Êta meu Deus

26/04/2011

Êta meu Deus

Que eu farço agora?

O gado tudinho morreu

A muié só recrama e chora

Os mininu num tem o que cumê

E esse caboco ta aperriado

A chuva num chega pra essas banda

A terra só bebe o sangue dos desgraçado.

Êta meu Deus

Que eu farço agora?

Num tem mais nem Parma,

O caçula morreu indagora.

Tá uma fartura nesse lugar

Farta água, cumida, trabaio

Inté a casinha parece que vai desabá

Oia por nois probres desgraçado.

Êta meu Deus

Que eu farço agora?

Os home falaro que num tem mais

O que dá de ismola

O prefeito gastou o dinhêro

Em cumida, viaje e carro caro

Num tem mais borsa famia

Vamo tudo morrê seco isturricado.

Êta meu Deus

Que eu farço agora?

As coisa só cumprica e a barriga ronca

É o jêto mermo ir sumbora

Vô prucurá selviço lá pra Sun Palo

Esperá a chuva vortá pro meu sertão

E quando ela praqui rumá

Eu num me faço de abestado não.

Êta meu Deus

Vô isquecê a tristeza e a fome

Que me fizero arribá

E prometê num ir mais pra longe

Prumode essa terra seca e ingrata

É o lugá adonde eu mando e vô mandá

Aqui num tem pratao pra me ofendê

E nem lambe bota pra me aperriá.

Êta meu Deus

Lava logo o céu do meu sertão

Que a sardade tá danada

Sinto uma fome no meu coração

Fome que essa cumida num mata

É sardade daquelas que num desata

E fais brotá água dos oio

Numa dor que cibalena num passa.

Patricia Teixeira
Enviado por Patricia Teixeira em 27/05/2011
Código do texto: T2997865
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