TRISTE FIM DO BODEGUEIRO

A prateleira vazia

O balcão todo rachado

O bodegueiro calado

Sem nenhuma freguesia

Já é quase meio dia

O que vendeu foi fiado

O caderno abarrotado

De venda a fundo perdido

Com seu lucro decaído

Logo, logo, tá quebrado

A mercadoria vencida

O gorgulho toma conta

Rato lá, morada monta

Nessa bodega esquecida

Produtos não tem saída

Só se fala em carestia

O sustento da familia

É aquela indecisão

Só conversa no balcão

Dominó e água fria

Bodegueiro bem sentado

Esperando um comprador

Um rádio bem chiador

À pilha, todo emendado

Na cantoria concentrado

Um momento de emoção

Seu olhar, sua expressão

Comove qualquer vivente

Só mesmo um belo repente

Pra alegrar seu coração

As telhas enegrecidas

Por lamparinas de gás

Naqueles tempos atrás

Hoje, foram esquecidas

As paredes coloridas

Com foto da eleição

Bem junto ao pé do balcão

A fedentina é medonha

O "BEBO" não tem vergonha

Só cospe se for no chão

A balança FILIZOLA

Há tempos, enferrujada

Ela não pesa mais nada

Sem ponteiro, sem argola

Guardada numa sacola

Servindo só de lembrança

Aquela velha balança

Vive só no abandono

Junto com seu velho dono

No mundo sem esperança

Triste fim do bodegueiro

Que não se modernizou

Tudo no mundo mudou

Ele perdeu o roteiro

Já não ganha mais dinheiro

De ramo tem que mudar

Ou quem sabe se adaptar

Pois o tempo não perdoa

Ele não anda, só voa

O jeito é modernizar

Poeta de Branco
Enviado por Poeta de Branco em 20/05/2011
Reeditado em 04/06/2011
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