O ROMANCE DA GALINHA CARIJÓ
Rainha do galinheiro
Arrepiada galinha carijó
Amava de paixão
O rei do seu terreiro
O competente galo bendengó
Com a conversa do patrão
Apavorada ficou ela
Sangue novo nas galinhas
O Galo velho é na panela
Ensopado com farinha
Muito triste e chateada
Lá se foi à senhora carijó
Depressiva e encabulada
Chorando que dava dó
Vou dar um jeito ela pensou
Pra defender o meu xodó
Foi procurar o seu amor
O encontrou todo feliz
Cocorando a filha coricó
Uma franga aprendiz
Que ensaiava pra botar
Numa moita de cipó
Quando viu sua alegria
Esnobando felicidade
Não teve forças pra contar
Cabisbaixa e com humildade
Foi pra longe matutar
Pediu pro deus dos empenados
Que abrisse sua memória
Dando-lhe força e argumento
Iluminando-a naquela hora
De angustia e sofrimento
Sentiu então que seu amor
Estava pelo fio da navalha
Quase louca de pavor
Entrou dentro da fornalha
Pra bolar uma solução
Logo veio a grande idéia
Imaginou com seu botão
Convocar uma assembléia
Promoveu o grande evento
Respeitando o estatuto
Reuniu toda galinhada
Com cuidado absoluto
Ouvindo a voz do coração
Criou força pra contar
E buscar a solução
Começou logo a falar
O motivo ninguém sabia
A presença foi maciça
Pra seguinte ordem do dia
Encorajada fez a leitura
Assustada até tremia
Nosso dono é raiva pura
Ta quinem uma jaracuçu
Vai trazer um galo novo
Índio puro descendente de jacu
Com seus dias contados
Está o meu grande amor
Vai ser logo sacrificado
Ouvi a prosa do doutor
Vai fazer um molho pardo
Deste nobre companheiro
Trazer pra cá um frango novo
Pra comandar o galinheiro
Nosso rei perde o espaço
Ouvi hoje esta conversa
Atrás do monte de bagaço
Não vou me dar por vencido
Disse o galo estufando o peito
Vai levar chumbo no ouvido
Não sei como, mas dou um jeito
Neste filho do capeta
Se você me ajudar
Vou tiar isso de letra
Vamos apostar uma corrida
Logo que o índio chegar
Vou lhe dar as boas vindas
Fingir amigo e cordial
Chamar as frangas mais lindas
Apresentar ao meu rival
Vou lhe dar uma orientação
Dizer só agrada o fazendeiro
Se ele fingir de moleirão
Correr quase o dia inteiro
Bem a frente do pelotão
Fazer xixi sempre agachado
Não dar bola pras galinhas
Cantar fino e desafinado
Desmunhecando as asinhas
Fazer de conta que é viado
Assim que o galeto chegou
O plano foi executado
A brincadeira começou
A galinhada todas correndo
O garanhão sempre à frente
Fingindo estar amedrontado
Com seu trejeito diferente
O dotor ficou irado
Sem saber que era um jogo
Aos berros foi logo dizendo
Comprei um galo viado
Traga aqui meu pau de fogo
Foi um belo estampido
Acabou com a demandada
Tocou chumbo no seu ouvido
Para o deleite da galinhada
Houve grande comemoração
Com a crista empinada
Continuou rei o bendengó
Charmoso e tirando onda
Pra sua amada carijó.