Cordel das duas
Duas são as nossas mãos
Atravessei duas pontes
Eu bebi em duas fontes
Esqueci duas lições
Aprendi duas matérias
Duas primas eram sérias
Afrontei com dois leões.
Duas vezes fui à luta
Duas vezes eu chorei
Duas talhas derramei
Descansei em duas camas
Me deitei com duas damas
Apaguei as duas chamas
Duas dívidas não paguei.
Caminhei por duas ruas
Duas vidas para ti
Duas vezes me perdi
Duas vezes fui achado
Duas listas do mercado
Duas: uma em cada lado
Mesmo assim não comovi.
Eram duas as negrinhas
Duas cestas de algodão
Duas caídas no chão
Duas cartas de alforria
Duas horas de euforia
Pras duas rimas seria
Preciso estender a mão.
Duas caras eu não tenho
Duas dúzias de emoção
Duas doses com limão
Duas mulas disparadas
Duas flores já murchadas
Duas horas não molhadas
No calor forte do sertão.
Duas horas de trabalho
Duas facas afiadas
Duas foices amoladas
Duas casas derrubou
Duas o vento levou
Duas sinas ali mudou
Pra subir duas escadas.
Duas eram as valsas
Duas músicas não escutei
Duas danças não dancei
Mas não gastei duas solas
Duas tristezas me assola
Por que duas ora-bolas?
Foi assim que acabei.