Dois caçadores no alto do Piancó

Vou contar para vocês Um causo que se assucedeu

Num dia que uma caçada

Quase que me enlouqueceu

Quando sai pra caçar

Junto com um amigo meu

Se avistamos num domingo.

E combinamos a caçada,

Vamos sair na sexta feira,

Ás treis da madrugada

Quando for no domingo,

Aí nóis volta pra casa.

Quinta feira as dez horas

Ele chega La em casa.

No bisaco só havia

A munição da espingarda

E comida quera bom

Não levava era nada.

Então fui no armário

Ainda lembro os ingredientes.

Um quilo de arroz

Um meio quilo de Sá

Uns temperos e uma vazia

Promode nois cozinhá.

Também peguei um açúcar

E um pacote de café

Um pouquinho de farinha

O fosco e umas culé

Fomos durmir e três horas

Agente já tava em pé.

Saímos com nossas coisas

Pra o tal do piancó

Mais o caminho já dizia

Que ia ser de dar dó

Pelas coisas que acontecia

No meio dos cafundó.

Era cachorro que latia

Jumento que relinchava

A coruja que piava

Também dava seu siná

Dizeno que a caçada

Ia ser é de lascá.

Chegando no são Gonçalo

Um susto pro amigo meu

Que pulou da bicicleta

E um grito ele deu

Por causa de uma cobra morta

Que ali apareceu.

Desci da bicicleta

Estiquei essa tal cobra

Medi ela com passada

Mais de dois metro e mei

Esse era o ultimo sina

Pra gente vortar de vez.

Não voltamos e continuamos

Nossa jornada pela estrada

Já passava das quatro horas

E no lugar não chegava

Quando vi foi uma queda

Que meu amigo levava.

Quebrou a nossa lanterna

Mais não paramos a caminhada

Já era sete da manhã

Perguntei se longe estava

Ele disse é mais na frente

Mais na frente nunca chegava

Perguntei umas seis vezes

Mais ele sempre me enganava

É bem ali depois lá

Mais bem ali que nada

Esse lugar era tão longe

Que eu já tava com raiva

De repente bem na frente

Ele parado estava.

Amarelo e sem sangue

Do medo que se passava

Era um onça de bode

Que a estrada atravessava

Passamos numa ladeira

Que nunca se acabava

Dois quilômetros de descida

xerem de pedra na estrada

E placas que existiam.

Proibiam as caçadas.

Proibido caçar!

Aqui no saco dos breus.

Foi essa amais engraçada .

Se ali era proibido

Imaginem o ocorrido

Quando chegamos no piancó

Faltava uns dois quilômetros

Chegamos no sitio Bonito

Tinha uma casinha ali

No meio do esquisito

Onde uma mulher e um homem

Com seus filhos criam cabritos.

Os meninos se esconderam

De medo de ver agente

Pois ali nesse lugar

Num era coisa ocorrente

Ver gente na freguesia

Pois visinhos não existiam.

Tomamos um cafezinho

E continuamos a caminhada

Era nove da manhã

E caçar quera bom nada

Comecei ver Passarim

Pensei vai ser boa a caçada

Atravessando um riacho

Um gato pula na frente

Meu amigo muito demente

Pois –se fazer pelociná

Ui! Um gato preto

Ele começou gritá

Comecei a sorrir dele

Que inocente o coitado

Perdeu de fazer a caçá

Que passava ali do lado

Pois o gato quele falava

Era um gato azul do mato

Logo a frente nois chegamos

Nesse tal de piano

Chegando La na fazenda

Avistei uma mulher só

Que raspava uns maxixe

Pra cumê cum mocotó

Meu amigo perguntou

Pelo um tal de Filomeno

Ela disse ta La embaixo

Numa cerca ta mecheno

Vão La falar com ele

Nois foi pra La correno

Chegamos La a surpresa

Que eu ainda não sabia

Pois eu vim a descobrir

O pior daquele dia

A tal caçada da gente

Virou-se em agonia.

Fomos recebidos bem

Mais é bem desagradável

Seu Flomeno armado

E um peão logo ao lado

Com uma lavanca na mão

E outro homem armado

Meu amigo fala a caçada

Para admiração minha

Pois ele tinha me dito

Que a caçada ele já tinha

Falado com Filomêno

Mais na verdade não tinha.

A resposta foi a seguinte,

Pra começar nossa agonia.

Num quero ouvir um tiro

Aqui na minha freguesia

E se ouvir chamo os home

Pra tirar a teimosia.

Olhei pra o meu amigo

Deu vontade de matá

Tu num disse que tava certo

Essa agora é de lascá

Voltar pra casa sem nada

E doze léguas pedalá.

Peguemos a bicicleta

De volta a pedalar

Mais resolvemos ir contra ele

E num açude parar

Tinha caça pra todo lado

E nois com medo de atirar

Já ia dar cinco da tarde

E nada da gente caçar

Resolvemos pedir abrigo

No sitio de Severino

Pra casa não dava

Pra gente voltar

No terreiro contava historia

Da onça que andava lá

Tem uma tal de onça preta

Mais a pior é a marruá

Que passeava na serra

Por onde tínhamos que passar

Combinamos que íamos dormir

Mais no outro dia

Íamos sair pra caçar

Bem cedinho nois levanta

E coloca o pé na mata

Vamos pro açude voltar.

Foi o que fizemos

Nesse dia de agonia

Saímos de manhãzinha

Mata a dentro feito doido

Na margem do açude

A marca da marruá

O rastro era da onça

Que passeava por lá

Meu amigo fez cara feia

Dizendo que ia voltar

Eu disse já tou aqui

E agora eu vou caçar

Começamos a arrodear

Esse açude desgramado

Que na mata ia descendo

E não dava pra atravessar

E nessa historia nem um tiro

E nada pra gente matar.

Quando vi na minha frente

Uma jaçanã pousando

Quando faço pontaria

A bicha já sai voando

Sorrindo da minha cara

Se pensa que me mata é engano

Quando chega meio dia

Cozinhamos um arroz

Botei sal e meu amigo

Já disse pra botar mais

Fui botando e experimentando

Já tem sal ate demais

Quando o arroz cozinho

Ficou mais salgado que o mar

Não agüentei nem comer

Ai eu quis melhorar.

Botei açúcar pra ver

Ai ficou de lascar.

O arroz eu não comi.

Bebi água sem parar

Daí foi que me lembrei

Da cena que antes vi

Uma ossada de vaca

Na água que eu bebi

O tal açude era

Um cemitério de vaca

A água contaminada

Estava cheia de larva

Eu desejei nessa hora

Vomitar ate a alma.

Para o desespero da gente

Nos perdemos umas seis vezes

E em vez de caçar

Fiçamos a caminhar

Resolvemos ir embora

Antes da onça passar

Já era quatro da tarde

Resolvemos ir pra casa

Atravessamos a mata

Rumo a nova caminhada

Da casa de Severino

Seguimos nossa jornada

Meu amigo não quis que agente

Parasse para jantar

Mais a fome era imponente

Não parava de castigar

Mesmo assim obedeci

E saímos a caminhá

Já ia dar seis da tarde

Começou a reclamar

Vamos embora ligeiro

Antes da marruá voltar

Pois íamos passa na trilha

Que fica numa serra lá

Andemos umas duas hora

Comecei a reclamar

Pois eu estava com fome

E não agüentava andar

Empurrando a bicicleta

E a arma pra completar.

Ele pensou quera mentira

E começou a brigar

Então pegue no peso

Me ajude a levar

Ele disse eu também tenho

A minha para levar

Mais a sua é mais maneira

Pegue aqui pra confirmar

Entreguei a espingarda

E comecei a caminhar

Ele viu quera verdade

E devagar começou andar.

Mais disse que na frente

O passo tinha que apertar

Pois já estava na hora

Da marruá passar

E não faiava uma noite

Que não ouvisse ela urrar.

Eu brabo feito um doido

Comecei logo gritar

Deixa esse bicho valente

Aparecer na minha frente

Que boto é pra lascar

Meto bala nos zói dela

Quer ver venha pra cá!

Você deixe de ser mole

Seu cabra quer apanhá?

Tu com essa espingarda

Mais um cartucho da praça

Ainda fica a chorar.

Ele então se calou-se

E continuou caminhá

A fome já sufocava

E a sede a matar

Já era oito da noite

Comecei a reclamar

Quando subimos a serra

Um pé de mamão avistei

Fui olhar mai bem de perto

Pra ver se eu estava certo

Que a fome ia matar

Me enganei mais uma vez.

Não tinha nem pro freguês

De triste pus-me a chorar

A sede já sufocava

Não dava mais pra andar

A lua estava clara

Olhei pra cima a gritar

Foi nesse dia que Deus

Me fez nele acreditar

Pois meu grito Ele ouviu

E me fez remediar

Um gole de água meu Deus!

Pra minha cede matar!

Foi um grito que se ouviu

No céu e até no mar

Pois na frente eu encontrei

A água melhor que há

Uns dez metros ele me fez

De do caminho desviar.

E passamos numa vareda

E a água vim encontrar

Tinha sapo e tinha rã

Mais água melhor não há

Foi essa que me salvou

E me fez ressucitar

Recarregou minhas forças

Pra depois sair com as bolsas

Na bicicleta a pedalar

Logo a frente eu parei

Para me alimentar

Com as folhas do umbuzeiro

O único que tinha lá

Que forneceu suas folhas

Para me deliciar

Foi esse o meu alimento

Nesse dia de sofrimento

Naquela terra de lá

Depois de satisfeitos

Saímos a pedalá

Seguimos uma luz

Que era viata de là

Quando vimos estava perto

De uma Cida chegar

Percebi que perdidos

Agente outra vez estava

Voltamos e saímos

Fora da nossa estrada

Quando vi na barriguda

A solução da jornada

Perguntei em uma casa

Por uma mulher

Que mora ali na área

Ela é como uma mãe

E tando lá

Tava em casa.

Mais erramos o caminho

Fui parar em outra estrada

De volta errei denovo

Fui parar nun currá de cabra

E os donos num forró

Eita noite desgraçada!

Meu amigo já queria

Voltar para barriguda

Eu briguei e bati o pé

Num vou e se quiser

Saia ai andano a pé

Que eu me viro aqui só.

Resolvi pegar uma vareda

Subi dizeno besteira.

Passei perto de uma casa

Mais num parei pra perguntar

Me arrependi e voltei

Foi nessa que me lasquei

Deixemos as bicicletas

Logo a cima uns cem metros

Já fui chegando pra perto

Da porta me aproximei falando

Mais ai é que o fulano

Se escondeu e se escafedeu

Eu gritava .

E o dono nem falava

Ô de casa, e nada

Ô de dentro,e nada

Meu amigo exclamou

_Aí num tem é ninguém

Aí eu me zanguei

Tem queu ouvi umas pisadas

Foi então que avistei um mamoeiro.

_O dono da casa que me perdoe

Mais de fome eu não morro

E mamão quera bom nada.

Vi um pé de bananeira

O dono da casa que me perdoe

Mais se tiver banana eu como

Mais banana nem a casca.

Subindo em uma escada

Adivinha o que acho?

O dono da casa que me perdoe

Mais de sede eu não morro

Pelo menos isso tinha

Era o banheiro que cheio

A lua ali refletia

Quase choro de alegria.

Resolvi ir dar uma olhada

Em um terreno ao lado

Uma pedra e um coqueiro

Mais uma casa do lado

Fui lembrando de vagar

Foi que vi onde queu tava.

Voltei correndo saltitante

Alegrimente eu gritava

Pois achei a dita casa

Que a tempo procurava

A casa é La em cima

Continuamos a jornada

Subimos a ladeira

Ligeiro sem reclamar

Chegando La no terreiro

Joguei pra La todo peso

E na porta

Eu fui chamar.

Mãe Fatiama,esse é o nome

Da mãe que conheci La

Acordou e fez comida

Também ofereceu dormida

E um banho eu fui tomar.

Pra depois nois descansá.

Na hora da jantar

Um desastre aconteceu.

Coloquei tudo pra fora

Comecei a vomitar

Pois o corpo estava fraco

E a comida não quis aceitar.

Foi então que eu tive

Que beber somente um chá

Fui dormir,de tão cansado

Não quis nem conversá

E o bom que no outro dia

Meu pai Chegou à brigar.

Isso já era domingo

E nada da gente caçar

Só passei foi um sufoco

Pra nunca mais encarar

Inda mais depois dessa

Que vem para completar

Meu amigo doido e meio

Não disse do perigo

Queu ia ter que passar

Saiu de casa escondido

Se eu soubesse não tinha ido

Pro Piancó pra caçá

A mãe dele preocupada

Pede a pai pra nos procurar

Pois nesse lugar de doido

So vai quem conhece lá

Pois tem um monte de pistoleiro

Que mata só por matá.

E enterra sem deixar pista

Pra ninguém disconfiá

São ordens dos fazendeiros

Das grandes terras de lá

Que pra ninguém se meter a besta

Querendo ali caçar.

Se não encontrar o IBAMA

Para se arrepiar.

Voltei vivo e agradeço

Nunca mais eu volto lá

So não matei meu amigo

Para não se complicar

Mais a vontade foi tanta

Quase não dá pra agüentar

Quando vi a minha mãe

Com uma cara de arrazar

Não durmiu enquanto

Não viu o filho dela voltar.

E o final disso tudo

Agora vai escultar

Se você quiser brigar

Não precisa se esforçar

Basta só me chamar

Pro piancó pra caçar.