DIA DE DOMINGO, TEM FUTEBOL NO SERTÃO.
É Dia De Domingo,
Tem Futebol No Sertão.
Todo final de semana
Tem futebol no sertão,
Vinte e dois marmanjos brincando
Veja só que situação,
Disputando a mesma bola
Só pra arrumar confusão.
O campo que não é campo
No sábado é praça de feira,
Buraco pra todo lado
E sem marcação nas beira
Uma bola que nunca sai,
Parece até brincadeira.
Os times têm até nomes
Um deles é Canindé,
Que joga com Pela-porco,
Futrica, Ermo e Quelé,
Zé-de-Nona, Maranhão,
Supimpa, Bozo e Rapé.
O coitado do goleiro
Não pega nem resfriado,
Capenga da perna esquerda
Com o apelido de Zangado,
O último desse time
É um tal de Zeca-Soldado.
O outro time, Éde-Fora
Disse que nunca perdeu,
Joga com Roto, Rasgado,
Zunido, Zumbi e Ateu,
Zé-Preá, Carrola, Lascado,
Éde-Ré, Gastura e Acendeu.
O juiz é mestre Alfredo
Que apita com precisão,
O apito é um chama-rola
Trazido por Zé Dentão,
E logo começa o jogo
Pra evitar confusão.
Pela-Porco deu saída
Pro lado dos Canindé,
Perdeu a bola pra Roto
Que foi lhe metendo os pé,
Mais foi jogado no chão
Com o carrinho de Quelé.
O juiz não marcou falta
E Quelé aproveitou,
Deu uma bicuda na bola
Coitada quase estourou,
Acendeu que era o goleiro
Com bola e tudo entrou.
_“Fila-da-Puta, ladrão,”
A torcida reclamou,
_“Eu dei a lei da vantagem”
O juiz logo explicou,
E a bola solta rolando
Foi quando Éde-Ré pegou.
Éde-Ré aproveitou
Toda aquela confusão,
Driblou Quelé, Ermo e Supimpa
E pegou a bola com a mão,
Correndo feito um maluco
Pra passar no travessão.
Zangado, que era o goleiro
Ficou todo atrapalhado,
Não sabia se corria
Ou se ficava parado,
Trombou-se com Éde-Ré
Que caiu estatelado.
O juiz gritou; _“foi gol”
Quase leva um safanão,
A turma do Canindé
Quis arrumar confusão
Foi quando Zeca Soldado
Berrou de lá; _“briga não!”
A torcida organizada
Do time dos Éde-Fora,
Tentaram invadir o campo
Valha-me sua senhora,
O juiz não viu outro jeito
Pôs todo mundo pra fora.
Cachaça, vinho, cerveja,
Até jogador bebia,
Tira-gosto era o pó
Que do “gramado” subia,
Vi o sertão pegar fogo
Com o jogo daquele dia.
Foi ai que Maranhão
Num esforço derradeiro,
Conseguiu pegar a bola
E correu o campo inteiro,
Driblou Rasgado e Zunido
Deu um chute certeiro.
E o chute foi tão forte
Que nem a bola se viu,
Carrola, que era o goleiro
Gritou __“puta que pariu”
O juiz parou o jogo,
Porque a bola sumiu.
Termina o primeiro tempo
Canindé estava ganhando
Zangado querendo briga
E Zé-Preá reclamando,
E a turma do deixa disso
Foi logo se aproximando
__“O que é que foi,”
Gastura foi perguntando,
Pra não levar uma sova
O juiz foi se afastando,
E terminou o primeiro tempo,
Com o Canindé ganhando.
Segundo tempo um toro;
Corisco, raio, trovão,
Cai aqui, levanta lá,
Só via negro no chão
E quem se agüentava em pé,
Recebia um safanão.
Coitado de mestre Alfredo
Correu pra se esconder,
Do toro que não parava
Saiu pra se defender,
Pra não levar da torcida
Vi mestre Alfredo correr.
Quando a chuva parou
Não dava pra se saber,
Quem era dos Éde-Fora
Nem dava pra perceber,
Que o time dos Canindé
Veio disposto a perder.
E quem ganhava com o jogo?
Quezinho, o dono do bar,
Que vendia todo o estoque
No dinheiro ou a pagar,
Cachaça, vinho e cerveja
Todos queriam tomar.
O barzinho tinha de tudo
Fumo de rolo, rapé,
Ovo cozido, farinha,
Raspadura, e acarajé,
Com dinheiro ou sem dinheiro
Só passa fome quem quer.
Só sei dizer que no fim
Tudo ficou como estava,
Canindé ganhou o jogo
Pois jogador não jogava,
Quer saber mesmo a verdade
Nenhum dos times prestava.