O defensor do Nordeste * Autor: Damião Metamorfose.
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Eu defendo o meu Nordeste,
Como um cão defende o muro.
Foi aqui que eu nasci,
Aqui me sinto seguro.
Posso andar o mundo inteiro,
Ganhar fortuna em dinheiro,
Mas volto pra cá, eu juro!
*
O Nordeste tem ar puro,
Para a gente respirar.
Dá pra se viver com pouco,
Não precisa se estressar.
Sem a ambição tamanha
O pouco que a gente ganha,
Tem Deus para abençoar!
*
Eu gosto de escutar,
Sozinho ou com alguém,
A passarada cantando
No quintal ou mais além.
Se fosse na capital,
Não vinha nem um pardal
Aqui vem até vem-vem...
*
Se um tem o outro tem,
Todo mundo aqui se ajuda.
Se um menino tem quebranto
Reza com galhos de arruda.
-Se você quer ir embora
Do Nordeste, pare agora,
Pense um pouco e não se iluda!
*
Lá fora é um Deus nos acuda,
Não é vida, é uma roubada.
Todos vivem assustados,
Mata-se e morre por nada.
Já aqui no meu Nordeste,
Com pouco se come e veste
E tem vida sossegada.
*
Nordeste é minha morada,
Minha crença e religião.
História da minha vida,
Caso de amor e paixão.
Sou Nordeste cem por cento,
Eu digo assino e sustento,
Lugar melhor, não tem não!
*
Lugar que frei Damião
escolheu para morar.
Onde o sol brilha mais forte
e assim também é o luar.
Adoro ser sertanejo
Sem modismo e com festejo
O Nordeste é o meu lugar!
*
O Nordeste é o meu lar
E essa família eu defendo.
Em qualquer parte do mundo
Eu conheço um só vendo.
-Me humilharam no Sudeste,
Mas eu sou cabra da peste
Sertanejo e não me rendo.
*
No “Sul” acabei comendo,
Do requentado ao azedo...
Só andava atravessado,
Desconfiado e com medo.
O Sertão é meu apego,
Nordeste me dá sossego,
Daqui não saio tão cedo!
*
Um quintal com arvoredo,
Pinha acerola, mamão...
Isento do agrotóxico
Que causa intoxicação.
Colher maduro no pé,
Diga-me aonde isso é
No centro urbano ou Sertão?
*
Salve toda essa nação,
Do Centro Oeste e Sudeste,
Leste, Oeste, Norte e Sul
E o meu imenso Nordeste.
Provando ao mundo inteiro
Que o nosso povo guerreiro,
Há tempos passou no teste!
*
Terra de cabra da peste,
É Nordeste ponto com.
Aqui se faz musica boa
E escrever Cordel do bom.
O Nordestino é um forte,
Que faz sua própria sorte
Só basta Deus dá o dom
*
Forró com acordeom
No ritmo do coração.
Com triangulo e pandeiro,
Zabumba na marcação.
Pode até ter na cidade,
Mas o forró de verdade,
Só tem aqui no Sertão.
*
Aqui eu sou meu patrão,
Meu chefe e meu empregado...
Na capital eu só era
Um peão, um pau mandado.
Não sou um bicho do mato,
Mas gosto de ser pacato,
Sem um carrasco do lado!
*
Fui criado no roçado,
Limpando roça no eito,
Puxando cobras pros pés,
Andando em caminho estreito.
Mas é daqui que eu gosto
E é aqui que eu aposto
Que vivo mais satisfeito.
*
Digo: abaixo o preconceito
Com o povo Nordestino.
Preconceito esse que
Eu sofro desde menino.
-Será que ninguém notou
Que um Nordestino mudou
O Brasil e o seu destino?
*
Asa branca é o meu hino
Nordeste é minha matriz.
O Brasil é minha pátria
Denominada, país.
Aqui meu verso não mente,
Aqui eu digo: oxente!
Aqui eu sou mais feliz...
*
Aqui eu tenho raiz,
Raiz essa que eu zelo.
Zelo esse, que em versos
Eu mostro o que há de mais belo.
Nordeste seco é cinzento
De céu azul opulento,
Molhado, é verde e amarelo...
*
Nem a morte quebra o elo
Entre o Nordeste e eu.
Posso morrer onde Judas,
Até as botas perdeu.
Que eu deixo a minha semente
Plantada em forma de gente
E um pouco do que foi meu.
*
Se a fome não me venceu,
É porque ela sabia.
Que aquele sobrevivente
Cantava ela em verso, um dia.
Ela: a fome foi vencida,
O Nordeste me deu vida
E eu vos dou essa “poesia”.
*
D-eus me deu sabedoria,
A-judou-me em cada teste.
M-aquinou cada estrofe,
I-mperfeita ou inconteste.
A-gora entrego a vocês,
O defensor do Nordeste!
*
Fim.