PAI POBRE, MAS É PAI.
De camisa amarrotada
E de rosto fadigado
Sapato velho e furado
Uma calça jeans surrada
Mãos laçadas na enxada
Nunca fez escrita em giz
Nunca passeou em Paris
Homem criado no mato
Popular do anonimato
Mas, porém sempre feliz
Nunca degustou da fama
Nem provou filé mignon
A virada de réveillon
É deitado em sua cama
No casebre cor de lama
Tem aberto uma ferida
Causa duma despedida
Radio velho de acalanto
Ameniza o seu pranto
E segue de cabeça erguida
Nunca usou de bom costume
Nem trejeito de candura
Pois o cheiro de gordura
Transformou-se num perfume
Nem por isso faz queixume
Nunca foi nenhum galante
Nem sentou em restaurante
Vive preso na mesmice
Cadeado de chatice
Mas a sua alma é brilhante
Nunca dedilhou viola
Nas rodas de cantoria
Não distingue a melodia
Recitada na vitrola
Nem sequer usou cartola
Não tem plano hospital
Muito menos funeral
Nunca viu a cor do ouro
Nunca ajuntou tesouro
Mas não deve um real
Homem bruto e ignorante
Sem traços de formosura
Culpa desta vida dura
Não tem fotos na estante
Um adorno sem brilhante
Mente rica, corpo pobre
Um troféu feito de cobre
Perna fina e toda suja
Não tem nada de lambuja
Mas seu coração é nobre
Mas se caso for medido
Com a trena da justiça
Não é homem de preguiça
Nem comete alarido
Sempre foi um bom marido
Nunca andou fora dos trilhos
Nem criava empecilhos
Homem de grande valia
Pois é chefe de família
E orgulho para os filhos