Infância Roubada

Minha infância roubada

No giro da minha vida

Vivo a vida a girar

No giro da infância roubada

Minha mãe na madrugada

No fogão a cozinhar

Mexendo a panela com lágrimas

Para a comida adocicar

Me lembro daquele menino

Nos seus pés a soluçar

Em busca de atenção

Um carinho que não podia dar

A mãe atarefada

Não podia nem parar

Trabalhava de dia a dia

Só a noite pra descansar

No escuro da madrugada

No seu quarto a chorar

Do desígnio da vida

A lhe castigar

Na mais pura inocência

Ao me aproximar

Questionava-lhe o choro

Sem nem ao menos imaginar

Da amargura do sentimento

Que ela tinha a lastimar

A sua terra querida

Ela teve que deixar

As lembranças eram tantas

Que nem dava pra contar

Quando a saudade apertava

Ela botava pra chorar

Essa mulher era guerreira

Tinha tudo pra ficar

Em sua terra querida

Com sua família morar

Por uma questão de honrar

A estrada foi pegar

Com seu filho pequeno

Ela pois a caminhar

Não sabia dos espinhos

Que a vida iria lhe dar

Foram tantos aranhões

Que as cicatrizes não quis fechar

Coragem era seu nome

Determinada sua vontade

De tábua alugou uma casa

pra com os filhos morar

O telhado era de palha

Do coqueiro do lugar

Não impedia que a chuva

Molhasse todo o lugar

Banheiro não existia

Luz não tinha lá

Até a água do chafariz

Fazia dó de tomar

Levantou sua cabeça

E a guerra foi batalhar

Trabalhando numa casa

Para os seus filhos educar

Fiel a um pacto

Do menino fez ocultar

Seu verdadeiro pai

Só grande foi encontrar

Foi um amor verdadeiro

Que os seus sonhos fez acabar

Uma promessa perdida

Um sonho no fundo do mar

Minha infância roubada

No giro da minha vida

Vivo a vida a girar

O giro da infância roubada

Naqueles dias alegres

A tristeza a me embalar

Sem esperança de crescimento

Só me restava lamentar

Quando busco nas lembranças

Os dias frios tão compridos

Sem o calor do colo

Da mãe a trabalhar

Sinto uma dor

Só em pensar

No inglório

Tempo a relembrar

São dores tão profundas

Tão latentes

que o tempo

Teima em não apagar

Minha infância roubada

No giro da minha vida

Vivo a vida a girar

No giro da infância roubada

Cresci no mundo imaginário

Onde os sonhos quis me levar

Nem sempre foram tão lindos

Que da medo até de contar

Crescendo atordoado

Um sonho que não era eu

Não tinha cama quentinha

Nem quarto pra se instalar

Mais tinha a companhia

Do meio irmão a me encorajar

Falava com alegria

De um futuro a nos esperar

Foram dias esperançosos

Que vivi naquele lar

Foram momentos de alegrias

Que a muito deixei por lá

Pois quis o destino

De forma trágica nos separar

Meu meio irmão querido

Pró céu foi morar

A minha infância roubada

No giro da minha vida

Vivo a vida a girar

No giro da infância roubada

Os dias correram pra noite

As noites romperam os dias

Girando a roda gira

A gira da ventania

Soprando em meus ouvidos

As vozes daqueles dias

Tanto tempo se passaram

Mais que eu não esquecia

São lembranças

Da minha infância

Que no giro da ventania

Me encontrou como companhia

Os meu entes tão queridos

No céu foi morar

Só me resta as lembranças

Pró coração confortar

A minha infância roubada

No giro da minha vida

Vivo a vida a girar

No giro da infância roubada