Com o pé no passado * Verídico * Autor: Damião Metamorfose.
*
Deus me dê inspiração,
Para poder descrever.
Tudo o que estou sentindo,
De forma fácil de ler.
Na linguagem popular,
Simples de interpretar,
Que todos possam entender!
*
Pois pretendo defender
Um casarão do passado.
Lugar que a comunidade
Chamavam-no de mercado.
Mas o tempo foi passado,
E ele foi se acabando,
Até ficar arruinado!
*
Domingo era sagrado,
Juntar toda a vizinhança.
E vir para o mercado,
Homem, mulher e criança.
Para comprar a mistura,
Feijão, arroz, rapadura,
Farinha e alho de trança...
*
Alguns só coçar a pança
Escorado num balcão.
Outros pra recitar glosas,
Pra ganhar algum tostão.
E aqueles mais importantes,
Para falar das amantes,
Tomando um alcatrão...
*
Nas festas, o seu salão,
A pista ficava cheia.
Pois vinha de outras cidades,
Gente bonita e “feia”
Uns pra beber e dançar,
Outros pensando em brigar
E pernoitar na cadeia!
*
Eu fiz uma coisa alheia
E essa eu vou lhe contar.
Tentei entrar pelos fundos,
Pois não podia pagar.
Consegui, mas foi pior,
Eu ainda era menor,
Não me deixaram dançar.
*
Eu pude presenciar
De perto alguma nuance.
Porque vi namoro e flertes
E presenciei romance.
Ah! Se eu pudesse voltar
No tempo e aproveitar,
Todo lance, toda chance!
*
Não está ao meu alcance,
É passado, dei bobeira.
Melhor viver o presente
De forma bem prazenteira.
E enfatizar o mercado,
Que merece ser lembrado
E a História é verdadeira!
*
Na festa de padroeira,
As barracas de ambulantes.
Lotavam o velho mercado
Com “prata, ouro e brilhantes”
Anel, corrente e colar...
Para o matuto comprar
E sentirem-se importantes.
*
Eu também lembro que antes
Tinha sempre um cineminha.
Aqueles filmes românticos
Com a Mary e Teixeirinha.
Sem dinheiro, era um suplicio,
Mas com algum sacrifício,
Dava-se um jeito e vinha.
*
Vendia o ovo, a galinha,
Fazia um trocado e ia.
Assistir os shows de mágica,
Embolada e cantoria...
Depois ia a Ciça Preta,
Comer pão na caderneta
E era só alegria!
*
Carnaval, sem fantasia,
Mas a coisa se animava.
Vinha mesmo sem dinheiro,
Se o porteiro não deixava.
Eu arrombava o portão,
Entrava na multidão
Que nem bala me pegava!
*
Mas o tempo se passava
E o mercado envelhecia.
Ninguém fez uma reforma
E a calçada sedia.
Festa ali já não tinha,
Dentro: morcego e andorinha...
E lixo se expandia!
*
Oitenta e seis, ano e dia,
Não sei, mas foi carnaval.
Morreu Antonio Carvalho,
Num acidente fatal.
Ali não houve mais festa,
Feira, cinema, seresta...
Era o inicio do final!
*
Antonio um filho leal,
Respeitado e conhecido.
Nos lugares que chegava,
Sempre era bem recebido.
Depois que Deus o levou,
O mercado que ficou
Abandonado e fedido!
*
Virou alvo preferido,
Daquela classe analítica.
Que não faz nada a favor
Mas adora a alto critica.
A elite de chupanças,
Que engorda a sua poupança,
Fazendo a impolítica...
*
Cada campanha política,
Um candidato gritava.
A frente do seu portão,
Sempre que se empolgava.
Se eleito for meu povo...
Eu faço um mercado novo
E em promessa ficava!
*
Depois que se empossava,
Tudo era esquecido.
Se alguém tocar no assunto,
Ele já nem dá ouvido.
Mais um mandato passando
E o mercado ficando,
Nos arquivos, esquecido!
*
Abandonado e fedido
Ele foi anos a fio.
E ficou tão maltrapilho,
Que ao ver dava arrepio.
Sem festa tudo era oco
E as paredes sem reboco,
Parecem até sentir frio!
*
Naquele prédio arredio,
Naquele tomba, não tomba.
Que só tinha andorinhas,
Morcego e cocô de pomba...
Tinha o ponto tradição
Que era o bar skinão,
Do amigo Chico Bomba.
*
Com Bomba não tinha tromba,
Caindo ou não, insistia.
Mesmo faltando aguardente,
Refri e cerveja fria...
Parecia maldição,
Porque o bar skinão
Pra frente também não ia!
*
Castigo ou não, que seria?
Com o meu amigo Bombinha.
Se a noite no seu bar,
Muita gente sempre vinha.
Se o Bomba só trabalhava
Mais velho e pobre ficava,
Por que Ele nada tinha?
*
Sei que nessa ladainha
A casa indo ou não indo
Cair, o povo dizia:
Essa joça tá caindo.
A qualquer hora ela tomba
E dessa vez Chico Bomba,
Cai fora, triste ou sorrindo...
*
E o seu salão que foi lindo,
Que era uma passarela.
Ao andar tome cuidado,
Pra não escorregar nela.
O chique virou chiqueiro,
Mais fedido que um banheiro,
Só tem mijo e esparrela...
*
Quem viu essa casa bela,
Hoje ao vê-la sente dó.
E põe a mão nas narinas,
Pras tripas não dá um nó.
Por causa da fedentina,
Parece com uma latrina,
É um abandono só.
*
Se o dono não fosse um “Jó”
Você seria zelado.
Mas como você tem vários
Donos, tudo acomodado.
Que só querem se dar bem,
Não sabem o valor que tem,
Sua Historia, seu legado!
*
De publico ele foi chamado,
Mas era particular.
E talvez por causa disso,
Ninguém quis lhe ajudar.
E que fique desse jeito,
Botam a culpa no prefeito,
É bem mais fácil julgar!
*
Um ao outro vai falar,
Está muito bom assim.
De uma forma ou de outra,
Essa História chega ao fim.
E mesmo se não chegar,
Se um dia alguém reformar,
Vai ser vantagem pra mim!
*
E de esperar enfim,
Sua parede rachou,
A madeira deu cupim,
Das telhas, pouco sobrou.
Exposto a chuva e ao vento,
Seu final foi triste e lento,
Mas mesmo lento, chegou!
*
Como o tempo não parou
E a História segue em frente.
Seus edemas aumentaram
Cada dia mais doente.
O sal ia lhe comendo,
A parede apodrecendo
E quem perdeu foi à gente.
*
Nasci num país demente
Numa cidade é sem dono.
Onde um centro comercial,
Se acaba no abandono.
Aqui se anda pra trás,
Quem promete, nunca faz,
Vivem num eterno sono.
*
Muito rei e pouco trono,
Muitos porcos na engorda.
Os povos fecham os olhos,
Pra quem tá puxando a corda.
Parece que ninguém viu,
Que essa ponte caiu
E o rio podre, transborda?
*
Um dia essa gente acorda
E vê a realidade.
E passa a eleger um líder,
Com responsabilidade.
Que pare de destruir
E comece a construir
Aqui, uma nova cidade.
*
E sem essa insanidade,
Tem-se um lugar reservado.
Para uma cidade nova,
Com alicerce no passado.
Para não errar de novo
E que cuide do seu povo,
Pra ser mais culto e educado.
*
Sem povo civilizado
Todos viverão no escuro.
Vai ter muito mais ladrões,
Mais alta vai ser o muro.
Crianças vivem trancadas
E crescem alienadas,
Sem presente e sem futuro!
*
Para entender o apuro
E a coisa como é que está.
Dê um passeio na cidade
A pé, de carro... Mas vá.
Que está tudo mal cuidado,
Eu lhe pergunto, e o “Mercado?”
Diz-me como chegar lá.
*
O Mercado já não há,
Porque não existe mais.
Ele está só na lembrança
Dos seus avós e seus pais.
O presente o destruiu
E o futuro não viu
A herança dos ancestrais.
*
*
Não adianta uis e ais,
Por ele não existir.
Mas lembre quando eu falei
De quem não quer construir.
Se tem buracos na rua
A culpa também é sua,
Por todo o prédio ruir!
*
E ainda tenho que ouvir,
Político estufando o peito.
E dizendo: se eu ganhar,
Faço um do mesmo jeito.
De quebra aponta um culpado,
Nem lembra que no passado
Também era um suspeito.
*
Botar culpa num prefeito,
Qualquer um pode botar.
O problema é que depois
Que apontar, tem que provar.
E é nessa hora que o povo
Cala-se e elege de novo,
Aquele que puder lhe comprar!
*
Não adianta lamentar
O mercado foi desfeito.
A todos cabe a culpa,
Também por nada ter feito.
Agora vamos tentar
Da próxima vez não errar,
E escolher alguém direito!
*
Vi sua queda e o efeito
Em ritmo acelerado.
Lembrei de Tiradentes,
Quando foi executado.
A História se repete,
Mais um erro se comete,
Botando o pé no passado!
*
Vi telhas por todo lado,
Gente pegando a madeira,
Outros levando os tijolos,
Muitos comendo poeira.
E eu que te vi brilhar,
Tristonho o vejo tombar,
Transformado eu uma caveira!
*
Passaram o trator de esteira,
Sem ter dó nem piedade,
Pra destruir é tão simples,
Todos têm capacidade.
Do pôr-do-sol à alvorada,
Sobrou entulho e mais nada
Do Mercado da cidade!
*
É essa é a realidade,
Porém não custa sonhar.
Pois se hoje está difícil,
Bem pior pode ficar.
Nesse sistema selvagem,
Quase ninguém tem coragem
De construir, sem roubar!
*
E hoje aqui quem chegar,
Se procurar não vai ver,
Uma parte da História
Que o povo deixou morrer.
Na certa vão lamentar,
Porque não pode ajudar,
*
*
Sei que um dia há de ter
Alguém que tenha vontade.
Caráter acima de tudo,
Garra e honestidade.
E que não faça cartel,
Pra transformar Rafael
Em uma nova cidade!
*
Com essa mediocridade,
Rafael andou pra trás.
Só temos periferia,
O centro e o mercado jaz.
E a pobreza aumentando,
Porque quem está mandando,
Só promete e nada faz!
*
Mas tem político capaz
De apontar mil soluções.
Pra resolver os problemas
Na época das eleições.
É só promessa e mais nada
Tudo conversa fiada,
Vendedor de ilusões!
*
falam em novas construções
E no que vão concertar.
Prometem tapar buracos
Das ruas ou asfaltar.
Prometem até dá aumento...
-Nem folha de pagamento
Eles conseguem pagar!
*
Todos prometem mudar,
Depois que entra em ação.
Muda de casa e esposa,
De honesto pra ladrão.
Porque só pensam em somar
E acham que enganar,
É a melhor solução!
*
Quando dizem sim, é não,
O talvez é só promessa.
Quem quer cadeira na frente,
A de trás, não interessa.
Todos sabem atuar
Pois chegam até a chorar,
Meu Deus, que política é essa!
*
Tem uns que sobem depressa
E da mesma forma, desce.
Quando perdem o poder
Toda a sujeira aparece.
Escorregam no quiabo,
Mais um santo vira diabo,
Inda bem que isso acontece...
*
Tem quem prometa em prece,
“Na próxima eu acerto.”
Mas como vai acertar,
Se não tem ninguém por perto.
Que tenha um bom coração,
Seja honesto, não ladrão,
Sensato em vez de esperto?
*
Para não ficar deserto
Arvore tem que ter raiz.
Filial pra dar bons lucros,
Tem que ter boa matriz.
E pra cidade crescer
O líder tem que saber,
Fazer seu povo feliz!
*
*
Precisa ter diretriz
E aprender a preservar.
Quem não escreve a História,
Não vai ter o que contar.
Quem vive a margem do rio
Com medo do desafio,
Jamais aprende a nadar!
*
Vamos ter que acordar
Pra nossa realidade.
Procurando um sangue novo,
Com responsabilidade.
É difícil de encontrar,
Mas nós temos que tentar,
Antes que acabe a cidade!
*
Deixar de lado a vaidade
E aprender a interagir.
Pois quem aprendeu somar,
Deve saber dividir.
Sabendo equacionar,
Inclua multiplicar
Em vez de subtrair!
*
Vi o Mercado ruir
E esperei o resultado
Das promessas que fizeram
De fazer outro mercado.
Com praça, jardins e banco,
Mas foi um elefante branco,
Que ali foi edificado!
*
Com um formato curvado
Parece um grande caixão
De defunto, é muito feio,
Mas ainda tem babão
Que diz: que o prédio é bonito,
Mas além de esquisito,
Tem pouca utilização!
*
Parece hangar de avião,
É feio e não tem aval.
Mas deram o nome bonito,
Que é de: Centro cultural.
Por não ter ventilação,
Tá cheio de infiltração
E é um fedor infernal!
*
E hoje usam esse local,
Pra fazer aniversários.
Ou para as convenções
De interesses partidários.
E no final tudo são,
O mesmo que o circo e pão,
Para atrair otários!
*
Quem achar que á ao contrário
E a minha História é incompleta.
Conte uma melhor que essa,
Mais verdadeira e completa.
Não condene o pré-leitor,
Que é aprendiz de escritor
Que Deus deu o dom de Poeta!
*
*
Se eu atingi minha meta,
Sem falar mal de ninguém.
Pois sei que a culpa é de todos...
Se é de todos, sou refém.
E que ao terminar de ler,
Você possa escrever,
A sua História também!
*
D-espeço-me porque convém,
A-té logo e obrigado.
M-as sou contra esses descasos
I-sso me deixa arretado.
A-ssim eu vou encerrar
O Com o pé no passado!
*
Fim.