O lado oculto
Se eu fosse candidato
À presidência da república
Ou tivesse influência
Na feitura de obras públicas
Eu iria certamente
Rever os casos e culpas
Sem querer desrespeitar
Autoridades no assunto
Nem mesmo subestimar
Tanta inteligência junto
Há muito que reformar
Nas obras desses conjuntos
A impressão que se tem
É que não há interesse
Ou por outra, só convém
Se puder pintar macete
Pra que nego se dê bem
Com os acertos e falsetes
Na verdade, preço e tempo
Qualidade e garantia
São frágeis nos argumentos
Pra explicar tanta apatia
E não parece haver intento
Intenção nem empatia
Ao invés de só olhar
Os viadutos parados
O trânsito a engarrafar
E todo mundo atrasado
Com imposto a pipocar
No contracheque garfado
Ou ainda observarmos
A cidade inundando
O ensino defasado
E os juros decolando
O transporte estrangulado
Os entraves e os arranjos
O cidadão que transita
No mundo dos operários
Quando pode compra um carro
Pra pagar mico diário
Quebrando as molas na pista
E o bolso com o crediário
Iria tentar descobrir
Os segredos do poder
Qual o caminho a seguir
Para a coisa acontecer
E a gente não sentir
Que nada pode fazer
Quem são os interesseiros
Que atravancam os processos
Por exemplo, num canteiro
Pra que o povo tenha acesso
E não sofra o tempo inteiro
Pra o trabalho e no recesso
Pode ser que o executivo
O poder constituído
Não tenha muito motivo
Pra se sentir constrangido
Se fora o legislativo
A causa do acorrido
Pode ser que não se importem
Por ali não trafegarem
Não usarem os serviços
E nem de longe cogitarem
Ser um de nós no ofício
Com esse gado se misturarem
Dá pra pensar no desprezo
Quase ódio que eles sentem
No transtorno e no medo
Que as cobranças representem
Ameaçando o sossego
Quiçá, seu faturamento
O fato é que há uma vala
Visível só por um lado
E que fica no obscuro
Na margem, no espaço vago
Submundo dos impuros
Sem sangue nobre nos vasos