A CASA DA LUZ VERMELHA
A CASA DA LUZ VERMELHA
Thereza Poesia
Vou relatar uma história -A
Que aconteceu no sertão -B
No dia da procissão -B
Da festa de Santa Honória -A
Se não me falha a memória –A
Quinca ,de Zé Severino -C
Caboclo feio e franzino -C
Veio da roça à cidade -D
E eu vou contar a maldade -D
Que fizeram com o menino -C
Dona Zefa comprou pano
Fez roupa nova e bonita,
Uma camisa de chita
Chapéu de palha de abano,
Sapato paraibano
Comprado em dez prestação
Fez toda a combinação
Pra vir na festa da Santa
A alegria era tanta
Que não cabia no chão.
Quinca na frente , sentado
Entre a mãe e o seu pai
O jumento cai não cai
Ia morto de cansado,
Numa carroça atrelado
Já prestes a exaustão,
Na cidade o foguetão
Anunciando a festança
Homem, mulher e criança
Numa grande animação.
Teve quermesse e novena
Banda tocando na praça,
Dança no clube , de graça
Mulher bonita e morena,
Dona Zefa, mas serena,
Se limitou a rezar
Mas mandou o pai levar
Quinca para espairecer.
-Leva , pro mode ele ver
Tudo o que a cidade dá!
Sem se fazer de rogado,
Na mão de Quinca pegou,
Por entre o povo escapou
E foi no caminho errado,
Falou-Tu táis precisado,
E hoje eu vou te mostrá
Vou te levá num lugá
Que a mãe num pode sabê
Pra mode tu aprendê
O que mulé tem pra dá.
Diante dessa alusão
Já foi ficando com medo,
Não gostava de segredo
Nem de adivinhação,
Ao pai perguntou então,
-e esse lugá, qualé?
-Na casa de uma mulé
Mai veia e insperiente
Vai fazer tu virá gente
Como outo home quaiqué.
Entraram num beco escuro
Ao longe viram a centelha,
Era uma luz vermelha
Brilhando em cima de um muro,
Na frente tinha um monturo
Com uma placa enterrada
Dizendo:ENTRE, MOÇADA
BENVINDO A CASA DE DRINKS
QUE SÓ TEM MULHER NOS TRINKS
PRA ATENDER A HOMARADA!
O pobre Quinca parou
Feito um jumento empacado
E no antro do pecado
Não quis entrar, estacou.
Mas o pai o empurrou:
-entra aí pra virá macho
Ajeita a cara de tacho
Que a dona é minha amiga,
É a melhor rapariga
Para fazer teu despacho.
Uma mulher semi nua
Na porta os foi receber
E Quinca sem perceber
Já tinha deixado a rua,
Fixou-se na perua
Que lhe cercava dengosa,
Se engabelou pela prosa
E se envolveu pelo laço...
-Eu vou tirar seu cabaço!
Prontificou-se fogosa.
Levou o pobre coitado
Ainda na puberdade
Sem nenhuma afinidade
Para um quartinho apertado.
O menino abestalhado
Nem disse não e nem sim
Sem saber se estava a fim
Viu-se na cama deitado
Como um bezerro domado
Explodindo o seu florim.
Quinze minutos passado
Saiu com a rapariga
Se tivesse numa briga
Não estava tão assado,
O corpo todo amassado
Demonstrava-lhe a pendenga
De braço dado com a quenga
Estava alegre e contente,
Pois ganhara de presente
A liberdade da benga!
Era assim antigamente
Nas bandas do meu sertão.
O homem pra ser machão,
Considerado valente,
Tinha de ser conivente
Com o costume do lugar,
O próprio pai a levar
O filho no cabaré,
Para conhecer mulher
E se fazer respeitar.
Arrancavam a inocência
E mergulhavam na orgia
Somente o homem podia.
Mulher tem que ter decência
Mas vejam que imprudência
Nesse tempo acontecia
Enquanto prevalecia
Ignorante estupor
Arrancavam sem amor
O que só amor queria.