UM TRISTE CENÁRIO

Dói ver gente com fome

nesse país de fartura

muitos comendo lixo

nas mãos da amargura

o choro manchando a face

num rincão onde nasce

milho, feijão e doçura

É triste começar o dia

sem nada para comer

o semblante só declina

os olhos não querem ver

a boca fica vazia

com fome a mão esfria

melhor não amanhecer

Você vê o horizonte

e fica imaginando

as voltas que o mundo dá

aí,então, matutando,

nota que não tem sonho

é só mero ser bisonho

que a fome tá matando

Assim, desconcertado,

sem rumo feito zumbi

pó que o vento levanta

casca de abacaxi

é mais um dia de fome

um mendigo sem nome

que nunca irá sorrir

Quem tem pena de você

a figura esquecida

a mosca pisoteada

a sombra esmaecida

a floresta devastada

a fogueira apagada

a roupa toda puída?

A comida que lhe falta

sobra no lar do rico

vira resto de lixo

e resquícios no penico

lá ele tem fartura

mas você, na penúria,

é Zé, é Severino, é Chico

É triste esse cenário

lembra filme de terror

porque fome é horrível

é total falta de amor

parece tempestade

destruindo a cidade

provocando morte e dor

Por que a desigualdade

se somos todos iguais?

Mas o pobre é esquecido

nas convenções sociais

ninguém lhe dá atenção

é resto jogado ao chão

capacho dos maiorais

Nas esquinas pedintes

clamando por esmola

pelas ruas crianças

sem o norte da escola

todos passando fome

são figuras sem nome

riscos toscos da sola

Folhas farfalham tristes

aves cantam chocadas

nuvens se desencantam

com chuvas arrasadas

até a brisa lamenta

a terra não apascenta

bocas desamparadas

São eles nossos irmãos

conforme a cristandade?

Por que damos as costas

ao amor e à caridade?

Se nós pregamos amor

acabemos com o horror

da fome na cidade

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 05/05/2011
Reeditado em 06/05/2011
Código do texto: T2950086
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