
Por atenção um só instante
Sob o sol a rastejar
Ouça o grito murmurante
Que a sonhar e a chorar
Espera um novo dia, Caminhante
Vês, escuta, toca e sente
Não esqueça ou seja imprudente
No teu andar, vê tua gente
Há essência de tua feitura
Em cada rosto, de cada indigente
Em toda loucura e também
Em todo gesto clemente
Veja este povo, Caminhante
Que reza e clama inutilmente
Que olha pro céu e rasteja no chão
Arduamente
Este povo, certamente
Sabe que o ontem, o hoje e o
Amanhã
Lhe trata a sorte indiferente
Então cabe a ti e a todo homem
Que na vida é caminhante
Que passa pelo mundo
E sem ser mudo, é também povo
E, por isto, delirante
Denunciar e sonhar
Com utopia a todo instante
E construir, por suas mãos,
Com respeito e crença rompante
Um homem novo e um novo mundo
Eis o delírio do Caminhante!