TRISTE FIM DO BODEGUEIRO
A prateleira vazia
O balcão todo rachado
O bodegueiro calado
Sem nenhuma freguesia
Já é quase meio dia
O que vendeu foi fiado
O caderno abarrotado
De venda a fundo perdido
Com seu lucro decaído
Logo, logo, tá quebrado
A mercadoria vencida
O gorgulho toma conta
Rato lá, morada monta
Nessa bodega esquecida
Produtos não tem saída
Só se fala em carestia
O sustento da familia
É aquela indecisão
Só conversa no balcão
Dominó e água fria
Bodegueiro bem sentado
Esperando um comprador
Um rádio bem chiador
À pilha, todo emendado
Na cantoria concentrado
Um momento de emoção
Seu olhar, sua expressão
Comove qualquer vivente
Só mesmo um belo repente
Pra alegrar seu coração
As telhas enegrecidas
Por lamparinas de gás
Naqueles tempos atrás
Hoje, foram esquecidas
As paredes coloridas
Com foto da eleição
Bem junto ao pé do balcão
A fedentina é medonha
O "BEBO" não tem vergonha
Só cospe se for no chão
A balança FILIZOLA
Há tempos, enferrujada
Ela não pesa mais nada
Sem ponteiro, sem argola
Guardada numa sacola
Servindo só de lembrança
Aquela velha balança
Vive só no abandono
Junto com seu velho dono
No mundo sem esperança
Triste fim do bodegueiro
Que não se modernizou
Tudo no mundo mudou
Ele perdeu o roteiro
Já não ganha mais dinheiro
De ramo tem que mudar
Ou quem sabe se adaptar
Pois o tempo não perdoa
Ele não anda, só voa
O jeito é modernizar