UM PESADELO REAL
DE QUEM AMA A NATUREZA

de Rosa Regis

Depois de um de luta
Eu resolvi me sentar
Para descansar um pouco
Antes de me preparar
Para a novela das nove
Que a Rede Globo promove
E a ninguém deixa escapar.

Era começo de noite
Com um restinho de dia
De um sol quente de rachar
Que, agora, já esmorecia.
Meu corpo estava “quebrado”
Devido ter trabalhado
Bem mais do que deveria.

Pensando com meus botões
Vi-me a me preocupar
Com o nosso planeta Terra
E passei a rabiscar,
Lembrando que a Natureza
E toda a sua beleza
Pode um dia se finar.

Fui encostando a cabeça
Na mesa onde eu escrevia
Enquanto, de lá de fora,
Um belo trinar ouvia.
Era um bem-te-vi cantando.
Ali eu fui cochilando,
Nem percebi, já dormia.

Quando dormi eu sonhei
Que estava sobrevoando
O nosso Planeta Terra
Devagarinho, planando,
Como sendo um passarinho
Que sobrevoa seu ninho
Temendo um ataque nefando.

Lá de cima eu vi o quanto
O ser humano é ruim,
Parece até que só tem
Parentesco com Caim.
Não o estou depreciando
Ou, por maldade, inventando
E nem fazendo pantim.

Porém não generalizo
Afirmando que os humanos
São todos maus! No entanto
Alguns são mui desumanos
Quando, só pelo dinheiro,
Espalham no mundo inteiro
Atos bem pra lá de insanos.

De lá de cima vi homens
Ao planeta devastando:
Poluindo a água dos rios;
Às árvores derrubando
Sem pena, sem compaixão,
Tão somente na intenção
De com isso ir enricando.

Animais da nossa fauna
E das de outros países
São mortos sem piedade!
Pelo contrário, felizes
Eles sentem-se em matar
Tão somente pra ganhar.
Seguem suas diretrizes.

Fábricas poluindo o ar,
Milhões de carros também;
A tal camada de ozônio
Já bem muito perto vem.
O gelo está desmanchando.
E o homem está ajudando
A fazer mal, não faz bem.

Animais em extinção,
Por eles não há respeito,
São mortos por encomenda!
E se se aponta um suspeito
Fala mais alto o dinheiro
Que vem de lá do estrangeiro
Acobertando o sujeito.

O mico-leão dourado
Que quase mais não se vê,
Quem fez que o mesmo sumisse
Foi o ser humano, um ser
Que deixou de preservar
A Natureza. E a matar
Passou, para enriquecer.

No meu sonho-devaneio
Eu continuo voando
E, de repente, percebo
Que algo está se passando.
Da nossa mata amazônica
Digo de desgosto, afônica,
Grande parte está queimando.

Logo ali mais adiante
Vejo uma árvore cair,
Seguida de várias outras.
E, no seu tronco, a sorrir,
Um homem trazendo à mão
A arma da sua ação:
A serra elétrica, a luzir.

Meu peito fica apertado
Por perceber a maldade
Que carrega o ser humano
Na sua alma, na verdade,
Que não respeita a beleza
Da nossa Mãe Natureza,
Agindo com atrocidade.

Passo à frente e sobrevoo
Agora por sobre um rio
Ou o que restou do mesmo.
Penso, tendo um calafrio.
Pois o lixão da cidade
É o que é em realidade,
Hoje. E, de peixes, vazio.

Crianças tomando banho
No que parece ser lama,
Numa alegria inocente.
Meu consciente conclama
Um pedido de clemência
Para aqueles que a decência
Ainda tem brilho e chama.

De um cancão na gaiola,
Eu ouço o triste cantar!
E um papagaio falando,
Tentando ao dono imitar
Escuto, e fico irritada.
- Eita, gentinha danada!
Ouço a mim mesma, gritar.

Uma arara que, amarrada
De corrente pelo pé,
Com um menino, na cabeça,
Fazendo-lhe cafuné,
Diz, num som repetitivo:
Arara! Arara!... É motivo
Para apelar para a Fé.

Meu Deus tende piedade
Do que criaste na Terra!

Pois o homem tá se achando
Dono de tudo! E, assim, erra
Pelo mundo a depredar,
Sem parar para pensar
Que o crescimento ele emperra.

Sem nem se preocupar
Com o que deixa para trás,
Só pensando em conseguir
Bens que mais rico lhe faz,
O ser humano esqueceu
Que o mundo não é só seu.
Sua ambição é voraz.

Vou voando e percebendo
A desarmonização
Que existe na Natureza
Quando o homem, numa ação
Predatória, vai seguindo
Seu caminho destruindo
Sem qualquer reflexão.

Parece que o coração
Do ser humano secou,
Já não há quaisquer resquícios
Do Amor que Deus deixou.
Eu vejo-me perguntando:
- Para que tanto desmando?
Será que o mundo endoidou?


Sociedade em conflito
É o irmão contra o irmão;
É filho agredindo os pais
Fugindo à religião.
Selva de pedra selvagem
Aonde a libertinagem
Troca o valor da ação.

A indiferença humana
Que há pelo semelhante
Nos mostra como a amizade
Já nada vale, diante
Da riqueza, do dinheiro,...
E que o nome “companheiro”,
Hoje, tem som destoante.

Os ideais, quando entra
O interesse monetário,
Caem por terra. O que se vê
É o pensar de modo vário.
Há, pois, poder de barganha,
Quem oferecer mais, ganha.
“Boa ação” por honorário.

Sigo voando e pensando:
Será que há solução?
Será que os seres humanos

Um dia se tocarão
Que estão no caminho errado,
Seguindo por outro lado?
E será a tempo, ou não?

Esses são meus pensamentos
No meu sonho-devaneio
Que eu vejo é interrompido
Por um mosquito, que veio
Atrapalhar meu cochilo.
E agradeço, pois aquilo
Pôs–me o coco em aperreio.

Mas continuei pensando,
Mesmo depois de acordada,
Sobre o problema da Terra
De como ela é depredada.
E aí, pensei comigo:
Vou dividir com um amigo
Para fazer mais zoada.


Mas, depois, pensei melhor
E disse, pra mim, assim:
Com um não, com muita gente!
Pois que: timtim por timtim,
Eu vou contar num cordel,
Por o sonho no papel
Para todo mundo, enfim.

Desta forma, estou trazendo
Para quem quiser me ler
Minha preocupação
Com o que pode ocorrer
Com o Planeta, com o Mundo,
Se o homem um pensar profundo
Não vier desenvolver.

Mostrando nesse cordel,
Que pode não ter beleza,
Mas foi gerado, eu afirmo,
Você pode ter certeza,
De um sonho, qual um sinal:
UM PESADELO REAL
DE QUEM AMA A NATUREZA




Natal/RN

13 de julho de 2011

Revisado em 08 de junho de 2022