A LENDA DA "FLOR URBANA E FRÔ FULÔ"
Aqui vou contá uma estória
Quiçá uma luta inglória!
De duas minha "amigas frô".
Me inspirei nas poesia...
De toda lira magia
Afinada e lapidada
Dum grande dotô rimadô!
No Patativa lá do Nordeste
Coração que cantô o Agreste,
Como o drama de toda dô.
Nasceu ele lá no Ceará,
Eu canto aqui e ele cantô lá!
Mas,
Nóis dois nasceu pra chorá.
Ele cantô com genialidade!
Eu...canto só a saudade,
Das coisas lá do seu sertão.
Apenas o homenageio,
Não canto como ele não!
Seu canto é mais que certero
De poeta que sabe o que qué,
Eu ,aqui so só devaneio, sô!
Jamais serei o Assaré.
Sou rima da cidade grande
Rima que já não tem graça,
Qual pássaro que canta ofegante
Na caatinga de toda desgraça,
Descrente de toda fé ,
Entre as nuvem preta do cé.
*
Numa dessas manhãs de invernada
Dos dias que a minha poesia suô
Pelos chãos frio das carçada
A observá o desabrochá das frô,
Enxerguei sob a orvaiada
A mais linda das morada
Dos tanto passarinho cantô...
Que ali se esvaia o encanto
E também todo o pranto
Da flor Urbana e da frô Fulô.
A primeira fugiu prá cidade
Destes home sem conscença!
De terno e sem piedade...
E que com tanta frequença
Mata tudo sem te pudô,
A toda natureza viva
Que com tanto amô realiza
As ordem do Nosso Senhô.
A flor Urbana que nasceu na mata
Tudo tinha de mão bejada!
A beleza e o viço de frô!
Vive hoje entristecida
Entre as árvore desfalecida
Sem pétala e sem guarida!
C'o coração em rancô.
Vê o João de Barro- coitado
Que construiu lá num gaio
A sua tenda batida,
Durmi no luá do relento
Tremendo de frio sob o vento
Casa de terra- destruída
Lá na árvore abatida
Pelos home sem amô!
E os sabiá das gaiola
Em vez de cantá hoje chora
Os bons tempo de primavera,
Que lá no campo florescia
Aonde toda flrô aplaudia
O espetáculo que subia a serra.
Dona flor Urbana relembra
Com seu coração de criança
Que um dia pulsô esperança!
Daquele jardim da fazenda
Que nos cantu da sua lembrança
Hoje é somente uma lenda.
Já frô Fulô sua amiga
Mora nos campo que abriga
Os aroma da felicidade...
Distante de quarqué cidade.
Se casô c'o sabiá -laranjera
Apadrinhados pelo bem-te-vi!
-Que lhes canta a vida intera-
O tudo de bom que há ali.
Os dois dorme lá na parmera
A lembrá da frô passagera
Que hoje esmorece aqui.
Nos dia de domingo na roça
Fulô exala um perfume que roça
Pelos ares da passarada!
Que cheira no ar puro, faceiro
A viajar pelo mesmo rotero
Até a amiga flor da cidade.
Urbana na mesma invernada
Sob a sua poesia suada
Pelas tristeza das carçada
Ainda triste e debalde,
Olha todo o arrabalde
Da cidade abandonada...
Então chera o perfume da mata
Entre os dos home de gravata
O aroma da amiga Fulô.
E sente tanta sardade
Que nehuma flor da cidade
Preenche o coração de Frô.
E a lenda de Frô e de Urbana
Que a ninguém mais engana,
-Aqui a poesia reclama-
É só um armistício de dô.
Nota:
Dedico, como aqui poetei, este cordel ao cordelista Patativa do Assaré, esteja ele aonde ele estiver, que lhe chegue esta homenagem de coração comovido pelo tudo de bom que há na sua maravilhosa poesia, um valioso acervo cultural que ele nos deixou.