"RUFINO O CALOTEIRO"

RUFINO O CALOTEIRO

(ALDO DE ALMEIDA)

Meus caros leitores

Desse país inteiro

A história a seguir

De fato não é o primeiro

Mas causou admiração

Um certo caloteiro.

Seu nome era Rufino

Conhecido da região

Morava em um sítio

Chamado de brejão

Um lugar bem distante

De toda povoação.

Quando era criança

Já fazia muita maldade

Parece que tinha no sangue

O dom da crueldade

Mas um dia a casa cai

Essa é a pura verdade.

Quanto mais crescia

Mais mentiroso ficava

Começou a dar calote

Por onde ele passava

Até o padre da igreja

Rufino engabelava.

Pedia perdão a Deus

Mas não tinha mais jeito

Dava calote em todo mundo

Sem levantar suspeito

E cada vez mais rico

Para isso tinha peito

Um certo dia bem cedo

Rufino roubou um boi

Disse que tinha comprado

Só não disse quanto foi

Levou um cacete da gota

Que só podia dizer “ôi”

E nessa vida terrestre

Mentir não compadece

E caloteiro dá golpe

Que sua fama cresce

Você compra parecido

Mas com certeza não parece

E no vai e vem da vida

O grande dia chegou

Parece que o destino

Contra Rufino virou

E desse dia em diante

Seus pecados pagou

Rufino quando ia viajando

Encontrou na estrada

A pior das coisas

Por ele encontrada

Uma vaca véia e fraca

Numa cerca apiada.

Não pensou duas vezes

Disse agora eu me armo

Vou vendê-la no sítio

De Dona Maria do Carmo

Digo que ganhei no bingo

Do bar de Zé macabro

Chegando ao sítio

Foi chamando logo a véa

Que saiu logo pra fora

Parecendo uma centopéia

Rebolando e se mexendo

Como se fosse uma geléia

Falou: diga bom rapaz

O que é que você quer

Porque hoje tô que tô

Topo tudo que vier

E um moço novim assim

Faço dele um sarapé.

Rufino muito acanhado

Você sabe como que é,

Falou com sigo mesmo

Nessa “véa” eu boto fé

Vou dar um golpe grande

Que não vai ficar de pé.

Falou: é que estou vendendo

Essa minha vaquinha

Ela bota 10 litros de leite

Em uma manhazinha

E nessas condições

Não posso com a bichinha

Preciso de dinheiro

Para sustentar a família

Tenho só quatro filhos

Tereza, Mateus e Emilia

E tem mais a caçulinha

Chamada de Cecília

Além disso, essa vaca

Da uma cria adoidada

Apenas em um ano só

Pariu doze bezerrada

É lucro que não tem fim

É uma boa dinheirada

Com a propaganda toda

A “véa” logo se admirou

Contou o vintém que tinha

E a vaca velha comprou

E Rufino sorridente

Daquele sítio vazou.

Não imaginando ele

Que ali mais na frente

Existiria o seu fim

Pois um cara valente

Ao ver Rufino passar

Apareceu de repente.

Disse: peraí meu camarada

Onde pensa que vai?

Vim lhe dar uma notícia

Lá do seu velho pai

Ele tá com o pé na cova

Tá no ”cai mais no cai”.

E ele mandou pedir

Que viesse lhe avisar

Porque no seu velório

Você quem vai pagar

Me dê logo o dinheiro

Pois não posso demorar

Rufino que era esperto

Nessa hora burrou

Porque o seu papai

Há tempos que mudou

Visitou Jesus cristo

E nunca mais voltou.

Com ambição no dinheiro

Não pensou em nada

Falou para o rapaz

Tá qui meu camarada

Leve tudo que tenho

Pode me deixa sem nada.

O importante de tudo

É não ver meu pai sofrer

E nas horas de aflição

Meu peito começa a doer

Sabendo que meu papai

Está prestes a morrer.

O rapaz partiu ligeiro

Chorando ficou Rufino

As lágrimas caíam

Feito choro de menino

E o rapaz muito esperto

Saiu zombando e sorrindo.

Quando chegou em casa

Sua família já na rua

Perguntou: o que está acontecendo?

A verdade dura e crua

Disse o delegado a ele:

A cadeia agora é sua.

Enganaste muita gente

Deu calote á tamanho

Não importava se fosse

Conhecido ou estranho

Para onde você vai

Caloteiro tem de rebanho.

A vida que você tinha

Agora é na cadeia

Se der golpe lá dentro

Concerteza leva pêia

E farinha com sopão

Agora será sua ceia.

Findou o pobre do Rufino

Mofando lá na prisão

Tudo que ele conseguiu

Por meio de enrolação

Perdeu para a justiça

Que não concedeu perdão.

A sua mulher e os filhos

Fugiram da cidade

Ela casou-se com um rico

Da alta sociedade

E hoje se encontra

Na maior felicidade.

A vaca que vendeu a ”véa”

Recuperou-se ligeiro

Era bastante cobiçada

Por alguns fazendeiro

Foi até a tri campeã

De um torneio leiteiro.

Todo lugar sempre tem

Um caloteiro esperto

Porque já fui vítima

E digo que estou certo

Se olhar para o lado

Sempre tem um por perto.

Terminei esse cordel

Graças a Deus eu dou

Pois foi através dele

Que a mente se inspirou

E a grande sabedoria

Foi ele quem o criou.

“O MUNDO”

Aldo Almeida
Enviado por Aldo Almeida em 15/07/2011
Reeditado em 16/07/2011
Código do texto: T3097681
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