A obra da praça
Voltando do serviço
Assisti um reboliço
Tal carne de ouriço
Muita farpa e espinho
O povo em burburinho
Começava a arruaça
Se tem fogo, tem fumaça
Olha aqui, Sr prefeito
Vê se arrume um efeito
De nos devolver a praça
O prefeito assustado
E com o rosto suado
Ouvia tudo calado
Em meio a betoneiras
Arames e britadeiras
Muita areia pelo chão
Massa no carrinho de mão
E a obra nunca acaba
Essa gente fica braba
Querendo explicação
Uma dona agitada
De idade avançada
Que adora caminhada
Ficou sem a opção
De andar no calçadão
- Olha só a buraqueira
Ta igual a uma peneira
Agora eu enferrujo
Com esse canteiro sujo
Parecendo uma lixeira
Agora é minha vez
Disse o velho português
Que jogava um xadrez
Todo dia lá na praça
Falou em tom de pirraça
- Dei um voto para ter
Um pouquinho de lazer
Pago todo o imposto
Não mereço o desgosto
Cumpra já o seu dever
Mas nessa sacanagem
Há quem tire vantagem
E não perdem viagem
É o que pensa a menina
Que trabalha na esquina
Nada é boa a sua fama
Da noite ela é a dama
- Não usarei queixumes
Aproveito os tapumes
Quando rola um programa
E com tanta discussão
Sem haver uma solução
O prefeito fanfarrão
Viu dar a sua hora
E no carro foi se embora
Pra beber vinho na taça
Com uma bela loiraça
Vendo o povo pelas costas
Suplicando por respostas
Dessa bendita praça
Causou me estranheza
Tamanha indelicadeza
O ato de “vossa alteza”
Coisa que não convém
Tratamento de desdém
Renegando sua raça
Ficará sujo na praça
Nunca vamos esquecer
Esse abuso de poder
Essa piada sem graça