A MORTE DO RIO SÃO FRANCISCO - POR ZÉ DE PATRÍCIO(original : A Morte do Velho Chico
MORTE DO VELHO CHICO.( livro publicado em Carinhanha/Ba)
Poesia de cordel de:
Honorato Ribeiro dos Santos(Zé de Patricio)
Meu Velho, meu Velho Chico,
Quem te viu e quem te vê!...
Não dá mais para acreditar!
Quem quiser te conhecer,
Pois esqueceram de ti,
Tão magro como um faquir
De ti querem esquecer.
Onde está o Velho Chico
Com seus navios a vapor?
Acabou-se o turismo
E o povo dispersou
Em busca de um bom emprego,
Pois aqui virou degredo
E a seca tudo acabou.
Se esse rio morrer
Morre o povo do sertão
Tudo aqui vira deserto
Culpa da desmatação.
Esgotos podres a jorrar,
Tantos lixos a amontoar
Sem nenhuma correção.
Quem desviar o rio
Pros estados nordestinos...
Mas quem vai ganhar na história?!
São as empresas dos sovinos;
Os protetores vêm à tona,
Todo lado já se soma
De homem, mulher e meninos.
Só pensam já no desvio
Se achar que é ruim ou não
Ninguém conhece o problema
Só viajam de avião;
Esse rio que é tão valente,
Com seu povo tão prudente,
Sofredor cá do Sertão.
Ele é o Nilo Brasileiro
O maior rio da Nação,
Também o mais poluído
Dentre lago e ribeirão;
O pescador sofredor
Lamenta ver tanto horror!
Cadê o Peixe, meu irmão?!
São Francisco Brasileiro
Tenha pena e tenha dó!
“Se és o Santo de Assis”
Não deixe teu povo só!
Eu vou fazer uma prece
Pra ver se o céu escurece
Pra acabar com esse pó.
Três mil e cento e sessenta
É a extensão do Velho Chico,
Desde a Serra da Canastra
Descendo subindo arisco:
Cinco Estados do Nordeste,
Divide-se como mestre
Nosso Rio São Francisco.
Convido os ecologistas
Para juntos defendermos
Um rio tão rico qual é,
Tão desprezado à ermo!
Quer até privatizá-lo
Para o estrangeiro mandá-lo
E ao ribeirinho sem termo.
Sem água e sem energia
Essa é a grande previsão;
Muitos fazem profecia
Baseando-se em São João!
A Besta Fera chegou
Metendo medo em doutor,
Aqui já em todo o sertão.
A água é fonte de vida,
Vida que nos deu Jesus,
Mas o homem não acredita
Pois é Ele que nos conduz;
“Eu sou fonte de água viva!”
“Todo aquele que me siga
Morre comigo na cruz”.
Convido os ecologistas
Para juntos defendermos
Um rio tão rico que é
Tão desprezado à ermo!
Querem até privatizar
Pro estrangeiro mandar
E ao ribeirinho sem termo.
Não desmatem a natureza!
Preservem o ecossistema,
Amem os rios e não depredem
Acabem esse sistema
De uma política assassina,
Que deixa os rios com má sina,
Basta de tantos problemas.
Se a natureza morrer,
O Rio, a mata e o Oceano;
A vida desaparece
De todo grego e troiano;
Todo o homem é consciente,
Isso já ficou patente;
Ninguém tem mais desengano.
Agrotóxico é veneno,
Que colocam na lavoura
Mata o homem pouco a pouco
Não tem vida duradoura.
Matam-se o ecossistema:
Tatu, veado até ema
E o veneno na cenoura.
As margens esquerda e direita
Do nosso rio Gigante,
O Velho Chico valente
Chora triste sem amante;
Lá na Serra da Canastra
O fogo queima e se alastra
E cadê o Comandante?..
O Comandante sumiu
Pra querer globalizar,
Não aparece há um século
Querendo privatizar.
Tudo o que há no Brasil
Até nossa cor anil
Do nosso céu quer mandar.
O povo sem água morre
Até morre a nossa canção!
Das cachoeiras que caem
Alvinhas quais algodão!
O Congresso está calado
E o povo já está assombrado!
Dos protestos ir pro chão.
Bem-te-vi não canta mais
Na beira do São Francisco!
Tudo virou uma tristeza:
Comida já virou risco;
Tudo está envenenado,
Vai acabar nosso gado,
Não há pasto, só há cisco.
Não se ver mais um Ministro
Que defenda o nosso povo!
Nessa defesa ecológica
Pode nascer um de novo...
Mas até agora inda não
Tudo virou gavião
E tudo já ficou morno.
Os peixes já estão escassos,
Muitos estão em extinção
É a gula do guloso
Que não tem a luz da razão;
Na piracema ele pesca,
Há ignorância à beça,
Porque não há punição.
Onde estão os jovens valentes
Que defendiam com raça
Esse rio tão nordestino
Que nos dá vinho na taça?
Lá tem uva em Petrolina
Da irrigação tão menina
Do Velho Chico das garças.
Garça, mergulhão e gaivota
Cantam alegres nas margens:
Tuiuiú também socós.
Ariranha em boas sondagens;
As capivaras treiteiras
Lá em cima da ribanceira
Dão seus roncos com coragem.
Aqui tem batata doce,
Tem mandioca e tem feijão.
Tem banana e tem moranga,
Abóbora de montão.
Melancia da vazante
Vendida pro comandante
Daquele vapor “Barão”.
O Barão de Cotegipe,
O Saldanha e o Baependi,
Júlio Vítor e o Santa Clara;
Vapores que não mais vi!...
São Francisco e o Benjamim
Tudo era belo pra mim,
Até o apito do vinvim.
O Cordeiro de Miranda,
E o Antônio Nascimento,
Também Fernando da Cunha,
Raul Soares, lamento!...
Que não existem mais vapores
Nem barcas e nem cantores
Remeiro a assoviar vento.
Januária da cachaça
Bom Jesus tem romaria,
Malhada da Santa Cruz,
Carinhanha da pescaria...
Pirapora dos vapores,
Juazeiro dos amores
Das águas das Tre Marias.
Ah! Que saudades que tenho!
Dos apitos dos vapores,
Das enchentes e das vazantes,
Do rio barrento e a cores;
Cidades sendo engolidas
Pelas águas tão poluídas
Do Velho Chico em dores.
Poetas falam e cantam
A beleza natural
Do Velho Chico tão rico
Das poesias em madrigal.
O luar é uma maravilha,
Lá na madrugada suma ilha,
Nos mangues do matagal.
“Eu comi uma peixada
Na Lagoa do Mari
Bem perto do Velho Chico,
Como aquela eu nunca vi”.
Tinha lá a curimatã
Também tinha a matrinxã,
O pirá, piau e mandim.
Rio dos índios Caiapós,
Nos tempos dos bandeirantes,
Rio que é tão pobre e rico,
Que não houve mais vazante...
Como o Nilo do Egito,
Tudo está tão esquisito;
Não tem mais os viajantes.
Quem irá lhe defender
De tanta judiação?
Tem que aparecer o herói
Nascido cá do Sertão.
Senão você vai morrer
E ninguém vai entender:
Porque tanta ingratidão?!
Deus já está nos avisando
O que virá acontecer:
As turbinas vão parar
E a energia vai encolher...
Todo mundo vai chorar
E a quem irá se queixar?
Sem água assim vai morrer.
A morte vem muito lenta
Culpa da poluição
Acabam as matas, rios,
Transformam tudo em carvão;
O dinheiro é a sua valia,
É o deus da idolatria;
É a má morte do sertão.
As aves cantam no céu
Pedindo chuva ao Criador
Toda a natureza reza
Chora e grita com sua dor.
Mas seu grito é abafado,
Ninguém escuta o malvado,
Que é escravo do seu senhor.
Quem conheceu esse rio
Chora ao ver tão seco assim!
Tem mais terra do que água,
Nos ilhotes só há capim.
Não se plantam mais feijão
Tudo só virou areão!
Morreu até o jasmim.
Cadê, Zé, a batata doce
Que plantava na vazante?
“acabou-se o que era doce”...
Tudo havia já muito antes;
Fartura de tanto peixe,
Agora não tem quem deixe
É raro qual diamante.
Onde estão os bons marinheiros?
E os comandantes também?
E o vapor Raul Soares?
Gigante vapor , porém,
Duas caldeiras a vapor,
Três classes sabor
Aos viajantes de bem.
Aqui está a minha história
De um rio que está pra morrer
Ele tem nomes diversos,
Mas ninguém quer conhecer.
Se ele está tão poluído,
Ou se está sendo vendido
Ou vai desaparecer.
Todo mundo está correndo
Por causa do apagão;
Põe a culpa em São Pedro,
Mas não tem culpado, não!
Muitos anos já sabiam,
Mas o acordo já mantinham
Pro controle da gestão.
Onde está a democracia?
Aonde foi?...onde ela está?
Não nasceu lá pela Grécia?
Então, pra que procurar?
O povo tem o dinheiro,
Mas já quem gasta é o estrangeiro:
Energia?!... Pode gastar!...
Se gastar vai arrepender!
Pode cortar a sua luz;
E agora, meu Velho Chico?
Sem você o que se produz?
Se você não der energia
Tudo virará anarquia...
Peixes viram avestruz.
Aqui à margem desse rio
O povo ora pra chover:
Molham as portas de igreja,
No cemitério, se vê...
Gente fazendo sua prece
Até ateu que não merece
Pede a Deus pra lhe valer.
Sem o rio não há barragem
E o povo faz previsão,
Diz missionário antigo
Que esse rio é nosso irmão.
Mas se não tiver cuidado
Ele vai ser assolado
Tudo morre em extinção.
Vou terminar meu cordel
Pedindo muita atenção:
“Se eu tivesse um rio desse
Aqui em minha Nação,
Eu acabaria com a fome
Do Mundo”...com este nome:
“Velho Chico”, és um Pai e irmão.
Considerações do autor
Somos todos responsáveis para preservação da natureza. Para que todos tenham consciência dessa responsabilidade é preciso EDUCAÇÃO. Sem ela, não haverá conhecimento do bem.
O rio São Francisco é conhecido por todos os brasileiros, mas os seus afluentes pouca gente conhece. Sem cuidar, para que todos os afluentes continuem sendo rios perenes, o rio São Francisco vai sofrer bastante. Não conheço nenhum projeto de deputados ou senadores em defesa desses rios afluentes do São Francisco. São eles:
À margem esquerda os afluentes são: rio Paracatu, rio Urucuia, rio Carinhanha, esse divide Minas com Bahia, rio Corrente e rio Grande. À margem direita são: O rio das Velhas, rio Jequitaí e rio Verde Grande. Todos estão poluídos e pedem socorro.
Ass: Honorato Ribeiro dos Santos(hagaribeiro)
Carinhanha, 14 de julho de 2011.
Ass: Honorato Ribeiro dos Santos(hagaribeiro)
Carinhanha, 14 de julho de 2011.