Jonas, o Profeta.
Eu nasci num pé de serra
Na banda do ocidente
Meu pai, pobre e agricultor,
Um cristão muito decente
À noite, ao contar dos causos
Dominava o ambiente
Eu me lembro das histórias
Que ele contava pra mim
A fim de me dar exemplo
Falava mal de Caim
Mas a melhor que eu achei
Foi uma que diz assim:
Tá vendo aquela latada
Ela serviu de tapera
Ali viveu um profeta
Durante uma primavera
Parecia um franciscano
Mas eu não sei se ele era
Deus um dia lhe chamou
E a ele deu um recado:
Compareça em Caicó
Diga ao povo malvado
Que mude de atitude
Pois eu estou chateado
Se acaso eu ficar sabendo
Que há alguém em perigo
A partir deste momento
Eu prendo seu inimigo
O qual será devorado
Pelo monstro papa-figo
Deus ficou esperançoso
Pois queria obediência
Desse jeito está na Bíblia
A fonte dessa ciência
Jonas, o grande profeta
É dele esta referência
Porém, Jonas, desta vez,
A Deus desobedeceu
Em vez de ir a cidade
Ele ao açude desceu
Pegou anzol e canoa
Foi pescar, adormeceu
Deus ficou bem invocado
Com a atitude do profeta
Soltou uma tempestade
Que ela saiu numa reta
Atingiu o barco dele
Foi destruição completa
Jonas desapareceu
Foi o maior alarido
Ninguém sabia explicar
O que tinha acontecido
Aí o povo pensou
Que Jonas tinha morrido
Foram três dias seguidos
No barreiro procurando
Passaram rede de arrasto
Com o açude sangrando
Por não encontrarem Jonas
Só via gente chorando
Uns cinco dias depois
O homem de Deus chegou
Se dizendo arrependido
A todo mundo saudou
Debaixo de um juazeiro
O ocorrido ele explicou:
“-Eu dormia na canoa
Quando do vento levei
Um coice no pé do queixo
Que uns cem metros voei
Fui parar num tabuleiro
Caí sentado e fiquei.”
Ele disse que o lugar
Era quente feito brasa
Tinha muito chique-chique
Dar uma canseira que atrasa
Foi quando ele orou a Deus
Querendo voltar pra casa
Também pediu a Jesus
Que por ele intercedesse
Que ficaria feliz
Se por acaso chovesse
E o sertão virasse mar
E um peixe lhe comesse
Depois de muita oração
E por ter se arrependido
Foi a vez de Jeová
Em Jonas dar um batido
Dizendo que nunca mais
Descumprisse o prometido
Quanto ao sertão virar mar
Não tinha sido aprovado
Por que quem é sertanejo
Da mão grossa e pé rachado
Acha o sertão uma glória
Nem se sente castigado.
O arcanjo impaciente
Falou pela última vez:
Portanto, se avexe logo
Faça o que você não fez
Diga ao povo brocoió
Que acabe com a malvadez
Aí o grande profeta
Num ato de gratidão
Mandou-se pra Caicó
Sob o luar do sertão
Lá na praça do coreto
Juntou grande multidão
Jonas muito satisfeito
Ao povo deu o recado
Disse que sofreu castigo
Por que caiu em pecado
Mas orou, se arrependeu
E por Deus foi perdoado
Foi quando meu pai me disse
Com muita sinceridade:
Quem duvidar dessa história
Quiser saber se é verdade
Procure nas escrituras
Pode ficar à vontade
Hoje ainda eu tenho medo
De ser grande pecador
Por isso sigo os princípios
Que Jonas nos ensinou
Se o povo obedeceu?
Nunca mais ninguém pecou!!