PAI POBRE, MAS É PAI.

De camisa amarrotada

E de rosto fadigado

Sapato velho e furado

Uma calça jeans surrada

Mãos laçadas na enxada

Nunca fez escrita em giz

Nunca passeou em Paris

Homem criado no mato

Popular do anonimato

Mas, porém sempre feliz

Nunca degustou da fama

Nem provou filé mignon

A virada de réveillon

É deitado em sua cama

No casebre cor de lama

Tem aberto uma ferida

Causa duma despedida

Radio velho de acalanto

Ameniza o seu pranto

E segue de cabeça erguida

Nunca usou de bom costume

Nem trejeito de candura

Pois o cheiro de gordura

Transformou-se num perfume

Nem por isso faz queixume

Nunca foi nenhum galante

Nem sentou em restaurante

Vive preso na mesmice

Cadeado de chatice

Mas a sua alma é brilhante

Nunca dedilhou viola

Nas rodas de cantoria

Não distingue a melodia

Recitada na vitrola

Nem sequer usou cartola

Não tem plano hospital

Muito menos funeral

Nunca viu a cor do ouro

Nunca ajuntou tesouro

Mas não deve um real

Homem bruto e ignorante

Sem traços de formosura

Culpa desta vida dura

Não tem fotos na estante

Um adorno sem brilhante

Mente rica, corpo pobre

Um troféu feito de cobre

Perna fina e toda suja

Não tem nada de lambuja

Mas seu coração é nobre

Mas se caso for medido

Com a trena da justiça

Não é homem de preguiça

Nem comete alarido

Sempre foi um bom marido

Nunca andou fora dos trilhos

Nem criava empecilhos

Homem de grande valia

Pois é chefe de família

E orgulho para os filhos

Pietro Assis
Enviado por Pietro Assis em 11/08/2011
Código do texto: T3154296
Classificação de conteúdo: seguro