O MATUTO INVOCADO
O matuto tem um jeito
que lhe é peculiar.
Seja como ele se veste
seja no modo de andar.
Anda balançando os braços
num gingado diferente,
parece feito de molas
e anda pendido pra frente.
Quando para num lugar,
numa perna ele se escora,
bota uma mão na cintura
e a barriga de fora.
Se tá perto d’uma parede
bota uma perna pra trás,
fica encostado nela
e o resto tanto faz.
Não se importa se falarem,
é sempre muito pacato,
fala alto, mas tranqüilo,
responde a tudo no ato.
Quem pensa que o matuto
é tolo desinformado,
que é fácil “passar-lhe a perna”,
está muito enganado.
Pois certa vez um matuto
lá em São Paulo chegou,
desceu na rodoviária,
logo um táxi encostou.
O motorista esperto,
foi logo lhe perguntando:
Diga lá oh! meu patrão,
o que é que está mandando?
O matuto desconfiado
lhe perguntou quanto era
uma corrida de táxi
dali até Itaquera.
O taxista lhe disse:
Não é menos nem mais.
Daqui até Itaquera,
eu vou por trezentos reais
E as malas, seu Doutor...
Por quanto o senhor carrega?
Perguntou assim o matuto,
e o motorista se entrega:
Levo as malas de graça,
não se preocupe com isso.
Vamos entrando no carro
e acabar o rebuliço.
O matuto disse: Doutor!
Já que não vai cobrar nada,
leve as malas no carro
que eu vou pela calçada.
Eu já fui em Itaquera,
sei direito onde é que é!
Leve as malas nesse preço,
que eu vou andando a pé.