Exagerando e mentindo * Parte II* Autor: Damião Metamorfose.
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Eu já recitei Cordel
Em braile, pra cego e surdo.
E um mudo falou pra mim
Que o poeta do absurdo.
Era o Orlando Tejo
Fazendo versinho burdo!
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Certa vez fiz um balurdo,
Sem prensa e sem instrutor.
Para atender ao pedido
De um ilustre senhor.
Dizendo: que era pro eixo
Da linha do Equador!
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Do Freud eu fui professor
Ele e a sua senhora.
Bill Gates é meu aluno,
Eu ensino, Ele decora.
Não sei por que Ele é rico
E eu só vivo na penhora.
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Curupira e caipora,
Foi tudo eu que inventei.
De um eu cortei a perna,
Do outro, os pés eu virei.
E a mula sem cabeça
Também fui eu que cortei!
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Ouvi dizer que um rei,
Filho de Zé e Maria.
Ia nascer num estábulo
Por falta de hospedaria.
Fui lá e Fiz minha parte,
Essa qualquer um faria!
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Peguei a estrela guia
Sua rota eu desviei.
E quando Jesus nasceu,
Os três reis magos guiei.
No caminho pra Belém,
Ao Herodes enganei.
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Uma guerra eu acabei
E pra não contar bravatas.
Além de acabar a guerra,
Exterminei as baratas...
Com uma bufa turbinada
De ovo repolho e batatas!
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Acabei com as mamatas
Dos políticos da nação.
Os conchavos e as propinas,
Passaram a ser ficção.
Quer saber quanto eu ganhei?
Nada, fiz por diversão!
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Alimentei o leão
Que ia comer Daniel.
E Ele ao me agradecer
Disse: bravo menestrel.
Conte ao mundo a minha História
Nos seus versos de Cordel...
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Nunca gostei de bordel,
Mas com doze anos de idade.
Acho que foi a primeira
Vez, que eu fui à cidade.
Passei o dia na zona,
Voltei sem a virgindade!
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Ensinei jogo e ruindade
Ao Donald Trump em Las Vegas.
Depois trouxe pro Nordeste
Para conhecer os bregas.
Se eu não tenho o que Ele tem,
Foi por que apostei as cegas!
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Pra quem só quer ser as pregas,
Mas deve em tudo o que é praça.
Inventei calça sem bolso
E uma nuvem de fumaça.
Que é para o credor não ver
Quando o velhaco passa.
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Movido pela cachaça,
Até mosca eu adestrei.
Os cabelos de Sansão
Também fui eu que cortei.
Tudo que é imaginável
Na terra, eu já inventei!
*
O tal casamento gay,
Que hoje é tão comentado.
Cá em Rafael Fernandes,
Faz tempo que é liberado.
Mas não diga que fui eu
Pois posso ser processado!
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Eu já voltei ao passado
Sem sair do meu presente.
Já dei asas para cobras
E pernas para a serpente.
Mas depois que fui mordido
Me arrependi totalmente.
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Já fiz seca com enchente
E um inverno no verão.
Fui terror dos cangaceiros
E ao brigar com Lampião.
Botei-o para correr
Com seu bando do Sertão!
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Já fiz padre e sacristão
Correr de batina erguida.
Dormi em casa sem teto,
Pra não ficar sem guarida
Fiz o que você não faz,
Nem nessa nem noutra vida!
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Eu inventei a bebida,
Que mata e não mata a sede.
Só não fabriquei o vento
Que vem quando estou na rede.
Mas aumento e diminuo
Batendo o pé na parede!
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Jesus disse: vinde e vede...
Digo: eu não sou só mais um.
Sou um cidadão pacato,
Com aparência comum.
Mas meu conteúdo é único
E o meu verso é incomum.
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Eu não inventei nenhum
Velhaco ou raça bandida...
Porque eu quero é distancia
Dessa raça corrompida.
Velhaco só atrapalha,
Na chegada e na saída.
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Fui eu que a descida
Pra poder eu descansar.
Depois de uma subida,
Descer sem me esforçar.
Nesse subindo e descendo,
Não seu mais como parar!
*
Eu montei e sei domar
um cavalo sem arreio.
Deixo manso pra corrida,
Exibição e passeio...
Sendo um cavalo de pau
Eu monto até em rodeio!
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Eu já entortei sem medo
O dedo de um valentão.
Só porque ele apontou
Ele em minha direção.
E acordei todo mijado
Deitado encima da mão!
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Criei Dalila e Sansão,
A traição e o castigo.
Todos os sinais de alertas,
Avisei sobre o perigo.
Não ganhei nem um aperto
De mão ou abraço amigo!
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Já assustei papa-figo
Que assustava moleque.
Hoje eu vivo me assustando
E assustaram até meu cheque.
Mamãe se assustou e disse:
Filho, não minta, não peque.
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Já tomei cana e pileque
Quente, pura ou com limão.
Que se fosse armazenada
De uma vez num caldeirão.
Dava pra encher açude
E enchente em ribeirão...
*
Eu sou filho do Sertão
me criei lá na caatinga.
Acho que fui batizado,
Com açúcar limão e pinga.
Por isso o meu pai dizia:
Esse se escapar, não vinga!
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Sou azes e sou coringa
Tudo em um só baralho.
Sou mais raro e procurado
Do que cedro ou carvalho.
Mesmo quando eu não posso
Fazer, sou o quebra galho.
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Não inventei o trabalho,
Mas aprendi descansar.
Se sei que o trabalho cansa
Pra evitar me cansar.
Eu passo o dia e a noite
Deitado e sem trabalhar!
*
Fiz um eixo pra girar
A terra em torno do sol.
Fiz as muralhas da China
Mais torta que um caracol.
E nem precisei sair
Debaixo do meu lençol!
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Eu entortei o anzol,
Fiz a barbatana e a isca.
Inventei o vaga-lume
Em forma de pisca-pisca.
Transformei mulher direita,
Na chamada boa bisca.
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D-eu fogo eu faço faísca,
A-ssovio e chupo cana.
M-isturo água com óleo,
I-mproviso uma cabana.
A-dultero até o vento,
O ano, o mês, a semana...
*
Fim.
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Material copiado na comunidade (Metamorfose Cordel & Poesia) e adaptado para Cordel.
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Se você desejar ser membro da comunidade... será uma honra, esse é o link
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http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=28562031
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Não somos os melhores, mas os nossos poetas são ótimos e únicos no que fazem.