Êta meu Deus
26/04/2011
Êta meu Deus
Que eu farço agora?
O gado tudinho morreu
A muié só recrama e chora
Os mininu num tem o que cumê
E esse caboco ta aperriado
A chuva num chega pra essas banda
A terra só bebe o sangue dos desgraçado.
Êta meu Deus
Que eu farço agora?
Num tem mais nem Parma,
O caçula morreu indagora.
Tá uma fartura nesse lugar
Farta água, cumida, trabaio
Inté a casinha parece que vai desabá
Oia por nois probres desgraçado.
Êta meu Deus
Que eu farço agora?
Os home falaro que num tem mais
O que dá de ismola
O prefeito gastou o dinhêro
Em cumida, viaje e carro caro
Num tem mais borsa famia
Vamo tudo morrê seco isturricado.
Êta meu Deus
Que eu farço agora?
As coisa só cumprica e a barriga ronca
É o jêto mermo ir sumbora
Vô prucurá selviço lá pra Sun Palo
Esperá a chuva vortá pro meu sertão
E quando ela praqui rumá
Eu num me faço de abestado não.
Êta meu Deus
Vô isquecê a tristeza e a fome
Que me fizero arribá
E prometê num ir mais pra longe
Prumode essa terra seca e ingrata
É o lugá adonde eu mando e vô mandá
Aqui num tem pratao pra me ofendê
E nem lambe bota pra me aperriá.
Êta meu Deus
Lava logo o céu do meu sertão
Que a sardade tá danada
Sinto uma fome no meu coração
Fome que essa cumida num mata
É sardade daquelas que num desata
E fais brotá água dos oio
Numa dor que cibalena num passa.