Perdido
Sextilhas:
As palavras não conseguem
penetrar meu coração...
Sejam boas ou ruins,
ele sempre diz que não
e eu me vejo tão perdido,
tão sozinho à escuridão.
Já disseram para mim:
O poeta é muito intenso!
Mas o vate quando quer
ir além, voar, suspenso
em lembranças e em desejos,
ele fica todo tenso.
E quem vai querer saber
de um poeta, morto, triste,
que não vê a luz do dia,
faz de conta que resiste
sendo um homem impotente
que a paixão já não existe?
E quem vai acreditar
que os meus prantos são noturnos?
Basta olhar para estes olhos
para ver que são soturnos,
pois se foi minha alegria
pra chegar os novos turnos.
Turnos densos, diabólicos,
vão fechando quaisquer portas,
prolongando as minhas dores
e secando as minhas hortas
porque vivo os dissabores
das minhas quimeras mortas.
Bate em mim um desespero,
a grande desesperança...
Mas eu vejo nos sorrisos
a real aventurança
que se foi na adolescência
e meus tempos de criança
que um Alguém Onipotente
quer me dar a sua mão,
quer me dar a sua paz,
alegria, sua bênção,
graça, força, luz, virtude
e também o seu perdão.
Mas no luto onde eu estou
não consigo ver a luz,
o caminho é muito escuro,
mas ninguém mais me conduz
e não sei pra onde vou
se a ferida ainda tem pus...
Só se for misericórdia!...
De um amor tentacular
pra tirar-me deste abismo
e me dar a salutar
salvação de que preciso
pra livrar a jugular.
Nada mais do mundo espero
a não ser a dor que inunda
a minha alma sofredora
que carrega na corcunda
uma cruz muito pesada,
e o meu pranto tudo inunda.