Dura Mentora
"É a dor que ensina a gemer." Provérbio popular.
Sonolento, inda não durmo
Na aflição do meu viver,
A amargura que carrego
Aqui dentro do meu ser
Não é dúbia, me tortura
E não me deixa morrer!
Uma dor que nunca sangra,
Que perturba a minha mente...
Coração vive pungido
Neste vácuo tão silente,
Tão escuro, tão soturno
E eu vivo só simplesmente.
Procurei o ledo amor
E do amigo o doce ombro
E dos dois só recebi
O desdém; senti o assombro
Destas lágrimas pungentes
Que derramo neste escombro.
Não me peçam mais sorrisos,
Muito menos pra cantar,
Pois as ondas mais bravias
Me afundaram neste mar,
Destruíram minha vida
E eu não posso mais lutar.
Se de amor nós não morremos,
Só ficamos o bagaço...
Eu diria que é mentira
Do poeta ou poetaço!
Pois eu sinto aqui no peito
Que feneço por pedaço.
Um amor partiu pra longe...
Todo mar se embraveceu!
Tive sorte em outro amor
Que o meu peito preencheu,
Mas a parte fenecida
Nunca mais apareceu.
Este amor que preencheu
O meu ser de gozo e paz
Me largou sem ombro, em prantos
E se foi pra nunca mais,
Em meu peito só restou
Um abismo negro, edaz.
Hoje eu sou marujo só
Numa noite sem botão,
Sem estrela cintilante,
Sem afago de uma mão
Que me toque o corpo frio
Pra aquecer meu coração.
Cada amor que vai embora,
Coração sofre um enfarte,
O meu barco logo afunda
E eu evoluo em minha arte,
Mas jamais irei negar
Que vou morrendo por partes.
Esta dor é uma mentora
Que me força a aprender
Abatendo a minha vida,
Coração para valer
Numa astúcia torturante
E não me deixa morrer.