Ô CORDEL DIFÍCIL!

Quando vou escrever cordel

me dispo da vaidade

esqueço qualquer orgulho

vestido de humildade

pois é poesia popular

que o povo gosta de cantar

pelos cantos da cidade

E fico pensando na lua

com miçangas coloridas

nas estrelas brincalhonas

encantando atrevidas

quando a tarde vai embora

o sol se esconde na hora

esquecendo despedidas

Perpassa pela cachola

miríades de borboletas

pássaros esvoaçando

os números das roletas

mulheres achando graça

garotas lindas na praça

músicas com belas letras

Depressa chega a dúvida

- misteriosa cultura! -

fazendo galo na mente

me trazendo amargura

vislumbrand'o horizonte

subo correndo um monte

pequeno, miniatura

Então troco as palavras

rimo pão com armadura

como pipoca sem sal

feijão, arroz, rapadura

arranco sapatos do pé

escrevo ode à mulher

plantando muita verdura

Mas a danada da poesia

sumindo no crepúsculo

deixa de ser cordel, é cordão

num versinho minúsculo

bem soberbo e abusado

tão ínfimo, tão coitado,

um livro? Não, opúsculo!

Essas coisas populares

pensas ser fácil de fazer?

Estás muito enganado

eu misturo tu com você

equívoco gramatical

terminando por me dar mal

obrigado a beber dendê

Lá vou eu de novo tentar

o destrinche cordelístico

embor'eu não seja mago

vou sendo cabalístico

ao terminar a obrigação

com meu maior dedo da mão

coloco meu interstício

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 21/08/2011
Código do texto: T3172657
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