EMENDANDO OS BIGODES

Miguezim de Princesa

I

Acabou-se aquele tempo

Do namoro na janela,

Do cabra se arrepiar

Só de olhar a canela

E ficar desengonçado

Fazendo um curruchiado

No pescoço da donzela.

II

Hoje o rapaz se agarra

Com uma morena aprumada,

Chumbrega mais de meia hora

No batente da calçada

E, na hora da partida,

Nem mexe a desmilinguida

E a gente não vê é nada.

III

Moço na flor da idade

Tem de se analisar:

É um tal de requequé,

Etcétera e coisa e tá.

E, na hora do moído,

Haja tomar comprimido

Para poder suportar.

IV

Casa só para atender

A um temor filial,

Dar uma satisfação

E dizer que é “normal”,

Mas enjoou da peteca,

Vive a pentear boneca

Lá no fundo do quintal.

V

Quando vê uma menina,

Faz o maior elogio:

Diz que é linda e que é gata

E só pode estar no cio,

Porém, ao ver um malhado,

Fica todo agoniado

Tomado por arrepio.

VI

Ele é adepto do amor

Que nega dizer o nome:

Seja ele ou seja ela,

Esteja farto ou com fome,

Mente pra sociedade,

Que não tolera a verdade

Que a fogueira consome.

VII

Veio agora a decisão

Do Supremo Tribunal:

Se Esther adora Bruna,

José escolheu Cabral,

A rejeição do contrário

Abriu a porta do armário,

É o maior carnaval.

VIII

Eu conheço um grande artista,

Que está andando de conga

E gosta de difamar

Quem não admite ponga,

Dias depois de ficar broxa

Passou a usar galocha

E transar com araponga.

IX

O governo é sensível

Com essa mistura fina:

Já mandou para o Congresso

Uma emenda cristalina

De mais de R$ 15 milhões,

Garantindo pros machões

Uma Bolsa-Vaselina.

X

A guerra sexual

Foi transmitida de I-pod:

Separaram homem e mulher,

Cabra nunca mais viu bode,

Pasta deu tchau pra sacola,

Mulher juntou as calçolas,

Homem emendou os bigodes.

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 06/05/2011
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