Dura Mentora

"É a dor que ensina a gemer." Provérbio popular.

Sonolento, inda não durmo

Na aflição do meu viver,

A amargura que carrego

Aqui dentro do meu ser

Não é dúbia, me tortura

E não me deixa morrer!

Uma dor que nunca sangra,

Que perturba a minha mente...

Coração vive pungido

Neste vácuo tão silente,

Tão escuro, tão soturno

E eu vivo só simplesmente.

Procurei o ledo amor

E do amigo o doce ombro

E dos dois só recebi

O desdém; senti o assombro

Destas lágrimas pungentes

Que derramo neste escombro.

Não me peçam mais sorrisos,

Muito menos pra cantar,

Pois as ondas mais bravias

Me afundaram neste mar,

Destruíram minha vida

E eu não posso mais lutar.

Se de amor nós não morremos,

Só ficamos o bagaço...

Eu diria que é mentira

Do poeta ou poetaço!

Pois eu sinto aqui no peito

Que feneço por pedaço.

Um amor partiu pra longe...

Todo mar se embraveceu!

Tive sorte em outro amor

Que o meu peito preencheu,

Mas a parte fenecida

Nunca mais apareceu.

Este amor que preencheu

O meu ser de gozo e paz

Me largou sem ombro, em prantos

E se foi pra nunca mais,

Em meu peito só restou

Um abismo negro, edaz.

Hoje eu sou marujo só

Numa noite sem botão,

Sem estrela cintilante,

Sem afago de uma mão

Que me toque o corpo frio

Pra aquecer meu coração.

Cada amor que vai embora,

Coração sofre um enfarte,

O meu barco logo afunda

E eu evoluo em minha arte,

Mas jamais irei negar

Que vou morrendo por partes.

Esta dor é uma mentora

Que me força a aprender

Abatendo a minha vida,

Coração para valer

Numa astúcia torturante

E não me deixa morrer.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 04/05/2011
Reeditado em 07/05/2011
Código do texto: T2947953
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