OS DESAFIOS DO MILÊNIO

Miguezim de Princesa

I

Peço à musa do improviso

Que me dê fé e clareza

Para fazer sobre a terra

Uma plantação de beleza,

Dar a todos bons salários

E rasgar do dicionário

Esta palavra: POBREZA.

II

Miséria é desigualdade,

Não tem nada de altaneira.

A concentração de renda

É uma marca brasileira:

Onde uns têm tudo farto,

Mulheres morrem de parto

Nos braços de uma parteira.

III

Vejo João Paraibano

Cantar ao pé de uma parede,

Narrando aquele desfile

Do povo em torno de uma rede,

Desfiando um oratório,

Logo em seguida ao velório

Da flor que morreu de sede.

IV

Brasília é uma maravilha

Desde que saiu do forno:

Monumento mundial,

Cheio de curvas e adornos;

Maior PIB, maior nome,

Mas há um rastro de fome

Nas cidades do Entorno.

V

No Lixão da Estrutural,

Crianças de corpus nus,

Enquanto nutrem esperança

Num milagre de Jesus,

Disputam, desesperadas,

Brutos, já mortos, ossadas,

Com bandos de urubus.

VI

Dentro de um caixão azul,

Um natimorto da fome,

Sepulto nas redondezas

Sem ninguém saber seu nome

Nem pra quem daria alento,

Não encontrou alimento

No útero de quem não come.

VII

Cheia de ilegalidade,

A cidade dividida,

Conspurcada e aviltada,

Corrompida e invadida,

Deve ser reunificada,

Respeitada e bem cuidada,

Sempre em defesa da vida.

VIII

Temos 46 mil

Vegetando no Cerrado.

Agnelo vai dizer,

Por vocês testemunhado,

Que daqui a quatro anos,

Depois de traçados os planos,

Será coisa do passado.

IX

Oitenta e seis mil pessoas

No escuro da ignorância

No Distrito Federal.

Isso é desleixo ou ganância?

Quero é todo mundo lendo,

No email se correspondendo,

Da velhice até a infância!

X

Quero as mulheres brilhando

No que tiverem assumido,

Seja lá na Presidência

Ou num mercado sortido.

Não podem é ser destratadas,

Usadas, violentadas,

Pela tara do bandido.

XI

Quero moradia decente,

Linha d´água e meio-fio.

Que a cidade floresça

(Este é o nosso desafio),

Mas que cresça com capricho,

Sem esconder tanto lixo

No leito de pouco rio.

XII

Que os velhos tenham respeito,

Seja educada a criança;

Que a fome e o preconceito

Sejam remota lembrança.

E aqui, nesta cidade,

Seja a voz da igualdade

A tocha da esperança!

(Pronunciamento em versos feito pelo autor na abertura do seminário O desenvolvimento humano de Brasília e Os desafios do milênio, dia 15 de junho de 2011, em Brasília, Distrito Federal).

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 15/06/2011
Código do texto: T3037090