Sem senhor e sem anéis
Era um lugar com dois povos
Os povos do norte e os povos do sul
O sul dos nobres, o norte pobre.
A gente humilde e os de sangue azul
Mas em que pesassem as suas carências
Os pobres tinham os seus notáveis
Gente de fibra que persistente
Driblava a sina de indigente
Fazia dia de suas noites
De alegria os seus açoites
A agonia é com seus botões
A roupa suja é nos seus grotões
Exercitavam as suas vertentes
De serem gente algo diferente
Eram temidos pelos seus feitos
Podiam, ricos, serem perfeitos
Os abastados, ricos sulistas,
De egoísmos e grossas vistas
Corporativas concepções
De intransitivas convicções
Com os seus ditames regiam tudo
Não concebiam contestação
A história sempre lhes conferira
Absoluta dominação
Nem precisavam de seus notáveis
Para validar sua posição
Simples menção de sua linhagem
Autenticava a perpetuação
Mas eis que um dia de tantos outros
Percebera-se sutil mudança
Nada que alguém do sul não notasse
Nem que aos do norte fosse esperança
Foram chegando de mala e cuia
Certos nortistas desavisados
E se infiltrando nas cercanias
E pontilhando o sul de pecado
Eram bagagens de muitas cores
Disseminando subversão
Eram panelas de mil sabores
Que provocavam degustação
E quando menos se esperou
Alguém dos pobres se arvorou
Aglutinando para o seu lado
Forças da horda inconformada
E a balança, antes pendente
Equilibrou-se incontinente
Foi produzindo, por sua vez
Um sincretismo pobre / burguês
Contribuindo com a verdade
De que eram povos de qualidade
Só não sabiam o seu caminho
Só não podiam crescer sozinhos
E um futuro já começou
De um povo que se conscientizou
Foram mesclando-se em harmonia
E estabelecendo a cidadania