BARBEARIA POÉTICA

Sentei-me naquela cadeira,

em uma velha barbearia,

comose fosse uma qualquer,

mas surpresa, quem diria,

que dois ilustres fregueses,

sentaram-se ali um dia.

A mesma cadeira e barbeiro,

onde várias vezes na semana,

se sentava, meio que calado,

fazendo a barba, à sotaina,

o poeta tão consagrado,

o eterno Mário Quintana.

E como se não bastasse,

já o insólito fascínio,

fiquei inda mais espantado,

por saber que o Lupicínio,

também ali ficou sentado,

Senti-me então pequenino.

Quem dera que por osmose,

pudesse eu ali absorver,

quiça uma pequena dose,

do que souberam fazer,

esses consagrados nomes,

na arte do bem escrever.

São coisas que a vida dá,

sem que as esperemos,

vamos parar num lugar,

que ainda não conhecemos,

e acabamos por encontrar

aquilo que nós queremos.

E dali tiramos versos,

para poder assim relatar,

a alegria ali sentida,

por simplesmente sentar,

na cadeira preferida,

dos gênios do poetar.

Tantos versos e rimas,

devem ter ali nascido,

quiça, até obras primas,

soaram aos ávidos ouvidos,

desses mestres da rima,

na barbearia entretidos

À mim restou este cordel,

feito assim de improviso,

por me sentir ali no céu,

em meus versos imprecisos,

a alma cheia do doce do mel,

sentindo os dois ali comigo.