SEXTA-FEIRA TREZE
AUTOR: FCO. MELCHÍADES
EDIÇÃO: JOSÉ EDSON SOUZA - JESA
Certa noite eu me acordei
Surpreso e muito assustado
No mesmo instante escutei
Um grito mal-assombrado,
Seguido duma rizada
Daquela bem debochada,
Como não encontrei nada
Eu falei: isso é estranho,
Se for algum catimbó
Quem botou não teve dó
Jogou-me com casca e nó
E nem mediu o tamanho.
De manhã fui tomar banho
Entrei de costas pra o mar,
Nesse dia eu quase apanho
Aí foi que deu azar,
Caí por cima dum moço
Ele fez um alvoroço
Segurou o meu pescoço
Apertou com unha e dente,
Mordeu igual a cachorro
Gritei pedindo socorro,
Mas não chegou um vivente.
Naquele grande acidente
Machuquei a perna esquerda
Fiquei muito descontente
Para mim foi grande perda,
Comecei a passar mal
Fui até um hospital
E o Doutor muito boçal
Não passou uma receita,
Mesmo sem me examinar
E sem nada perguntar
Começou a engessar
A minha perna direita.
Eu perguntei: é despeita
Que o senhor tem de mim?
Essa perna tá perfeita
A outra é que tá ruim,
Porém, ele não gostou
Muito sangado ficou
Em seguiga me gritou
O Doutor aqui, sou eu!
Aí eu me espoletei
Da cama me levantei,
Mas ninguém apareceu.
Aí o Doutor me deu
Uma baita anestesia
Deu uma soneira neu
Fui acordar meio dia,
Com a vista embaraçada
Minha perna esquerda inchada
A outra toda engessada
E eu com muita aflição,
Pedi dum jeito moderno
Valei-me meu pai eterno
Vem me tirar desse inferno
Este Doutor é um cão.
Naquela grande aflição
Foi o jeito eu apelar
Ao Padre Cicero Romão
Pra ele vir me ajudar,
Nisto chega uma infermeira,
Malvada igual feiticeira
Eu lembrei é sexta-feira
É dia treze de agosto,
Quando me pus a orar
Acabou-se todo azar,
Mas hoje só em lembrar
As lágrimas banham meu rosto.