MINHA PAIXÃO MAIS DOÍDA TEVE O NOME DE MARIA

Eu vou contar pra vocês

As grandes desilusões

Que tive sendo marcado

Pela maior das paixões

Embora tendo senões

Naquilo que pretendia

Pois a morena fugia

E a incerteza ficava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Começava numa igreja

Lá na missa de Domingo

Eu olhando pra garota

E ela pensando no bingo

Destarte do choramingo

E de toda hipocrisia

Era minha fantasia

Aquilo que mais sobrava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Se houvesse uma procissão

E eu avistasse a bendita

Mais notava em sua face

A expressão mais bonita

Dizia comigo: a fita

Agora se prenuncia

Mas na hora do bom dia

Ela depressa virava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Na festa da padroeira

Com minha roupa melhor

Pensava dar tudo certo

E acontecia o pior

Vinha o filho do major

Todo cheio de franquia

Pegava a sinhá Maria

E para um beco levava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Depois de mais de três anos

Naquela luta danada

Fui motivo de chacota

Alvo de muita piada

A vida valia nada

Esbanjava na apatia

Ao ver Maria sentia

Que ela pra mim não ligava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Foi aí que eu resolvi

Dar um basta em tudo aquilo

Seguir pela vida afora

Vender batata no quilo

Ouvir o canto do grilo

Agir com sabedoria

Vibrar com o raiar do dia

Ver quem na minha parava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Viajei o mundo todo

Muita gente eu conheci

Gente linda, gente feia

Dos tipos que jamais vi

Nesse processo aprendi

Que beleza é simpatia

e a maior garantia

daquilo que eu procurava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Tornei-me maduro e rico

Por ter muita experiência

Não acumulei dinheiro

Mas tive muita ciência

E nas trilhas da decência

Pensei retornar um dia

Para ver se ela me ouvia

E se a mudança notava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Em meio a mil turbilhões

De pensamentos tristonhos

Eu decidi dar um tempo

Adiando aqueles sonhos

Indo com traços risonhos

Em busca da alegoria

Enfeitada da alegria

Que o mundo me apresentava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Conheci muitas mulheres

Sem tirar do pensamento

A Maria sertaneja

Causa do meu sofrimento

Provei em cada momento

O pão da minha alforria

Mas indócil repetia

Enquanto mais viajava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Fui buscar mais emoções

Em terras mais que distantes

Vi coisas descomunais

Vi pigmeus, vi gigantes

Mas em meus passos errantes

Não vi o que mais queria

Pois os olhos de Maria

Minha mente impregnava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Até fui acometido

De fome, frio e doença

Superei dificuldades

Sem nunca perder a crença

Mas minha saudade intensa

Era a maior que podia

Só menor que minha agonia

Cada vez que me lembrava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Um dia tomei coragem

E para o torrão voltei

Pensando voltar por cima

De tudo que já passei

Porém quando lá cheguei

Senti minha espinha fria

Em saber que ela partia

Enquanto ali eu chegava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Esperei por longo tempo

Que seu regresso ocorresse

Mas nada se confirmando

Duvidei que acontecesse

Prometi que se devesse

Com certeza pagaria

Uma elevada quantia

Pra saber onde ela estava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Estava desesperado

Já nem dormia direito

Estrebuchava na cama

Sentia dor no meu peito

Pois parecia sem jeito

Que eu reveria Maria

Do modo que eu mais queria

Da forma que eu mais amava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia

Até que enfim a notícia

Que nunca pude esquecer

Maria vinha voltando

Pensando em poder me ver

E no acidente foi ter

Uma forte hemorragia

Que ao matar minha Maria

Só com a paixão me deixava

Quando eu ia, ela voltava

Quando eu voltava, ela ia