A DIVERSÃO DOS SENTIMENTOS

Autor: Jorge Furtado

Edição: JOSÉ EDSON DE SOUZA - JESA

Os sentimentos humanos

Resolveram certo dia

Inventar uma brincadeira

Pra quebrar a monotonia

Exaustiva e intolerável

Que existe no dia a dia.

Muito bocejou o tédio

Porque a indecisão

No seu impasse de sempre

Não chegava a uma conclusão

De escolher a brincadeira

Que gerasse a diversão.

A desconfiança estava

Com suas garras dominando

E a loucura por sua vez

Que é sã de vez em quando

Propôs ser de esconde- esconde

E a turma foi se animando.

Quis saber todas as regras

A sábia curiosidade

A intriga começou

Cochichar toda a vontade

Com os outros que alguém iria

Trapacear por maldade.

O entusiasmo num salto

Pleno de contentamento

Convenceu a apatia

E a dúvida que era um tormento

A entrarem na brincadeira

Naquele feliz momento.

A verdade, na verdade

Não gostou da brincadeira

Dizendo que tudo aquilo

Era uma tremenda duma asneira

Por não haver nenhum nexo

Algo sem eira e nem beira.

A arrogância fez logo

Uma cara de desdém

Pois não foi dela a idéia

Falou o que não convém

Que a invenção da loucura

Não valia um só vintém.

O medo, covardemente

Preferiu não arriscar

Tentou convencer a todos

De a tal idéia abortar

Mas poucos lhe deram ouvidos

Quiseram continuar.

A preguiça imagine

Resolveu ser a primeira:

Escondeu-se atrás duma pedra

Dando início a brincadeira

Por ser muito vagarosa

Não quis ser a derradeira.

No arco-íris o otimismo

Ficou ali ocultado

A inveja e a hipocrisia

Fingindo ter aprovado

Foram pra detrás duma árvore

Torcendo pra dar errado.

E a generosidade

Devido a sua grandeza

Mal conseguiu se esconder

E ainda por gentileza

Quis abrigar todo mundo

Provando a sua nobreza.

A culpa por sua vez

Ficou foi paralisada

Escondida em si mesma

Não se mexia por nada

Crendo assim que poderia

Ter vantagem na jogada.

Mas a sensualidade

Escolheu um bom lugar

Secreto e muito encantado

E assim saborear

Da maravilhosa vida

O seu excelso manjar.

O egoísmo imponente

Planejando ir bem além

Já refugiou-se onde

Não cabia mais ninguém

Achando que venceria

Aquele jogo também.

A paixão preferiu ir

Pra cratera de um vulcão

De calor igual ao seu

E o esquecimento então

Não se lembrou mais das regras

Que tremenda confusão.

Após contar até cem

A loucura começou

Procurar os companheiros

Um por um ela encontrou

Depois um grito terrível

Vindo de um arbusto escutou.

Era o sentimento amor

Que ali estava escondido

Com os seus olhos furados

E o corpo todo ferido

Por espinhos afiados

E quase desfalecido.

Ela piedosamente

Pegou o amor pela mão

Curou os seus sentimentos

Num gesto de compaixão

E saiu por esse mundo

Sem traçar a direção.

Desde então o amor é cego

E a loucura fiel

É a sua companheira

A musa do menestrel

Que transforma o fel da vida

No mais puro e doce mel.

Jorge Furtado
Enviado por Edson Almeida em 12/07/2011
Reeditado em 22/05/2012
Código do texto: T3091189