Perdido

Sextilhas:

As palavras não conseguem

penetrar meu coração...

Sejam boas ou ruins,

ele sempre diz que não

e eu me vejo tão perdido,

tão sozinho à escuridão.

Já disseram para mim:

O poeta é muito intenso!

Mas o vate quando quer

ir além, voar, suspenso

em lembranças e em desejos,

ele fica todo tenso.

E quem vai querer saber

de um poeta, morto, triste,

que não vê a luz do dia,

faz de conta que resiste

sendo um homem impotente

que a paixão já não existe?

E quem vai acreditar

que os meus prantos são noturnos?

Basta olhar para estes olhos

para ver que são soturnos,

pois se foi minha alegria

pra chegar os novos turnos.

Turnos densos, diabólicos,

vão fechando quaisquer portas,

prolongando as minhas dores

e secando as minhas hortas

porque vivo os dissabores

das minhas quimeras mortas.

Bate em mim um desespero,

a grande desesperança...

Mas eu vejo nos sorrisos

a real aventurança

que se foi na adolescência

e meus tempos de criança

que um Alguém Onipotente

quer me dar a sua mão,

quer me dar a sua paz,

alegria, sua bênção,

graça, força, luz, virtude

e também o seu perdão.

Mas no luto onde eu estou

não consigo ver a luz,

o caminho é muito escuro,

mas ninguém mais me conduz

e não sei pra onde vou

se a ferida ainda tem pus...

Só se for misericórdia!...

De um amor tentacular

pra tirar-me deste abismo

e me dar a salutar

salvação de que preciso

pra livrar a jugular.

Nada mais do mundo espero

a não ser a dor que inunda

a minha alma sofredora

que carrega na corcunda

uma cruz muito pesada,

e o meu pranto tudo inunda.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 17/05/2011
Código do texto: T2975014
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.