CARNAÚBA, A ÁRVORE DA VIDA

Autor: João Rodrigues Ferreira

A bela Terra da Luz

Imensamente querida

Fantástica por natureza

Por muitos povos foi lida

Tem por símbolo a Carnaúba

Chamada “Árvore da Vida”.

Nas frondes da carnaúba

Vive a jandaia a cantar

Como diz em “Iracema”

Do imortal Alencar

Como imortal é a árvore

Que reina no Ceará.

Em seu romance, Alencar

Junta a beleza e o horror

Unindo o guerreiro à virgem

Num bucólico e puro amor

E dele nasce Moacir

Chamado “o filho da dor”.

Para Iracema o rebento

Foi sua imensa alegria

E a mãe, soberba, brincava

Nas matas com sua cria

Sob as verdes carnaúbas

Atrás do filho corria.

A ambos, autor e árvore,

Presto a minha reverência

Nestes meus singelos versos

Ausentes de prepotência

Portanto agora retorno

À árvore da Providência.

Brava como o sertanejo

Feito ele é resistente

Sob o impiedoso sol

Da seca triste, inclemente

No meio do mundo cinza

Brilha esta árvore, imponente.

Seu verde a várzea embeleza

Com seu glamour natural

Suas palhas dançando ao vento

Fazem um ensaio geral

Do que pode fornecer

O rico carnaubal.

Não só bela é a carnaúba –

Primorosa produtora –

Seus infinitos atributos

Fazem-na fornecedora

Da indústria brasileira –

Parceira e mantenedora.

Suas benditas raízes

Têm uso medicinal

Seu fruto é bom nutriente

Para ração animal

Sua palha é utilizada

No mercado artesanal.

Para qualquer construção

Seu tronco é forte madeira

Resistente e mui fibrosa

É obra pra vida inteira

Vai da construção civil

A ponte, cerca e porteira.

De todos seus componentes

(Todos têm sua importância)

A palha é quem se destaca

Não só por sua elegância

Mas por ser de multiuso

E grande é sua relevância.

Com ela se faz trançados

Artesanato e surrão

Que tem grande utilidade

No litoral ou sertão

Pra fortificar o solo

Serve como adubação.

 

Fazem-se chapéus e bolsas

De beleza inigualável

Disputados por turistas

E com preço razoável

Obra-prima do artesão

De valor indubitável.

A cera, grande riqueza

De expressão continental

De infinita utilidade

No mercado industrial

Vai do simples artesanato

Até o meio digital.

Em boa parte do Nordeste

Os verdes carnaubais

Têm grande predominância

Nas planícies aluviais

Protegendo cursos d’água

E hídricos mananciais.

Esta essencial floresta

Cumpre importante função

Conservando fauna e flora

Fazendo a manutenção

Do equilíbrio ecológico

De toda essa região.

As áreas predominantes

Do verde carnaubal

Encontram-se no Ceará

Do sertão ao litoral

Passando por Piauí

Com grande foco em Natal.

Mesmo em tempos de estiagem

O fértil carnaubal

É uma importante renda

Do trabalhador rural

Fazendo jus à sua fama

De árvore exponencial.

 

A Árvore da Providência

Como também é chamada

Devido aos seus atributos

É mui reverenciada

Até os povos indígenas

Consideram-na sagrada.

Em tupi a carnaúba

Quer dizer “Árvore que arranha”

Por causa do seu espinho

Que ao seu pecíolo acompanha

E para as nações indígenas

Sua importância é tamanha.

Também para o sertanejo

É imensamente importante

Seu pó tem grande valia

Que na palha é abundante

E para o homem do campo

Tem um valor relevante.

U’as duzentas mil pessoas

No Nordeste brasileiro

Durante parte do ano

Arrecadam bom dinheiro

Pois fabricam a rica cera

E exporta ao mundo inteiro.

Num dos maiores conflitos

Que nesta terra se viu

Na Segunda Grande Guerra

Seu preço o auge atingiu

26 dólares por quilo

Valorizando o Brasil.

O Nordeste fez fortuna

No meio do século passado

Pecuarista enricava

E ainda criava o gado

Dentro do carnaubal

E o pó de graça, do lado.

 

Exportadores de cera

Até produtor rural

Ganharam rios de dinheiro

E ascensão social

Muitas famílias abastadas

Mudaram pra Capital.

Início do século 20

A família Jonhson então

Viu que o carnaubal

Era iminente filão

Logo colocou a cera

Na linha de produção.

Como empresário de top

Para o negócio tem tino

Logo anteviu o sucesso

No colosso nordestino

A ele então se empenhou

Selando um rico destino.

Dedicou-se por inteiro

Corpo, alma e coração

Criou inúmeros produtos

Investiu na exportação

Fez da cera seu destaque

E o sucesso veio à mão.

Hoje seu preço caiu

Não tem mais tanto valor

Mas ainda é renda forte

Do humilde agricultor

Que batalha seu sustento

Faça frio, chuva ou calor.

Também na África e na Ásia

Tem carnaúba, é verdade

E em toda a América Latina

Tem esta variedade

Mas apenas a brasileira

Dá cera de qualidade.

 

Certa vez disse o poeta

Muito distante, além-mar

“Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá.”

Hoje, muito mais que antes

Compreendo o seu cantar.

Abençoe, ó Deus clemente

Para o nosso próprio bem

A excelsa Árvore da Vida

Que imenso valor detém

Que ela dure eternamente

Por século, e séculos. Amém!

Cordel publicado pela Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

Poeta do Riacho
Enviado por Poeta do Riacho em 18/08/2011
Reeditado em 19/08/2011
Código do texto: T3167670