Auto da Ave Maria
PERSONAGENS:
Anjo Gabriel
Maria
José
Menino Jesus
Isabel
Soldado
Hospedeiro
2 Pastores
Gaspar, Melchior e Baltazar
Herodes
Sacerdotes e escribas
Simeão
Cenários: Nazaré, Belém, Jerusalém, Egito.
Cena 1
Gabriel entra na casa de Maria, e diz ao público:
Estando o anjo de Deus
A ter em Vosso louvor,
Partiu Gabriel com graça
Para anunciar o Amor
Antes fora a Zacarias
Prenunciar o Messias
Que João tomou valor.
Depois para Nazaré
Novo destino tomou
De seu lábio, um Menino
A Profecia guardou
E a ua Virgem nazarena
Este arcanjo anunciou:
À Maria:
Ave Maria, ó ave
Gratia plena, ó Senhora
Dominus tecum, Mãe Sacra
Benedicta tu, nest’hora
In mulieribus, ave
Cheia da Graça canora!
Maria Que hás de falar, Senhor,
Sobre essa tal saudação?
Gabriel Não temas, bela Maria,
Tens a Graça em devoção.
O Senhor Deus d’Universo
Te a concede em oração.
Darás a luz um Menino
A quem o Senhor faz jus
E a trazer-lhe a Boa-Nova
Em tal ofício me pus.
E a Ele tu chamarás
Pelo nome de Jesus.
Porque Ele será grande
Na cadeira de Davi,
Cujo Reino deitará
Para além de tudo aqui
E seu fim não chegará
Até que o faça por Si.
Maria Mas como O aguardarei,
Se não conheço varão?
Gabriel O Espírito Santo vai
Em ti lançar sua mão.
E o Filho de Deus virá
Pela tua adoração.
Isabel agora espera
A criança desejada,
Que preparará o mundo
Para a Criança Sagrada.
Pois a Deus tudo é possível
E o impossível é nada.
Maria Eis aqui, ó mensageiro,
A serva do meu Senhor.
Faça segundo a vontade
Que Ele põe com grande amor.
Cena 2
Na casa de José:
José E como pode estar grávida
S’inda guarda sua flor?
Não farei nenhum alarde,
Pois somos da mesma casa.
Deixarei-a com silêncio
E não me porei em brasa.
Adormece.
Gabriel José, filho de Davi,
Não tenhas ua alma rasa.
Maria foi escolhida
Pelo Senhor d’Israel.
Ela a ti sempre tivera
Sido uma mulher fiel.
Maria rebentará
Nosso Senhor Manuel.
José acorda, e diz:
José Assim seja feita a ordem
Que o Senhor já me deseja.
Casarei-me com Maria
Segundo nos diz a Igreja.
Cena 3
Na Casa de Isabel:
Isabel Ora, quem aqui me vem!
Zacarias, venha e veja:
Benedicta tu, nest’hora
In mulieribus, vem
Benedictus fructus, prima
Ventris tui, estás também
Iesu, Madre do Senhor
Que Deus te abençoe. Amém.
Maria Quando ouvi o teu saudar
O Menino se mexeu...
Isabel Bendita tu és, Maria
E o deleite que é só teu.
O Senhor te cumprirá
As coisas que prometeu.
Maria Magnificat, a minh’alma
Anima mea ao Senhor
Dominum et, ó Altíssimo
Exultavit de clamor
Spiritus meus de alegria
In Deo tenho moradia
Salutari meo de Amor.
Cena 4
Em Nazaré, entra um soldado romano, e diz:
Outorgado pelo César
Um decreto imperial
Para o censo de habitantes
Por jurisdição legal
Cada judeu prestará
Em terra patriarcal.
Soldado Tu, de qual tribo que vens,
Ó homem de pouca oferta?
José Eu venho de antigo rei
Do qual hei linha direta.
Chamava-se por Davi,
Que tinha toada certa.
Soldado Então, toma teu jumento
E caminha sem desdém.
Por lá, tu serás contado,
Com tua mulher também.
E mais quem vier do parto
Por lá, no foro de Belém.
José e Maria partem a viajar. Ao chegarem a uma hospedagem, José diz:
José Ó, senhor que desta casa
Já aluga uma hospedagem!
Hospedeiro Diga, meu senhor de andança
Que acá me vem de viagem
José Há alguma vaga própria
Para eu descer a bagagem?
Hospedeiro Meu senhor de andança, não
Tenho nenhum bom lugar...
José Já fui a outros lugares
E também hão em faltar...
Hospedeiro A não ser que na cocheira,
Possam talvez descansar...
Vão até a cocheira. Ao chegar, José diz:
Deite-se, Maria, aqui
E dê uma descansada,
Pois o dia logo vem
Afastando a madrugada
Maria Também descanse, José
Pra que o dia faça nada.
Ambos adormecem. Depois de um tempo, Maria acorda assustada, e diz:
José, ajude-me aqui.
É já chegado o momento
O Senhor Nosso Deus vem
A pedir Seu nascimento
José Em minhas mãos já chora
Deste mundo o seu Rebento!
José, com Jesus nos braços, elevando-o, diz:
Ecce Agnus Dei, Jesus!
Não estamos mais a sós,
Pois o Senhor encarnado
Vive no meio de nós!
Eis o Rebento que vem
Desatar todos os nós!
Cena 5
Nos campos:
Gabriel Gloria in altissimi, Glória
Deo, ao Senhor glorioso
Et in terra pax, não guerra
In hominibus amoroso
Bonae voluntatis dá-nos
Com vosso amor quão piedoso!
Sigam, sigam, bons pastores!
Um Pastor maior rebenta
Para guardar sua ovelha,
Cujo rebanho apascenta.
O seu cajado guiará,
Pois a tudo Ele fomenta!
1º Pastor Mas onde chora o Rebento
Para podermos levar
O pouco de nosso dia
Como quem vai adorar?
2º Pastor Diga-nos esse caminho
Para podermos andar.
Gabriel Sigam a Estrela bendita
Que apenas por hoje está,
Marcando a noite com luz
Ao Homem que vem de lá.
Pastores Seguiremos este brilho
Que nos guia desde cá.
Cena 6
No palácio de Herodes:
Gaspar Uma Estrela nos conduz
Com sua fronha brilhante.
Melchior Vem cruzando além dos signos
Com tracejado constante.
Baltazar E diz que o Rei dos judeus
Já rebentou triunfante.
Saem os magos.
Herodes Sacerdotes mais escribas,
É o Cristo que nos vem?
Digam-me como poder
Encontrar esse neném.
Sacerdotes e Escribas As Escrituras nos dizem
Que nascerá em Belém.
Herodes Um Rei que vem até nós
Sem o trotar de um cavalo?
Sigam atrás dessa Estrela
E logo após encontrá-Lo,
Voltem a Jerusalém
Pois também quero adorá-Lo.
Cena 7
Na cocheira:
Gaspar Nesta simples paragem
Uma grande Estrela descansa.
Melchior Maior que a D’alva ou do Sírius,
Que nos guiou em andança.
Baltazar Permitam que cortejemos
Tão honorável criança!
Gaspar Trago do meu Oriente
Ouro para a Majestade.
Melchior Trago do meu Oriente
Incenso com caridade.
Baltazar Trago do meu Oriente
Mirra prum Rei de verdade.
Cena 8
No palácio de Herodes:
Herodes Soldados, partam agora
Vão a Belém por marchar
Matem os bebês de colo;
Todos a quem encontrar.
Apenas um rei existe
Para Israel governar!
Cena 9
Na cocheira, Maria e José estão dormindo. O anjo Gabriel fala com eles:
Belém já não é segura
A morte Herodes tem dito.
Fujam daqui desde já
Pelo Menino bendito.
Sigam o caminho certo
Para levá-Lo ao Egito...
Maria e José levantam-se, pegam seus pertences e o Menino.
Cena 10
Gabriel entra a explicar seguinte cena:
Tendo passado algum tempo,
O rei Herodes morrera.
Assim, Nosso Senhor Deus
Por nenhum tempo perdera...
Então irei avisá-los
Sobre o que se sucedera...
Para José que está dormindo:
José, ao acordar, segue
O teu mais novo caminho.
Mortos já estão aqueles
Que queriam o daninho.
A Nazaré tomem rumo
Sem tropeçar em espinho.
Maria e José levantam-se, pegam seus pertences e o Menino.
No trajeto, levam o Menino para o templo. Eis que surge Simeão que toma Jesus nos braços, e diz:
Senhor Deus, eu, Simeão,
Vos seguirei com a paz.
Meus olhos viram Aquele
Cuja luz nos é vivaz.
Que todas as nações vejam
O Seu desejo sagaz!
Simeão entrega Jesus a José, e olhando para Maria diz:
Maria, Jesus trará
Paz, queda e contradições
Para que seja mostrado
O que há nos corações.
E uma espada ferirá
Tu’alma, Mãe das nações!
Gabriel, que estava a observar a cena, vai ao centro do palco, e diz:
Quando Jesus redimia
Nossos pecados na cruz
Para valer-se da luz,
Que em seu coração havia,
Olhando João e Maria,
Lhes disse por conta sua:
“Aí está a mãe tua”
“Aí está o teu filho”
E nós, com esse estribilho,
Amamos verdade crua!
A Ave Maria fiz
E Isabel complementou
A Tradição a tomou
Como Jesus nos bem diz.
Dancemos som de raiz
Como os primeiros cristãos
Demo-nos todos as mãos
A rogar com mais fervor
Rezar é prova de amor
E faz de nós mais irmãos.
Os personagens formando uma meia-lua, rezam uma Ave Maria, em português ou em latim:
Ave Maria, Gratia plena,
Dominus tecum
Benedicta tu in mulieribus
Et benedictus fructus ventris tui Iesu.
Sancta Maria, Mater Dei,
Ora pro nobis, peccatoribus,
Nunc et in hora mortis nostrae. Amen.
Pano.
Recife, 02 de setembro de 2010.