TENTANDO SER CORDELISTA

Sou um homem que trabalha

Garantindo meu sustento

Eu sou brisa, sou o vento

Da camisa sou a malha

Sou fatal como navalha

Um soldado no combate

Elixir de erva mate

Condutor de maquinário

Sou malandro, sou otário

Forte feito um guindaste

Nunca fui um professor

Vivo sendo estudante

Sou retrato de estante

Instrumento de doutor

Cirurgia para a dor

Sou a água, sou a sede

Sou embolso de parede

Alivio de seu cansaço

Num instante eu me faço

De gancho pra sua rede

Meu instinto é paterno

Sou um toque de veludo

Sou a força do cascudo

Meu carinho é eterno

Sou mais céu que o inferno

A casa de pau-a-pique

Bebida do alambique

Eu lhe conto meu segredo

Quase tudo causa medo

Mas não sou de dar chilique

Sou idoso, sou menino

Seu primeiro namorado

A leveza do seu fardo

Parecendo desatino

Sou viola e violino

Sou o amigo do peito

Travesseiro do seu leito

Eu sou conta de somar

Se não der pra arrumar

Pode crer que dou um jeito

Sou marido, sou amante

A chuva depois do sol

Sou a cama e o lençol

Muito claro e intrigante

Vagaroso e fulminante

Eu sou tudo de uma vez

Sou o peão do seu xadrez

Sou um macho sem pudores

Só não sou de mandar flores

Causa desta timidez

Eu sou sério, sou palhaço

Sou o drama e a comédia

O anuncio da tragédia

Da corda eu sou o laço

Alegria e embaraço

Sou roqueiro, sou sambista

Mas nunca serei artista

Tudo isso Deus que deu

Para este simples plebeu

Tentando ser cordelista

Pietro Assis
Enviado por Pietro Assis em 18/07/2011
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