Amor Nativo
Gostaria de compor poesias,
contando os meus caminhos
de felicidade e de espinhos
em cada um de meus dias.
Apesar do difícil improviso
que tanto brilha em alguns
sou destes poetas comuns
que não tem a inspiração
como tem no coração
os poetas de Garanhuns.
Que cantam a desdita vivida
a grande seca e o inverno
mas aquele colo materno
deles nunca vai ter a despedida.
No couro que veste seu corpo
é notória a sua face nobre
onde nunca se vê um pobre
que trás na alma o traço forte
destes que não perdem seu norte
nem o amor pela terra encobre.
Ah! Eu ouviria o canto do anu
no ressequido da caatinga
lá onde o feijão pouco vinga
e viçoso cresce o mandacaru.
Onde o Brasil se veste sertanejo,
seria feliz junto ao equador
fazendo poesias pro meu amor
e no doce de cada alvorada
dividindo com minha amada
momentos de alegria e de dor.
O céu que banha o litoral
é um lindo presente divino
alí o jangadeiro e o destino
tem um encontro pontual.
Diante das brisas atlânticas
lança ao mar a frágil jangada
para a diária e longa jornada
onde pede em oração
para Deus a proteção
e fartura na sua chegada.
Os lindos lençóis do Maranhão
cobrindo a visão de beleza
dá ao visitante uma doce certeza
que Deus ali colocou a mão.
Onde as lendas falam de Donana
na sua surreal carruagem
carregada de antiga miragem
a bela São Luis aparece
e no dia claro que entardece
a alma começa a viagem.
O agreste sob o lindo céu
onde canta feliz a jandaia
e a pequenina mandaçaia,
faz um doce e abençoado mel.
Eu cantaria para todo sempre
com uma paixão de amante
com a persistência da avoante
e talvez na verde serra
eu veria até a minha terra
neste meu sonho viajante.
Embora ame o querido nordeste
a fibra desta valorosa gente
estou feliz pelo amor que sente
a minha alma que esta alegria veste.
Mas quero estender a minha emoção
falando um pouco do céu gelado
que cobre as araucárias no prado
da longa planície do pampa
onde o nativismo faz a rampa
para cantar dos farrapos o legado.
Somos um pouco deste Brasil
com cheiro de mate e churrasco
onde o inverno frio e carrasco
não faz do sulista um servil.
Temos um pouco de nordestino
na fibra guapa altaneira
na poesia ou na peixeira
não nos entregamos a desatinos
e da dificuldade nós rimos
com Deus sempre na algibeira.
O minuano que traz o frio
é o mesmo brisa na primavera
é o tempo sobre a tapera
é Porto Alegre sobre o rio.
É a bela e Santa Catarina
o Paraná beijando o Iguaçu
o sul é um canto de inhambu
de Garibaldi, o herói farroupilha
é a história contada em milha
nas guerras de Sepé Tiaraju.
Quando dançam os sulistas
no balanço da chucra vanera
é como no Recife a ladeira
com o frevo dos malabaristas.
Somos diferentes em detalhes
quando no nordeste se diz, oxente!
O tche do sul não é diferente
pois é a expressão brasileira
amor da mesma maneira
nesta nação de toda a gente.
Gostaria de compor poesias
com churrasco e gosto de paio,
carne seca da feira de mangaio
e a luz de Garanhuns nas fantasias.
Quem sabe um dia eu viaje
nas asas de um cordel
vislumbrando o lindo céu
que Deus na criação nos deu
e posso dizer que valeu
ter cantado este chão.
Malgaxe
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